sábado, 26 de dezembro de 2009

Depois de 10 anos e R$ 1 bilhão a pergunta : E o Metrô de Salvador?

Mais um ano se finda e continua a novela do Metrô de Salvador. Depois de várias alterações no projeto, depois de seguidos aditivos de valor e prazo e despendidos quase R$ 1 (um) bilhão, nenhuma perspectiva concreta para o equacionamento da grave questão do transporte público de passageiros em Salvador.
A novidade é que temos de acompanhar as notícias, não mais nas páginas de economia ou nos cadernos da cidade dos jornais, mas sim, nas páginas policiais.
Notícia veiculada no jornal O Estado de São Paulo,(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,mpf-pede-investigacao-de-14-obras-da-camargo-correa,483180,0.htm ) inclui a obra do Metrô de Salvador, na operação da Polícia Federal - Castelo de Areia. Uma das integrantes do Consórcio do Metrô de Salvador está sendo acusada de corrupção ativa. Um dos indícios apontados está relacionado às alterações ocorridas no projeto do Metrô de Salvador, principalmente na alteração que resultou na elevação de custo da obra no trecho Fonte Nova - Estação Rótula do Abacaxí por conta da mudança radical do projeto.
No cronograma inicial da obra, já estaria concluído o trecho Estação da Lapa - Estação Cajazeiras e iniciada a segunda linha Estação Calçada - Estação Mussurunga.
Com a palavra os gestores públicos, o Ministério Público Federal e a Sociedade Civil Organizada.
E por falar em Sociedade Civil, depois da reunião realizada na Reitoria da UFBa em maio, que daria início à organização, inspirada no Movimento Nossa São Paulo, nenhuma notícia do Movimento Nossa Salvador. Omissão também é cumplicidade.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Carta a Diógenes Rebouças

de HELIODORIO SAMPAIO*
Sem buscar o sucesso efêmero, mestres, como Diógenes Rebouças, se cercaram de atitudes firmes e discretas no ato do “saber fazer” coisas do ofício. As raras entrevistas, a ausência nas colunas sociais, a fuga ao sucesso fugaz, às comendas e atos correlatos atestam o modo de vida quase monástico, deste arquiteto-urbanista pioneiro do modernismo baiano.
Para Diógenes, a boa arquitetura tem capacidade de absorver mudanças no tempo. Repetia:
– Papel pintado se rasga e joga fora, se faz outro desenho; mas a obra não, ela estará lá sempre a espiar os nossos equívocos.
Três ideias-força circunscrevem a obra de Diógenes: a implantação no sítio geográfico; concepção generosa dos espaços de convívio – públicos ou semipúblicos; e estética austera, vincada numa espacialidade fiel à concepção estrutural.
Escola Parque, Hotel da Bahia, Fonte Nova, Politécnica, Faculdade de Arquitetura, antiga Rodoviária, avenidas Contorno e Centenário, casas, igrejas etc. contemplam suas ideias-força.
Em carta imaginária inédita, de 6.12.2007, tentamos mostrar o espírito guia da nossa cinquentenária escola, no que ela tem de melhor: a disposição para defender a cidade do desastre em curso; que atinge em cheio as obras do EPUCS, de Diógenes Rebouças e vários outros modernistas.
(Seguem trechos da carta):
“Mestre,
Faz tempo que nos falamos, desculpe o silêncio. Ando perplexo com velhas ideias que voltam a circular na nossa Salvador, mostrando o descuido com o sítio geográfico e a história do modernismo baiano no século XX, no qual o senhor foi um protagonista maior, exemplar. (…)
Na esteira de uma modernização caolha continuam a raspar do território as sobras da arquitetura e urbanismo do século passado. Persiste o equívoco de que “memória urbana” diz respeito apenas aos espaços do século XVIII para trás, em guetos turísticos. Seu livro e quadros certamente adornam prateleiras da mesma elite que destroça os vestígios da Salvador antiga. Só a arte de um Diógenes – o pintor e aquarelista – possibilita, ao lado de Munlock, Ferrez, Verger e outros artistas sensíveis, aferir os estragos causados pelo Urbanismo Demolidor que transpõe o século passado e nos alcança em cheio. (…)
Sua obra, ao lado de outros grandes arquitetos baianos, encontra nas picaretas o golpe que derruba edifícios, mas pouco alcança o silêncio de parte da mídia, conivente, cooptada. Tudo converge para os desígnios da cidade-mercadoria, espetaculosa, anunciando um futuro estarrecedor para a cidade herdada do EPUCS. (…)
Neste viés urbanístico, ideologicamente “progressista”, esquecem das experiências recentes desastradas, pelas consequências provocadas na decadência do Centro Histórico, e dos vazios no entorno da Paralela. Continua em curso a ênfase na centralidade da Paralela, congestionada, alimentando um processo que desde o século passado se revela desastrado. As eleições apontaram mudanças, outros quadros assumiram o poder político-administrativo – substituindo um ciclo esgotado –, mas o discurso urbanístico continua muito igual. A frase emblemática na placa no CAB: “Aqui se constrói o futuro sem destruir o passado”, continua firme na Paralela. Mas a qual passado se refere? Se o Centro Histórico continua problemático, cidade alta e baixa aos pedaços. Subúrbio e miolo, nem se fala. (…)
No seu livro, a tensão entre o velho e o novo retoma Augusto de Campos:
eu defenderei até a morte o
novo por causa do antigo e até a
vida o antigo por causa do novo.
o antigo que foi novo é
tão novo como o mais novo.
(…)
Mestre, até mais ver.”
A relação dialética entre o novo e o velho é essencial às cidades históricas. Já disse o poeta maior: “O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
Diógenes Rebouças é ímpar e também o par; indissociável desta cidade. Se o projeto demolidor ainda é papel, deve ser mudado. Como pedem Faufba, IAB, Crea, Conselho de Cultura, e nós cidadãos.
*Heliodorio Sampaio – Arquiteto, professor da Universidade Federal da Bahia

