domingo, 5 de abril de 2009

Os Tamarindeiros da Barra

Oliveiros Guanais de Aguiar

No calçadão do Instituto Mauá, no Porto da Barra, havia dois imensos tamarindeiros. Eram belos gigantes vegetais, irmãos gêmeos resistindo às mudanças da cidade. Numa noite de tempestade, um raio desceu com violência e partiu um deles de cima a baixo, deixando duas bandas no chão. Foi uma pena e todos sentiram a morte da grande árvore, e talvez quem mais sentiu foi a companheira que lá ficou solitária, tendo assistido à tragédia que se abateu sobre sua irmã. ( Será que as árvores têm sentimentos? Talvez tenham.)
Dias depois do ocorrido, alguém [certamente de algum serviço da prefeitura, gestão 1993-1997] plantou uma mudinha de tamarindeiro no lugar em que vivera o que foi despedaçado. E como eu passo por lá quase todos os dias, vi a arvorezinha crescendo lentamente, numa vontade irresistível de viver. O tempo foi andando, houve mudança no comando da prefeitura, e a corrente que assumiu pertencia àquela linha que destruía tudo o que havia sido feito por adversários. Mas quem ia notar uma plantinha tenra, tão insignificante como aquela? E foi assim, por ser quase invisível, por não ter importância alguma - na opinião de muitos-, que ela sobreviveu, protegida por sua humildade. E foi crescendo, para ocupar o lugar de uma árvore centenária que um raio em fúria destruiu mas que tinha de renascer, porque o solitário tamarindeiro preservado precisava de sua réplica, porque eram eles símbolos vegetais do Porto da Barra antigo. E foi o que aconteceu. Hoje, passados mais de doze anos, o tamarindeiro novo está grande e viçoso, já tem fronde, já é árvore, ainda adolescente mas promissora, dando exemplo do que pode a vontade humana, que muitas vezes se debate com as forças da natureza, ora vencendo, ora sendo vencida. A desgraça provocada pelo raio poderia ser o fim daquela dupla de árvores gigantes, atalaias daquela pracinha, mas alguém acreditou num recomeço, e deu certo. O tamarindeiro novo dentro de pouco tempo estará igual ao velho companheiro que esperou por ele.


Salvador, janeiro de 2006
Oliveiros Guanais

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