Fernando da Rocha Peres
Foram necessários oito anos e meio, muito trabalho e desgastes burocráticos para a construção do Espaço Unibanco de Cinema/ Glauber Rocha, na Praça Castro Alves, em Salvador, aberto ao público em 19 de dezembro de 2008. Recordando a história do cinema na Bahia, a terra do “já teve” ou do “impossível acontece”, está ocorrendo um fato, pouco conhecido dos eleitores soteropolitanos, que é a possível e premeditada inviabilidade do recém-inaugurado espaço de entretenimento e lazer. Xibança igual só na Bahia. Ali, na Praça do Poeta, em 1919, existiu uma casa de espetáculos e cinema denominada Kursaal Bahiano (do alemão: sala para apresentações sociais), que o Jornal da Manhã, em 1920, por consulta e votação popular, fez mudar o nome para Cine Teatro Guarany. Vejam que exemplo democrático. Até 1949, os espectadores afluíam com frequência para ver os grandes astros e o noticiário da cinematografia mundial. Durante seis anos, o Guarany esteve fechado e só reabre, festivamente, com a exibição de O Manto Sagrado, em 1955.Após um longo período de vigência e lugar de referência, o Guarani, agora sem o “y”, entra em nova decadência, é fechado em 1998, arruinado fica por muitos anos, mas renasce da sujeira e do lodo com a nova proposta de quatro salas para exibição,uma livraria (Galeria do Livro), uma lanchonete, uma bombonière e, em breve, um restaurante. Nesta sua nova fase, de três meses e meio, como Espaço Unibanco de Cinema/ Glauber Rocha, já começaram as dificuldades com o poder municipal, que está impedindo o estacionamento ao lado e em frente do empreendimento, que só tem a acrescentar no entorno de uma área, no ex-centro dito “histórico” e carunchoso de Salvador. Nas três últimas semanas, março/abril, a queda diária de frequentadores é de 70 por cento, tendo chegado a mil e quinhentas pessoas só aos domingos, o que não mais ocorre após a proibição de estacionar automóveis. Diante desta evidência, o grupo Unibanco já cogita fechar o Espaço Glauber Rocha. Se isto acontecer, vai ser um despautério dos diabos, com repercussão nacional, pois não há ilegalidade no estacionamento, mas só capricho de quem não faz nada. Aliás, é preciso dizer que os contatos dos que gerenciam o empreendimento com o poder municipal, com as dificuldades de sempre, têm sido bastante propositivos, como relatado: 1) adotar a área do antigo Cacique, restaurante que funcionava ao lado do cinema, como uma praça de convivência; 2) criar no calçadão em frente ao Espaço Unibanco um estacionamento para 35 carros, agenciado como era na década de 1940, tudo por conta da iniciativa privada. Sabe-se, com certeza, que o impasse e a proibição não partiram do alto escalão da Prefeitura Municipal do Salvador, como um todo, onde penso que existe gente sensível aos interesses da população, e que sabe da importância de uma “revitalização” do centro da cidade. Todos sabem que sonhar é preciso, e o próprio cinema tem utilizado bastante o sonho como tema: aos curiosos e sonhadores basta indicar a obra-prima de Akira Kurosawa intitulada Sonhos. Acontece que também é necessário navegar, andar, chegar. Isto foi realizado com o Espaço Unibanco para a alegria dos cinéfilos assistirem a películas clássicas, antigas e contemporâneas, e conhecerem o trabalho de jovens cineastas baianos. Numa cidade onde as opções de lazer, fora da praia ou do axé, são poucas, é frustrante admitir que o poder público aja sem atentar para os interesses da coletividade.Enquanto isso, eu pergunto: qual o motivo ou intenção daqueles que administram a cultura municipal desejarem o imobilismo do já existente e falarem em projetos mirabolantes, arábicos e irrealizáveis, quando é sabido que não há dinheiro para a saúde, o saneamento, a educação e a segurança? É preciso, além de sonhar, pensar bem antes de desvariar ou fazer besteiras. De minha parte, como articulista, peço o alerta e a mobilização dos eitores para o assunto.