domingo, 13 de dezembro de 2009

DIMITRI GANZELEVITCH: “É PORQUE GOSTO DA BAHIA QUE FAÇO CRÍTICAS”

de CAROLINA MENDONÇA
Criado por uma família que sempre valorizou o livro e a cultura, o francês nascido no Marrocos Dimitri Ganzelevitch (foto) 73, escolheu a arte como forma de vida. Aos 5 anos, desejava ter um museu. Aos 14, passou a colecionar peças. Estudou em escolas de arte de Marrocos, Lisboa, Paris e Londres e chegou a vender peças da sua obra como pintor, mas seu olhar crítico fez com que ele abandonasse os pinceis e passasse para o outro lado do negócio, tornando-se marchand. Desde 1975, quando se mudou para a Bahia, vem apostando no trabalho de novos talentos e na valorização da cultura popular. O fundador da Associação Viva Salvador, que desenvolve ações de educação para a arte, teve seu acervo particular reconhecido pelo Ministério da Cultura, o que transformou sua residência na Casa Museu Solar Santo Antônio. Duro nas críticas às políticas públicas culturais praticadas no Estado, acredita que Salvador está perdendo sua identidade.
Um dos motivos da sua vinda à Bahia foi a música de Dorival Caymmi?
Com certeza. Quando eu morava em Portugal, tínhamos, em casa, muitos discos de música popular brasileira. Tinha Noel Rosa, Orlando Silva, Dick Farney e Dorival Caymmi, que me encantava. Quando ouvia Maracangalha, eu viajava! Um dia, um tio me convidou para conhecer o Carnaval do Rio, vim imediatamente. No Rio, eu tinha uma carta de apresentação para o escritor Orígenes Lessa. Ele me convidou para vir com ele à Bahia, para o casamento do filho de Jorge Amado. Entrei pela porta certa, não é? Fui recebido pelo Jorge, Carybé nos levou no Axé Opô Afonjá, Ildásio Tavares nos apresentou a Lagoa do Abaeté. Era maravilhosa. Fazíamos buracos na areia para colocar velas, havia sempre alguém com um violão, uma delícia. Claro que havia furtos, assaltos, mas era seguro, não se sabia o que era matar, como hoje. Tudo isso criou uma imagem de encantamento. Voltei várias vezes até que vim para ficar de vez.
Como marchand, o senhor sempre teve interesse pela cultura popular?
Sempre tive um olhar eclético. Morei em vários lugares diferentes e me familiarizei com muitas culturas. Diria que tenho um pé no acadêmico, um no contemporâneo e outro nas imagens do inconsciente. E gosto de apostar no novo. Dei um empurrão a artistas brasileiros que, depois tiveram reconhecimento. Tive a primeira galeria do Pelourinho. Quando dizia que morava no Centro Histórico, me olhavam como se eu fosse louco.
Esse interesse está também nos concursos que organizou para premiar os melhores carrinhos de café e barracas de festa de largo?
Quando a Lídice da Mata acabou com as barracas das festas de largo, sofri muito. Conheci as barracas quando tive uma loja no Mercado Modelo e fiquei maravilhado. Depois de um ou dois anos participando da festa da Nossa Senhora da Conceição, percebi que alguns barraqueiros já estavam colocando anúncios de refrigerantes, isso me deixou em alerta. Com medo de que aquilo desaparecesse, organizei, junto com Goya Lopes, Murilo e outros amigos, um concurso para a valorização da cultura das festas de largo. Premiávamos os bancos, fachadas, a comida, a higienização, eram várias categorias. Durou alguns anos até que o patrocinador, o dono de uma marca de tintas, faleceu. Pouco depois, assistimos à substituição das barracas por estruturas de metal, lona e plástico. Foi trágico, um erro total de leitura. O Instituto do Patrimônio Histórico e artístico (Iphan) chegou a fazer uma lei para proteger aquele patrimônio imaterial, mas já era tarde. Defendo, no entanto, que é possível recuperar essa cultura.
Barraca de Festa de Largo - 1986 - Foto:Adenor Godim
Salvador vem perdendo sua identidade?
Muitíssimo. Estão derrubando todas as construções históricas, estão depredando a cidade. Tudo está virando espigão. Aquilo que fizeram atrás da casa dos cardeais é um assassinato estético! Agora querem descaracterizar a Praça Cayru. Não se tem um projeto de desenvolvimento. Tudo depende da exploração imobiliária.
É considerado crítico?
Venho de uma cultura onde a crítica faz parte das discussões. Aqui, com a herança escravagista, uma república mais ou menos democrática e, depois, a Ditadura Militar, se perdeu o direito de criticar. Por isso, escrevo minhas crônicas, protesto. É justamente porque gosto da Bahia que faço críticas. Estou escrevendo sobre o abandono do Santo Antônio Além do Carmo, que está ameaçada por essa mocinha, a Luciana Rique, que está abocanhando parte do bairro. E as famílias que moravam naquelas casas? Vai ser a mesma burrice que se fez no Pelourinho
.
Entrevista publicada originalmente no jornal A Tarde

