Almir Santos
Não faz muito tempo era uma rua de tranqüilos moradores, poucas casas, poucos prédios. Hoje abriga algumas dezenas de estabelecimentos comerciais e de prestação de serviço. Situada na Pituba, cresceu com o bairro e com a cidade guardando, entretanto, um gostoso sabor provinciano. Pituba, um dos maiores bairros de Salvador. Um loteamento cujo projeto foi elaborado pelos consagrados engenheiros Teodoro Sampaio, Felinto Melo e Saturnino Brito. Uma planta datada 1938 previa uma grande avenida à beira mar entre Amaralina o atual Posto Esso. No governo Octávio Mangabeira, quando grandes obras foram realizadas para a comemoração do 4.° centenário da Cidade do Salvador, como o Fórum Rui Barbosa, Hotel da Bahia e Avenida Centenário, decidiu-se pela construção, através do DERBA-Departamento de Estradas de Rodagens Da Bahia, de uma nova via de acesso à Base Aérea e ao então Aeroporto de Ipitanga. É a atual avenida Octávio Mangabeira. Seu primeiro quilômetro foi justamente inaugurado nessa época. O nome dos estados dados às ruas nasceu com o projeto do loteamento. Também os territórios de Rio Branco e Guaporé e criados em 1943, foram contemplados com nomes de logradouros. Posteriormente esses territórios ganharam novos nomes Rondônia, Roraima respectivamente em 1957 e 1962. O Rio Grande do Norte, entretanto, é o único estado da federação que não está homenageado no bairro da Pituba. Isso porque, com a construção da estrada Amaralina-Aeroprto, a rua em frente a antigo clube Português, que era chamada Rio Grande do Norte, foi incorporada à nova via. Outro fato que ocorreu, foi que nesse primeiro trecho a via construída tinha sete metros mais acostamentos. Os proprietários dos imóveis avançaram em massa seus gradis até o limite do acostamento incorporando assim uma boa área aos seus lotes constituindo-se dessa forma uma grande invasão do colarinho branco que se consolidou.. Com isso esse trecho que viria se transformar em uma ampla avenida foi prejudicado. A Pituba não teve pavimentação até o fim dos anos sessenta, quando um grande projeto de contribuição de melhoria foi executado, pavimentando todas as suas ruas. A partir daí a Pituba deslanchou. O loteamento original serviu de embrião para inúmeros outros loteamentos que, hoje formam um bloco único e consolidado. Há dezenas de agências bancárias, hotéis, luxuosos prédios residências, colégios, faculdades, concessionárias e locadoras de veículos, supermercados, farmácias etc. Na rua Minas Gerais, todavia, não há nenhuma agência bancária, prédios de luxo ou hotéis cheios de estrelas, mas um intenso calor humano. É a rua dos drinks ao meio-dia e dos bate-papos regados a cerveja nos fins de tardes e princípios de noites. Dorme cedo, mas vive intensamente o dia. Seus usuários são fiéis e ecléticos: comerciantes, advogados, engenheiros, médicos, bancários, juizes, políticos, delegados, ex-jogadores de futebol etc. É a rua dos mercadinhos, das loterias, do pequeno shopping, do jogo de bicho, dos consertos de eletrodomésticos, do sebo, dos livros, jornais e revistas, do alfaiate, do salão de beleza, do barbeiro, do engraxate, do borracheiro. Dos vendedores de camarões, peixes, temperos. Dos quibes, acarajés, comida caseira, sorvetes, amendoim, queijo coalho, água de coco, frutas e mingaus, Dos peixes, camarões, lambretas e caranguejos. Das variadas carnes de qualidade desde a madrugada Dos materiais de construção e das rações, Das lanchonetes e muitos bares. Ah! Muitos bares! Djalma’s Drinks, Tio Medrado, Porto Futuro, Bar do Milton, Kana Kaiana, Rei da Carne do Sol, Tijuana, Pedaço Paulista são os principais. Neles fala-se de política, de futebol, comenta-se o Fantástico, fala-se da vida dos outros, sem se falar mal de ninguém. Pra repor as energias ainda existe a Sorveteria Artufo. Entres os seus assíduos freqüentadores está o pessoal do DERBA: Afonso, Zé Reis, Roberto Santana, Carlos Alberto, Helinho Costa e Renato Lins. O irreverente Heitor Portugal, que tem cada dia da semana para beber com determinado grupo. Alguns sumiram, mas todas as pessoas que por ali passaram deixaram suas marcas. Cadê vocês? Rodamilans e suas gozações, do circunspeto Souzinha, Arlindo, Lira, Borges, Rogério, Vítor, Rui Tanus, Gil, Alda, Tânia, Zé Fantasma, Zé Eduardo, Boca, Carlos Augusto, Benjamim, Paulino Irujo, Paulinho Almeida, um outro Paulinho, Magalhães, Gontran. Cadê vocês? Outros continuam firmes usuários. Milton, Bené, Queiroz, Borba, Raimundo barbeiro, Agnaldo, Raimundo do bar Luciano, Brasil, Eduardo, Taner, Edmilson, Luizinho Bacelar, Zé Teixeira, Bueno, Flaviano, Góis, Barabadá, Cláudio. A argentina que vende incenso. Ari da barraca e suas desencontradas histórias sobre a Pituba, morador pitubano há 53 anos. Risadinha, o vendedor de queijo coalho mais antigo da área. Começou menino. Mas há os que nos deixaram definitivamente: Danilo, Raimundo Beija-Flor, Medrado, Rui, Caria, Paulinho Povoas, Tote, Djalma e o mágico quase centenário, que ainda ganhava uns trocados tirando a pombinha da cartola. Alguns bares também deixaram saudades: O Popular, Tocaia Grande, O Limão, Novo Limão, Siri Patola, Vileta. É uma rua de “boêmios diurnos”, onde até segunda-feira parece uma festa. Nela, todos se conhecem, todos se cumprimentam. São apenas 900 metros de rua de amigos em permanente confraternização. Anda-se muito a pé, cresceu sem se descaracterizar. É a rua mais gostosa da Pituba.
Olá, posso utilizar seu texto em um trabalho acadêmico sobre a rua Minas Gerais? Colocarei créditos.
ResponderExcluir- Isabella