Foram necessários oito anos e meio, muito trabalho e desgastes burocráticos para a construção do Espaço Unibanco de Cinema/ Glauber Rocha, na Praça Castro Alves, em Salvador, aberto ao público em 19 de dezembro de 2008. Recordando a história do cinema na Bahia, a terra do “já teve” ou do “impossível acontece”, está ocorrendo um fato, pouco conhecido dos eleitores soteropolitanos, que é a possível e premeditada inviabilidade do recém-inaugurado espaço de entretenimento e lazer. Xibança igual só na Bahia. Ali, na Praça do Poeta, em 1919, existiu uma casa de espetáculos e cinema denominada Kursaal Bahiano (do alemão: sala para apresentações sociais), que o Jornal da Manhã, em 1920, por consulta e votação popular, fez mudar o nome para Cine Teatro Guarany. Vejam que exemplo democrático. Até 1949, os espectadores afluíam com frequência para ver os grandes astros e o noticiário da cinematografia mundial. Durante seis anos, o Guarany esteve fechado e só reabre, festivamente, com a exibição de O Manto Sagrado, em 1955.Após um longo período de vigência e lugar de referência, o Guarani, agora sem o “y”, entra em nova decadência, é fechado em 1998, arruinado fica por muitos anos, mas renasce da sujeira e do lodo com a nova proposta de quatro salas para exibição,uma livraria (Galeria do Livro), uma lanchonete, uma bombonière e, em breve, um restaurante. Nesta sua nova fase, de três meses e meio, como Espaço Unibanco de Cinema/ Glauber Rocha, já começaram as dificuldades com o poder municipal, que está impedindo o estacionamento ao lado e em frente do empreendimento, que só tem a acrescentar no entorno de uma área, no ex-centro dito “histórico” e carunchoso de Salvador. Nas três últimas semanas, março/abril, a queda diária de frequentadores é de 70 por cento, tendo chegado a mil e quinhentas pessoas só aos domingos, o que não mais ocorre após a proibição de estacionar automóveis. Diante desta evidência, o grupo Unibanco já cogita fechar o Espaço Glauber Rocha. Se isto acontecer, vai ser um despautério dos diabos, com repercussão nacional, pois não há ilegalidade no estacionamento, mas só capricho de quem não faz nada. Aliás, é preciso dizer que os contatos dos que gerenciam o empreendimento com o poder municipal, com as dificuldades de sempre, têm sido bastante propositivos, como relatado: 1) adotar a área do antigo Cacique, restaurante que funcionava ao lado do cinema, como uma praça de convivência; 2) criar no calçadão em frente ao Espaço Unibanco um estacionamento para 35 carros, agenciado como era na década de 1940, tudo por conta da iniciativa privada. Sabe-se, com certeza, que o impasse e a proibição não partiram do alto escalão da Prefeitura Municipal do Salvador, como um todo, onde penso que existe gente sensível aos interesses da população, e que sabe da importância de uma “revitalização” do centro da cidade. Todos sabem que sonhar é preciso, e o próprio cinema tem utilizado bastante o sonho como tema: aos curiosos e sonhadores basta indicar a obra-prima de Akira Kurosawa intitulada Sonhos. Acontece que também é necessário navegar, andar, chegar. Isto foi realizado com o Espaço Unibanco para a alegria dos cinéfilos assistirem a películas clássicas, antigas e contemporâneas, e conhecerem o trabalho de jovens cineastas baianos. Numa cidade onde as opções de lazer, fora da praia ou do axé, são poucas, é frustrante admitir que o poder público aja sem atentar para os interesses da coletividade.Enquanto isso, eu pergunto: qual o motivo ou intenção daqueles que administram a cultura municipal desejarem o imobilismo do já existente e falarem em projetos mirabolantes, arábicos e irrealizáveis, quando é sabido que não há dinheiro para a saúde, o saneamento, a educação e a segurança? É preciso, além de sonhar, pensar bem antes de desvariar ou fazer besteiras. De minha parte, como articulista, peço o alerta e a mobilização dos eitores para o assunto.
Artigo publicado originalmente no Jornal A Tarde
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