JUVENÁ LAMENTA O FIM DA CRIATIVIDADE NAS FESTAS DE LARGO

EMANUELLA SOMBRA
Veterano das festas de largo, o baiano Juvenal Silva Souza,(foto) 66 anos, o Juvená, é enfático: a Conceição da Praia acabou. Da época em que montar barracas para a festa significava ficar até uma semana dormindo ao ‘relento’ sobre engradados de cerveja e tomando banho de bica, ele não hesita:
– Essa série de intervenções padronizaram demais. Festa popular é festa popular.
Juvená passou 13 anos montando barracas de bebida nas festas da Conceição da Praia, Itapuã, Ribeira, Pituba e Rio Vermelho.
– Tenho uma saudade absoluta. Geralmente eu armava barraca dia 28 de novembro na Conceição, todo mundo ia pra lá e já fazia a festa antecipada. O dia 8 era uma festa grande, mas a gente já tava até satisfeito – lembra.
Há uma década o homem de barba branca não pisa o pé na Conceição. Prefere ficar em Itapuã, onde tem barraca de praia e residência.
– A festa que a gente costumava armar era mais criativa, a gente fazia e encomendava os “tamburetes”, a pintura dava uma conotação de arte. Era rústica mas era mais humana. Depois começaram a padronizar…
– A gente se entrosava, conversava, bebia, fazia samba-de-roda (o samba duro como chamam no Recôncavo baiano). Terminava a Conceição e a gente ia para a Boa Viagem antecipadamente. Era uma festa popular de fato. Era isso que era bom – diz Juvená que hoje prefere ver estas festas pela televisão.
Publicado originalmente no jornal A Tarde

