sexta-feira, 8 de maio de 2009

Dois extremos das encostas: Pelourinho e comércio

Gey Espinheira
O Centro Histórico de Salvador se apresenta nas duas extremidades da encosta, tanto no bairros do Pelourinho na Cidade Alta, como no bairro do Comércio na Cidade Baixa, sendo a ligação entre os dois níveis da cidade feita através de ladeiras, elevadores e planos inclinados. O bairro do Comércio, na parte baixa da cidade, tem como sua principal característica a função portuária. Sucessivos aterros afastaram o mar de trapiches, ancoradouros e armazéns, modificando a dinâmica do bairro. Cenário de um incrível contraste entre construções de diferentes épocas, organizadas a partir da sua cronologia, quanto mais próximas da encosta, mais antigas e de arquitetura mais rebuscada. Espaço de becos, praças e mercados que abrigam ritmos antigos, e personagens que se estabelecem na rua para diversas atividades: engraxates, amoladores de objetos, e vendedores ambulantes.
O Pelourinho, na parte alta da cidade, é um lugar de marcante identidade afro-brasileira e sofisticado complexo arquitetônico colonial, antigo centro da capital da colônia. Sendo um dos primeiros núcleos centrais das cidades Latino-Americanas a ser objeto de processos de requalificação urbana, para a preservação de valores e patrimônios culturais. A expansão urbana da cidade desloca suas funções centrais para outras regiões, esvaziando o centro antigo, e alterando suas funções econômicas e características sociais. O primeiro momento, no século XIX, com a implantação do sistema de transportes, que proporcionou um modelo de ocupação da parte alta e sul da cidade por camadas de maior poder aquisitivo, para bairros próximos de praias, construídos por pescadores e veranistas.
O segundo momento, no século XX, com a transferência das funções administrativas do Governo do Estado para o Centro Administrativo da Bahia na Avenida Paralela, e o deslocamento do centro de comércios e serviços para a região do Iguatemi e Avenida Tancredo Neves. Em um curto período de tempo mais de vinte mil funcionários governamentais são transferidos de seus locais de trabalho desta zona da cidade.
A consequência é a substituição da população do centro antigo por uma de menor renda, ocasionando o aumento da densidade e a deterioração dos casarões históricos, sendo a função habitacional destinada apenas a uma população de desafortunados
[1].[1] “Em que diferem os estabelecidos dos desafortunados? Os primeiros são resistentes e emergentes, os segundos são produtos de uma condição de impossibilidades de realização”.
ESPINHEIRA, Carlos Geraldo D’Andrea. Identidade de Salvador: signos e vida cotidiana da Cidade Baixa – o turismo, a cultura e a vida social dos estabelecidos e dos desafortunados II. UFBA / PIBIC: 2005.

Um comentário:

  1. AINDA CAYMMI E O TRABALHO

    Como amante da música, vide o perfil, tinha de comentar a brilhante crônica de Oliveiros sobre o nosso Dorival Caymmi. Concordo com tudo que ele diz.

    De fato, Caymmi consegue transportar para a nossa mente pessoas e lugares. Quando canta “ASSIM ADORMECE ESTE HOMEM QUE NUNCA PRECISA DORMIR PRA SONHAR, PORQUE NÃO HÁ SONHO MAIS LINDO DO QUE SUA TERRA, NÃO HÁ...” a gente vê Itapuã, ainda sem asfalto, a lua, o mar... A gente se sente na areia, Até quando canta outras terras, como Sábado em Copacabana, Dora... a gente se coloca naqueles cenários.

    E as mulheres? Ah, as mulheres! Marina, Anália, Morena Rosa, Maria Amélia, (Eu Cheguei Lá), Adalgisa, A Preta do Acarajé, Mãe Menininha, Doralice, Francisca Santos das Flores, Tia Nastácia, Gabriela...

    A gente consegue vê-las, como consigo ver Dona Valdete, a vizinha da minha infância, quando ouço A VIZINHA DO LADO. Eu tinha uns 12 anos e ela uns 30, mas já era esperto. Até hoje a vejo quando ouço.

    Caymmi não merece, pois, as injustiças dos paulistas e cariocas.

    Parabéns, Oliveiros.

    Almir Santos

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