Três jóias do nosso tesouro esportivo tornam o Campeonato Baiano da Segunda Divisão um museu vivo do nosso futebol.
O Galícia, o Ypiranga e o Botafogo estarão juntos na competição planejada para começar em abril pela Federação Baiana de Futebol. Quando escrevo museu, não é em sentido pejorativo, como nos acostumamos a interpretar, como se a capacidade de armazenar informações e guardar objetos preciosos fosse um demérito. (Na foto, o Botafogo , 1955)
Vi muitos jogos do Botafogo e cheguei a cobrir o Botafogo quando repórter esportivo da Tribuna da Bahia, em 1988, na equipe que tinha Roque Mendes como editor, Luiz Britto e Jorge Allan Vivas, repórteres.
Tinha uma frase que circulava entre os jogadores e dizia bem o que era o futebol baiano:
Pra ganhar títulos, o Bahia. Pra ganhar dinheiro, o Vitória. Pra receber em dia, o Botafogo.
Pois até hoje o Botafogo é uma referência nacional em organização. Wilson Ferreira, prócer do clube, enviou-me uma correspondência, não muito tempo atrás, relatando em detalhes a contabilidade do clube, toda em dia.
Por isso, festejo neste post a volta ao futebol deste clube alvirrubro que fez os primeiros clássicos do futebol da Bahia contra o Ypiranga, ainda nos anos 1920.
Para quem não sabe, o Botafogo tem sete títulos de campeão e alguns de vice, quando vice era considerado título sim.
Só depois que o Vitória passou a dar estes desacertos em finais de campeonato é que o vice passou a ser pejorativo, mais ou menos como ocorreu com ‘museu’, lá do início do post.
Provavelmente, se o Vitória não tivesse dedicido nada e o Bahia tivesse só vices, a valorização do vice ia ser em alta.
Tenho um lápis, sim um lápis, do Botafogo e um caderno também que ganhei de algum botafoguense histórico.
Recebi agora há pouco um texto sobre o Botafogo, escrito em 1995, por Almir Santos, tio de meu querido amigo, Luciano, autor do preciso livro Barradão, emoções e vitórias.
Vamos ler o texto de Almir, escrito em 1995:
MEUS PRIMEIROS JOGOS
Lembro-me como se fosse hoje: meu pai, meu tio Lopes, Seu Arnaldo, Arnaldo de Dona Vitória, ao pé do rádio ouvindo as irradiações (transmissões) dos jogos de futebol.
A Rádio era a Sociedade da Bahia e o speaker (locutor), Ubaldo Câncio de Carvalho.
Ouvia nomes de times como Botafogo, Galícia, Vitória, Ipiranga, Bahia, Guarani, Flamengo, Fluminense, Vasco e jogadores, alguns com apelidos engraçados: Popó, Batatais, Cacuá, Zizinho, Incêndio, Palito, Heleno, Dois Lados, Vareta, Domingos da Guia, Cacetão, Leônidas, Bengalinha, Perácio, Manteiga, Siri e outros (deveria ser Ciri, pois era derivado de Ciridião).
Um dia meu pai resolveu me fazer uma surpresa: levou-me, juntamente com meu irmão Ayrton, para assistir uma partida de futebol no campo da Graça. Fiquei deslumbrado. Para mim o campo da Graça pareceu-me imenso.
As cores alvi-rubra e alvi-azul de Botafogo e Galícia e o verde do gramado, de impacto ,foram um espetáculo para os meus olhos.
A estrutura, toda em madeira, entretanto, balançava com a vibração dos torcedores, assustava-me. Suas acomodações dividiam-se em numeradas, arquibancadas A e B, sombra e geral.
Para evitar confusão, saímos poucos minutos antes do término da partida, que estava 1×1.
Era 15 de agosto de 1943. Tinha oito anos.
À frente do campo, ouvimos num rádio de um carro que estava estacionado, o gol de Da Hora, no último minuto, que deu a vitória ao Botafogo.
Daí a minha simpatia pelo Botafogo, que hoje, infelizmente, não chega nem a pleitear uma vaga na divisão de acesso.
O Botafogo jogou com Severino, Flávio e Rastelli; Manu, Abelardo e Dunga; Manoelito, Da Hora Didi, Inácio e Dino.