sábado, 12 de dezembro de 2009

A Ponte para Itaparica e a Expansão da Região Metropolitana de Salvador

Já está em mãos do governador Jaques Wagner, desde o dia 26 de janeiro de 2009, um documento assinado pelo engenheiro Manuel Ribeiro Filho, diretor da Construtora OAS para a Bahia, Sergipe e Alagoas, solicitando autorização formal para efetuar, por sua conta e risco, os estudos necessários para a viabilização de um projeto que ligará a BR-324 até o ponto final da BR-242, na Ponte do Funil, que será duplicada juntamente com o trecho até Itaparica.
O sistema será criado a partir da Via Expressa Baía de Todos os Santos (novo Km 0 da BR-242) e que alcançará, pelo mar, a Ilha de Itaparica, daí prosseguindo pelo continente. A ponte é só rodoviária em todos seus 12km, com 8 pistas, das quais 2 exclusivas para cargas, um vão central estaiado de 560 m e 90m de altura, mais 2 outros estaiados adjacentes de 285 m. O custo estimado em R$ 2,5 bilhões prevê desembolsos de R$ 600 milhões anuais, cabendo40% ao setor privado (R$250 milhões), R$ 300 milhões ao governo federal e R$ 100 milhões ao governo estadual. Também poderá ser desenvolvida uma combinação de modalidades de concessão que envolveria a construção, operação e manutenção do sistema.
Segundo Manuel Ribeiro,(foto) a Ilha de Itaparica ganhará um Plano Diretor Único capaz de coibir sua degradação e a especulação fundiária, com a criação e implantação de núcleos urbanos planejados, diversificados, infra estruturados, integrados ao meio ambiente, absorvendo, de forma estruturada, parte da demanda habitacional da RMS. Torna-se, assim, um novo raio de expansão e turismo, beneficiando a mobilidade urbana e o planejamento de Salvador, que terá seu ritmo de ocupação reduzido e direcionado para áreas que deverão ser, a partir da implantação deste Vetor Oeste, recuperadas, renovadas e revitalizadas, a exemplo do Comércio e Península Itapagipana.
Adianta Ribeiro, que os impactos do projeto não ficarão restritos à RMS, sendo sentidos também no Baixo Sul (rumo a Itacaré-Ilhéus) com a redução das distâncias rodoviárias e ajudando a integrar a economia do Recôncavo e da RMS com a nova economia que surgirá com o Porto Sul e a Ferrovia Oeste Leste. Permitirá o acesso direto das BRs 101, 116 e 242 aos portos de Salvador, Aratu e PóloNaval sem interferir na capital baiana.
Coloca importância no escoamento de toda a produção do Oeste da Bahia por estas vias, alterando, significativamente, o Plano Nacional de Viação que terá o Km 0 da BR-242 no Porto de Salvador. Manuel Ribeiro garante ter a OAS conhecimento técnico e de gestão comprovadamente suficiente para desenvolver planos e empreender, isoladamente ou em consórcio, obras e intervenções previstas nos projetos de engenharia, transportes, mobilidade e desenvolvimento urbanos.
Para isto, contará com a assessoria técnica de profissionais especializados na área de urbanismo, desenvolvimento urbano e cálculo estrutural, destacando-se o arquiteto e urbanista Ivan Smarcevscki (concepção geral do Projeto), Escritório da LVA -Logística de Valor Agregado (operações urbanas a partir da introdução no projeto de conceitos do chamado Novo Urbanismo) e da Enescil Engenharia de Projetos (desenho e pré-dimensionamento estrutural da ponte). Compreenderá estudos técnicos de arquitetura, urbanismo, engenharia, jurídicos, econômicos e financeiros para modelagem adequada das PPP's ou concessões, envolvendo a definição de elementos de projetos básicos que permitam sua plena caracterização, o orçamento preliminar de investimentos, as diretrizes para o licenciamento ambiental do empreendimento, o estudo de viabilidade econômico-financeira com a indicação da forma de remuneração necessária ao investimento e à operação do projeto, a forma mais apropriada para contra prestação do poder público, os critérios objetivos de avaliação e desempenho do projeto.
Para a Ilha de Itaparica, sugere uma rigorosa proteção ambiental, principalmente da contracosta, tráfego pesado em via segregada, proteção aos sítios históricos da cidade de Itaparicae do Distrito de Baiacu (parque estadual para preservar o resto de manguezais e de Mata Atlântica), criação de bairros planejados em áreas antropizadas e de um consórcio público do Estado e os municípios de Vera Cruz e Itaparica para elaborarum novo PDDU, a ser aprovado pelas respectivas Câmaras de Vereadores. Propõe a implantação de 4 núcleos (Cultura,Verde, Conexão e Bem-Estar), ocupando 24,3% da ilha, com determinados tipos e critérios de ocupações (residenciais e comerciais), campo de golfe , nova marina e um centro de excelência para a indústria naval.
Texto originalmente publicado em Bahia Negócios - http://www.bahianegocios.com.br

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Futuro sombrio ou de progresso?

CRESO AMORIM*
Há dias foi publicado o artigo intitulado "Porto de Salvador: rumo ao futuro", assinado pelo presidente do Sindicato de Operadores Portuários de Salvador e Aratu, apoiando a proposta da Codeba de aditivo ao contrato do terminal arrendado e construção de um berço público. Gostaria de fazer o contraponto à opinião manifestada, apenas sob dois aspectos.
Primeiro, é estranho que o presidente do sindicato de empresas operadoras portuárias, que deveria promover o fortalecimento de seu segmento econômico, esteja a defender uma solução que beneficia uma única operadora. Não existe justificativa para se prolongar mais esse monopólio no Porto de Salvador, em detrimento das demais operadoras baianas. A conduta monopolística da empresa escolhida pela Codeba há dez anos para explorar o terminal de contêiner tem custado caro, pela imposição de ineficiências econômicas (filas no terminal e no depósito de contêineres vazios ou cobrança de tarifas adicionais), cujos custos assumidos pelas transportadoras ou exportadoras, se constituem no "custo Bahia". Também efeito dessa ineficiência, se agrava a fuga de mais de 30% das cargas baianas do comércio exterior para portos de outros estados, que diminui o mercado para as empresas baianas de transporte.
Seria louvável que o presidente do sindicato de operadores defendesse o seu segmento, para fortalecer as outras empresas baianas e estimular a criação de novas.
O outro aspecto é quanto ao mérito da proposta da Codeba, que pouco acrescenta às necessidades da Bahia e premiaria uma arrendatária, que a rigor até já deveria ter o contrato rescindido, em razão da conduta monopolística.
Assim, propomos que a Codeba resolva definitivamente o problema de capacidade de movimentação de contêineres com visão ampla e harmônica que contemple a licitação, não apenas de mais um terminal de contêiner, mas de dois ou três novos, verdadeiros interesses para o desenvolvimento da economia baiana, que não pode ficar contingenciada a propostas diminutas. Ninguém quer um porto cujo rumo seja um futuro sombrio.
A Bahia precisa de progresso para todos.
*Creso Amorim é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Contêiner do Estado da Bahia

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

TRANSPORTE COLETIVO X TRANSPORTE INDIVIDUAL

Por Almir Santos*
Nenhuma grande cidade pode sobreviver priorizando o transporte individual, a menos que tenha um mega infra-estrutura viária. As duas maiores cidades brasileiras Rio de Janeiro e S. Paulo, principalmente esta, vivem problemas de trânsito incomensuráveis, em que pese terem uma rede de metrô. Modestas,diga-se, para suas dimesões.
Salvador, como uma taxa de motorização em torno de 5,0 habitantes/veículo, abaixo de muitas capitais do Nordeste, inexpressiva se comparada com S.Paulo, Goiania e Cutitiba que têm 2,0 habitantes/veículo, está caminhado para um caos, que poderia ser solucionado se oferecesse um eficiente meio de transporte de alta capacidade.
Pode-se imaginar o que seria se tivesse uma taxa de motorizaçao significativa. É importante citar a experiência brasileira bem sucedida da cidade de Curitiba que se antecipou à crise dos tranportes há aproximadamente 40 anos.
Lá foi concebida uma REDE INTEGRADA DE TRANSPORTES com sete categorias: convencional, expresso, interbairros, linha direta, alimentador, circular centro e estudantes.
Os ônibus projetados especialmente para cada categoria como o bi-articulado com capacidade de 270 passageiros que trafega nas linhas expressas e utilizam as caneletas segregadas equipadas com detectores que dão prioridade aos ônibus nas intercessões. Assim os horários são rigorosamente cumpridos.
O ligeirinho, que opera na Linha Direta, tem um número de paradas reduzido, onde o embarque é feito através de Estações Tubo, cuja plataforma se situa no mesmo nível do piso do ônibus e o pagamento da tarifa é antecipado. Dessa forma, o embarque e desembarque são quatro vezes mais rápidos do que nos ônibus convencionais. Os deficientes usam um elevador implantado no nível da pista.
O interbairros é composto de cinco circulares concêntricas nos dois sentidos. Não vai ao centro, mas integra com as outras categorias. Os ônibus são equipados com uma voz fantasma que informa todas as possibilidades de conexão, fechamento das portas, número de portas que serão abertas nos pontos de parada, mensagens educativas e avisos de interesse dos usuários.
A rede integrada engloba 14 municípios da Região Metropolitana, a maioria distantes aproximadamente 40 km do centro de Curitiba: São José dos Pinhais, Pinhais, Colombo, Piraquara e Rio Branco do Sul, Almirante Tamandaré, Fazenda Rio Grande, Campo Largo, Campo Magro, Araucária, Contenda e Itaperuçu. O maior deslocamento é Rio Branco do Sul a Contenda com 70 km de extensão. A tarifa única integrada é R$2.20 durante a semana e R$1,00 aos domingos o que representa uma tarifa média ponderada de R$2, 03.
A rede da Grande Curitiba comporta 469 linhas, sendo 388 integradas. Metrô não existe, mas o sistema eficiente de transporte público dá para deixar o automóvel em casa e não se perceber que a cidade tem uma frota de 1,2 milhões de veículos, o dobro da de Salvador. Um transporte especial feito através do SITES (Sistema de Transporte de Ensino Especial), atende 2.600 alunos portadores de deficiência transportados por dia em 38 linhas que apóiam 36 escolas especializadas (Único subsidiado pala Secretaria de Educação). 65% dos ônibus em Curitiba têm acessibilidade total para deficientes. Os chamados madrugueiros garantem um transporte regular durante 24 horasSão 351 Estações-tubo, 72 km de canaletas exclusivas, cinco grandes corredoresL(Boqueirão, Norte, Sul, Leste e Oeste), 5 mil pontos de parada, 21 Terminais de integração urbanos e 7 metropolitanos
A distância entre os pontos de parada é regulamentada. Para os Expressos é de 400m, para os alimentadores 250m, para os convencionais 300m, e para o ligeirinho 2000m. Os ônibus são limpos, bem conservados, equipados com voz fantasma e os motoristas educados têm uma boa postura profissional. Dessa forma pode-se optar pelo transporte coletivo no dia-a-dia ficando o transporte individual para o lazer, não se perceber que Curitiba tem o dobro da frota de Salvador e lá não se registram os problemas de trafego como em outras cidades. Mas o IPPUC- INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO, URBANO DE CURITIBA, não pára.
Continua pesquisando, planejando e procurando alternativas visando melhorar o sistema.
* Almir Ferreira Santos é Engenheiro Civil, especialista em transportes urbanos. No Governo do Estado da Bahia, participou da elaboração do Programa Estadual de Logística de Transportes- PELTBAHIA.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Festa de Santa Bárbara/ Iansã, dá inicio ao calendário de festas em Salvador