O Galícia com Nova, Carapicu e Lusitano; Neversínio, Palmer e Nouca; Louro, Curto, Palito, Novinha e Isaltino.
Vejo freqüentemente Novinha às tardes nos bancos do jardim da Praça da Piedade. Estive com Manoelito que era administrador da colônia de férias do SESC. Tive notícias de Nova, Palmer, Carapicu, Lusitano e Curto por Isaltino, que viria ser mais tarde meu colega de trabalho.
Grande figura. Gozador, contador de piadas, seresteiro e grande tomador de cerveja. Para isso, tem uma conta de poupança secreta para fugir do controle de sua mulher com gastos em bebida.
Sua carreira foi longa e vitoriosa. Aos 17 anos subiu para o time principal em lugar de Reginaldo, que tinha problema de contrato, quando foi tricampeão. Jogava de ponta esquerda e era possuidor de um fortíssimo chute. Logo foi para o Botafogo do Rio, onde teve uma rápida passagem. Retornou para o Bahia, onde encerrou sua carreira e deu muitas alegrias a sua torcida.
Entusiasmei-me com o futebol. O campo da Graça estava se tornando para mim cada vez mais familiar.
Outra surpresa meu pai me proporcionou: permitiu que fosse assistir a um jogo sozinho. Só, isto é, sem a sua companhia, mas com o meu irmão e o primo Hélio.
Senti-me muito importante. Compramos ingressos para a sombra.
Não me lembro bem quais as equipes que jogavam, mas um episódio marcou aquele primeiro jogo a sós. Ensaiava-se um sururu (porrada) entre torcedores perto de nós, quando um, mais exaltado, disse em tom ofensivo e pejorativo: -“torcedor do Bahia é chupador de b_ _ _ _ _”.
Aquilo me deixou confuso, pois não entendi o significado da agressão.
Chupar o que? Chupar por que?
Anos depois vim a entender tudo, não entendendo, entretanto, o porquê da ofensa e do pejorativo.
O Galícia, o Ypiranga e o Botafogo estarão juntos na competição planejada para começar em abril pela Federação Baiana de Futebol. Quando escrevo museu, não é em sentido pejorativo, como nos acostumamos a interpretar, como se a capacidade de armazenar informações e guardar objetos preciosos fosse um demérito. (Na foto, o Botafogo , 1955)
Vi muitos jogos do Botafogo e cheguei a cobrir o Botafogo quando repórter esportivo da Tribuna da Bahia, em 1988, na equipe que tinha Roque Mendes como editor, Luiz Britto e Jorge Allan Vivas, repórteres.
Tinha uma frase que circulava entre os jogadores e dizia bem o que era o futebol baiano:
Pra ganhar títulos, o Bahia. Pra ganhar dinheiro, o Vitória. Pra receber em dia, o Botafogo.
Pois até hoje o Botafogo é uma referência nacional em organização. Wilson Ferreira, prócer do clube, enviou-me uma correspondência, não muito tempo atrás, relatando em detalhes a contabilidade do clube, toda em dia.
Por isso, festejo neste post a volta ao futebol deste clube alvirrubro que fez os primeiros clássicos do futebol da Bahia contra o Ypiranga, ainda nos anos 1920.
Para quem não sabe, o Botafogo tem sete títulos de campeão e alguns de vice, quando vice era considerado título sim.
Só depois que o Vitória passou a dar estes desacertos em finais de campeonato é que o vice passou a ser pejorativo, mais ou menos como ocorreu com ‘museu’, lá do início do post.
Provavelmente, se o Vitória não tivesse dedicido nada e o Bahia tivesse só vices, a valorização do vice ia ser em alta.
Tenho um lápis, sim um lápis, do Botafogo e um caderno também que ganhei de algum botafoguense histórico.
Recebi agora há pouco um texto sobre o Botafogo, escrito em 1995, por Almir Santos, tio de meu querido amigo, Luciano, autor do preciso livro Barradão, emoções e vitórias.
Vamos ler o texto de Almir, escrito em 1995:
MEUS PRIMEIROS JOGOS
Lembro-me como se fosse hoje: meu pai, meu tio Lopes, Seu Arnaldo, Arnaldo de Dona Vitória, ao pé do rádio ouvindo as irradiações (transmissões) dos jogos de futebol.