O início do calendário de festas religiosas em Salvador começou na manhã de sexta feira com as comemorações da Festa de Santa Bárbara. Quase seis mil pessoas se reuniram nas ruas do Centro Histórico para homenagear Santa Bárbara, para os devotos católicos, e Iansã, para os fiéis do candomblé.
A festa, que rende homenagens à santa católica e à orixá ao mesmo tempo, já completa 135 anos. Desde 1874, as ruas da Baixa dos Sapateiros são tingidas de vermelho e branco em adoração à deusa da guerra, dos ventos, da tempestade. Para os católicos, a adoração é para a mulher que foi exemplo de fidelidade e firmeza, mesmo frente ao martírio. Pelas ruas do Pelourinho, no Mercado de São Miguel e na Barroquinha, o samba e as batucadas tomam conta do cenário.
A Boiada Multicor, coordenada pelo professor Jorge Conceição, segue pela Rua Gregório de Mattos e se apresenta pela primeira vez na festa de Santa Bárbara.
A tradição da festa é antiga. Aos 82 anos, Dona Maria Bernadete da Conceição, uma das coordenadoras da paróquia de Santa Bárbara, é testemunha ocular de anos de homenagens. Todo 4 de dezembro, veste-se de vermelho e branco. No pescoço, carrega o símbolo maior do sincretismo religioso, as contas de Iansã e uma medalha das Devotas de Santa Bárbara. "Eu amo essa santa. Essa é uma tradição dos antigos, que vem dos antepassados e vai passando de pai para filho, de uns para os outros", afirma, emocionada.
Pelourinho - A festa, no entanto, não parou com o cortejo oficial. As ruas do Pelourinho receberam shows durante o dia, com muito samba e apresentações de capoeira. As atrações itinerantes deste ano incluíram o Cortejo Maracatu da ONG Acasa, os Meninos do Pelô, a Boiada Multicor e o Swing do Pelô.
Já a programação musical contou com Jorginho Comancheiro, Grupo Terra Brasilis, Juliana Ribeiro, Alísio Menezes e Portela, Samba de Barbinha, Pagobanda, Band’Afro Detona, Walmir Lima, A Mulherada, Aquarela do Samba e Neto Balla e Profissão Samba.
Os shows, com exceção de Neto Balla e Profissão Samba, foram gratuitos e iniciaram a partir das 14horas desta sexta-feira, distribuídos entre as ruas do Centro Histórico, o Largo do Pelourinho, o Mercado São Miguel, o Terreiro de Jesus, e os largos Pedro Arcanjo, Tereza Batista e Quincas Berro D’Água.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Tributo a Rômulo Almeida

CLAUDIA CORREIA*
Dia 23 de novembro de 1988 falecia inesperadamente o brilhante homem público Rômulo Almeida. Como temos uma frágil memória histórica, poucos lembram de sua obra. Economista, nascido em Salvador de família de Santo Antônio de Jesus, ganhou nome de viaduto, de escola estadual e de rua. É muito pouco para a sua trajetória exemplar, repleta de contribuições ao desenvolvimento socioeconômico e cultural da Bahia, do Brasil e da América Latina.
Ele esteve presente na história de grandes empreendimentos brasileiros como a Fundação Casa Popular, a Petrobras, a Eletrobrás, a Confederação Nacional da Indústria, o Banco do Nordeste, a Sudene, a Rede Ferroviária Federal, o BNDES, a Capes e o Ibam, entre outros. Na Bahia, projetou a pioneira Comissão de Planejamento Econômico (CPE), a Coelba e o Polo Petroquímico de Camaçari.
Rômulo foi um visionário, um planejador humanista, um político sem vaidades. Era dotado de uma humildade típica dos sábios, que constrangia os que fazem da política trampolim para enriquecer a qualquer custo, dominar e ser bajulado.
Ele nunca quis ser mito, foi sempre um homem simples, de hábitos comuns e ao seu modo, muito amoroso. Concedia entrevistas a estudantes ávidos por conhecimento com o mesmo respeito que prestava atenção em monótonos discursos de intelectuais e políticos.
A última imagem que guardo de Rômulo, é ele sentado na varanda de sua casa na Pituba, com a “praguinha” do candidato Virgildásio Sena na camisa branca, no dia da eleição para prefeito de Salvador, quinze dias antes de falecer em 1988. Como de praxe, ele tinha percorrido algumas seções eleitorais e descansava brincando com o neto enquanto esperava o almoço ser servido.
Tive o privilégio de conviver com Rômulo de perto e observar cada gesto, ouvir cada ideia, compartilhar de algumas viagens por estradas empoeiradas na campanha de Waldir Pires ao governo da Bahia em 1986. Lembrar sua intensa presença na cena política e econômica nos desafia a ter esperança para superarmos a crise mundial e seguirmos perseguindo um desenvolvimento econômico com justiça social e equidade.
*Claudia Correia – Assistente social, jornalista

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Coleção Rodin na Bahia

Alem das quatro obras instaladas nos jardins do Palacete, mais 62 peças originais em gesso de autoria de Auguste Rodin fazem parte da Coleção Rodin na Bahia. Entre os trabalhos expostos, destacam-se inúmeros estudos feitos por Rodin para a criação da Porta do Inferno. Das obras mais conhecidas , o público poderá apreciar: O Beijo, A Defesa e principalmente o Pensador.
"Nessa Exposição, o gesso triunfa porque tais peças receberam diretamente as mãos do escultor. Elas são autênticas, e se pode ler nos escritos deixados por Rodin a explicação do processo criativo, no qual ele se coloca como escultor cheio de entusiasmo."
"A primeira ideia a nos fazer refletir é a que o gesso é a matéria prima que precede, invariavelmente, o uso de materiais nobres e caros como o bronze e o mármore, ambos raramente executados pelo próprio artista. O bronze é preparado no ato da fundição e o mármore, em geral, é talhado por auxiliares práticos sob supervisão do artista. Já em relação ao bronze, pode-se afirmar que as esculturas como Balzac monumental e até mesmo a famosa Porta do Inferno só foram produzidas em metal depois do falecimento do escultor e à partir de moldes em gesso, esses sim feito por Rodin, que jamais enquanto vivo realizou pessoalmente alguma fundição de suas obras."
(Heloisa Helena Costa - consultora científica da Coleção Rodin na Bahia)
O Pensador
Esta obra foi criada em 1880 medindo 70cm, e aparece na modelagem da Terceira Maquete da Porta do Inferno.
Inicialmente recebeu o título de O Poeta, representando Dante, autor da Divina Comédia, que inspirou a Porta do Inferno.
Era o criador meditando sobre sua criação. Em 1889 recebeu o nome de O Pensador: " era a um só tempo um ser em um corpo torturado, quase um condenado, e um homem de espírito livre, decidido a transcender seu sofrimento através da poesia (Francis Blanchetiere, 2008).
" Quando um bom escultor modela um torso humano, não somente os músculos que ele representa é a vida que os anima...melhor que a vida... sua força que lhes dá forma e lhe comunica seja a graça, seja o charme, seja o fogo indomado" (Rodin, 1911).
" Esforcei-me por fazer sentir em cada intumescência do torso ou dos membros o afloramento de um músculo ou de um osso que se desenvolvia em profundidade sob a pele. E desta forma a verdade das minhas figuras, em vez de superficial, parecia desabrochar de dentro para fora como a própria vida..." (Auguste Rodin, em O Modelado, de Paul Gsell)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SALVADOR , ENTRE AMIGOS