A Rádio era a Sociedade da Bahia e o speaker (locutor), Ubaldo Câncio de Carvalho.
Ouvia nomes de times como Botafogo, Galícia, Vitória, Ipiranga, Bahia, Guarani, Flamengo, Fluminense, Vasco e jogadores, alguns com apelidos engraçados: Popó, Batatais, Cacuá, Zizinho, Incêndio, Palito, Heleno, Dois Lados, Vareta, Domingos da Guia, Cacetão, Leônidas, Bengalinha, Perácio, Manteiga, Siri e outros (deveria ser Ciri, pois era derivado de Ciridião).
Um dia meu pai resolveu me fazer uma surpresa: levou-me, juntamente com meu irmão Ayrton, para assistir uma partida de futebol no campo da Graça. Fiquei deslumbrado. Para mim o campo da Graça pareceu-me imenso.
As cores alvi-rubra e alvi-azul de Botafogo e Galícia e o verde do gramado, de impacto ,foram um espetáculo para os meus olhos.
A estrutura, toda em madeira, entretanto, balançava com a vibração dos torcedores, assustava-me. Suas acomodações dividiam-se em numeradas, arquibancadas A e B, sombra e geral.
Para evitar confusão, saímos poucos minutos antes do término da partida, que estava 1×1.
Era 15 de agosto de 1943. Tinha oito anos.
À frente do campo, ouvimos num rádio de um carro que estava estacionado, o gol de Da Hora, no último minuto, que deu a vitória ao Botafogo.
Daí a minha simpatia pelo Botafogo, que hoje, infelizmente, não chega nem a pleitear uma vaga na divisão de acesso.
O Botafogo jogou com Severino, Flávio e Rastelli; Manu, Abelardo e Dunga; Manoelito, Da Hora Didi, Inácio e Dino.
O Galícia com Nova, Carapicu e Lusitano; Neversínio, Palmer e Nouca; Louro, Curto, Palito, Novinha e Isaltino.
Vejo freqüentemente Novinha às tardes nos bancos do jardim da Praça da Piedade. Estive com Manoelito que era administrador da colônia de férias do SESC. Tive notícias de Nova, Palmer, Carapicu, Lusitano e Curto por Isaltino, que viria ser mais tarde meu colega de trabalho.
Grande figura. Gozador, contador de piadas, seresteiro e grande tomador de cerveja. Para isso, tem uma conta de poupança secreta para fugir do controle de sua mulher com gastos em bebida.
Sua carreira foi longa e vitoriosa. Aos 17 anos subiu para o time principal em lugar de Reginaldo, que tinha problema de contrato, quando foi tricampeão. Jogava de ponta esquerda e era possuidor de um fortíssimo chute. Logo foi para o Botafogo do Rio, onde teve uma rápida passagem. Retornou para o Bahia, onde encerrou sua carreira e deu muitas alegrias a sua torcida.
Entusiasmei-me com o futebol. O campo da Graça estava se tornando para mim cada vez mais familiar.
Outra surpresa meu pai me proporcionou: permitiu que fosse assistir a um jogo sozinho. Só, isto é, sem a sua companhia, mas com o meu irmão e o primo Hélio.
Senti-me muito importante. Compramos ingressos para a sombra.
Não me lembro bem quais as equipes que jogavam, mas um episódio marcou aquele primeiro jogo a sós. Ensaiava-se um sururu (porrada) entre torcedores perto de nós, quando um, mais exaltado, disse em tom ofensivo e pejorativo: -“torcedor do Bahia é chupador de b_ _ _ _ _”.
Aquilo me deixou confuso, pois não entendi o significado da agressão.
Chupar o que? Chupar por que?
Anos depois vim a entender tudo, não entendendo, entretanto, o porquê da ofensa e do pejorativo.
*Engenheiro, boêmio e escritor
joguei no galicia 4 anos..e fico muito feliz em saber que esta voltando
ResponderExcluireu queria joga nesse ypiranga izael de salvador
ResponderExcluirola só izael tenho 26 anos moro em salvador queria joga nesse ypiranga seri hum prazer meu telefone 071-8178-7517
Excluir