A Fundação Pierre Verger, a PriceWaterhouseCoopers (PwC) e a Solisluna Design Editora lançaram ontem no Palacete das Artes, em Salvador , o segundo livro da trilogia Entre Amigos, Carybé, Verger & Caymmi – Mar da Bahia. O livro celebra a arte e, sobretudo, a grande amizade entre esses personagens e criadores do século XX que escolheram a Bahia e o jeito de viver de sua gente como motivo e cenário para suas obras.
O mar da Bahia foi o grande inspirador, quiçá uma fonte de encantamento determinante para as artes, odes de amor à terra e ao povo baiano dessas três personalidades de origens distintas, mas com olhares e percepções convergentes: o fotógrafo e pesquisador francês Pierre Verger; o argentino-baiano pintor de múltiplos fazeres Carybé e o músico baiano, também pintor nas horas vagas, Dorival Caymmi.
– É um orgulho e uma honra apresentar esse trabalho sobre os três baianos fundamentais que desenharam, fotografaram e cantaram a Bahia de uma forma indelével – afirma Gilberto Sá, presidente da Fundação Pierre Verger.
Em Carybé, Verger & Caymmi – Mar da Bahia, o leitor irá perceber o colorido das fotos em preto e branco da velha rolleiflex do gênio Verger, bem como toda a riqueza dos traços singulares de Carybé, prenhes de movimento e poesia que retratam o cotidiano da época em que as velas dos saveiros enfeitavam o azul das águas da Baía de Todos os Santos e ainda se presenciava a pesca do xaréu nas praias do litoral norte da histórica Salvador. Tudo isso embalado pelas magníficas canções praieiras de Caymmi, poesia pura na sua voz grave e num violão com sonoridade de ondas na praia.
– Não é um livro de arte, e sim da amizade entre três artistas – define bem o editor Enéas Guerra, idealizador da publicação da série Entre Amigos e responsável pela concepção, edição e design do livro.
Do ponto de vista editorial, o texto indica os caminhos que levarão o leitor ao encontro dos três personagens e suas criações em torno da magia do mar.
– A ideia do escrito é incitar o leitor a vivenciar como foi a intensa relação entre eles e relatar, de forma leve e bem humorada, os encontros, as curiosidades e os olhares convergentes destes símbolos da baianidade – conta o jornalista José de Jesus Barreto[*], autor do texto que é fundamentado em pesquisas do acervo da Fundação Pierre Verger, da família Carybé, entrevistas e depoimentos.

O diálogo das imagens captadas pela rolleiflex de Verger e pelos traços de Carybé, produzidos entre os anos 40 e 60 do século passado, está cerzido pelos poemas de Caymmi.
O pescador cantado por Caymmi é o mesmo fotografado por Verger, desenhado por Carybé. Os saveiros que chegam e saem do cais e rasgam as águas da baía, as festas para Iemanjá, o Bom Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Conceição da Praia servem de inspiração para as canções-poemas, as pinturas e as fotos dos artistas – conteúdo desse trabalho.
O mar é o caminho, elo, destino e musa. O livro pretende ser uma celebração de amizade e da criação deles diante dos mistérios do reino de Iemanjá.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

As grandes cidades perderam a escala humana

Trechos da entrevista com o psicanalista Marcelo Veras à revista Muito, onde fala sobre as relações humanas e alerta para o fato de que estamos caminhando para a solidão.

O que Mudou nas relações entre as pessoas?
MV. As relações são mais rápidas e, forçosamente, mais efêmeras. A construção de uma relação requer um certo tempo, e o que vemos hoje são pessoas que não toleram a frustação do tempo longo, aquilo que a gente costuma chamar de fobia do tempo lento. Uma prova disso é que quando a internet começou a povoar a nossa vida, demorava um século para baixar uma página, hoje, o mínimo que o computador demore para responder já angustia a pessoa, a gente quer comprar um computador mais veloz, a gente não suporto mais esperar.
A internet tornou as relações entre as pessoas mais difíceis?
MV Isso pode tornar as relações mais difíceis. É claro que tem sempre quem diga que é facilitador, então não emito nenhum discurso de cunho moralizante, mas é difícil as pessoas se encontrarem hoje. As cidades tomaram uma dimensão tão gigante que é claro que nossos filhos precisam recorrer aos chats para se encontrar. As grandes cidades perderam a escala humana. Antes você andava na rua e enxergava a vizinha do segundo andar, hoje as proporções são muito altas e não se sabe o que se passa nestes prédios.
Por que as pessoas tem tanta dificuldade em se relacionar hoje?
MV Porque os novos ideais são eminentemente mais egoístas. Hoje temos uma sociedade onde o que vale é a imagem efêmera do sucesso. As pessoas buscam isso. Basta ver a proliferação de revistas onde só se mostram imagens. E essas imagens não traduzem as pessoas, não mostram o que são de verdade. Se você pega uma dessas revistas, percebe que 95% das imagens são de pessoas rindo. Elas não estão mais felizes. O que me preocupa é que vivemos num mundo onde há um imperativo da felicidade. A doutrina da felicidade ligada ao sucesso e à ideia de que alguém não seja feliz está errada.
Mas hoje as pessoas se acostumaram a confundir tristeza com depressão.
MV Pois é, mas a depressão é uma doença séria, que não pode ser banalizada, transformando todo mundo numa comunidade deprimida. Exatamente porque é muito séria. Não podemos nivelar por baixo ou, como já foi proposto certa feita, que determinados remédios fizessem parte da composição da água da cidade, como flúor, por exemplo.
O sexo sempre foi tabu para a maioria das pessoas. Ainda é?
MV No fundo, na aparente liberação sexual, você pode tudo. Você entra em pane de desejo. O desejo pede certo distanciamento porque exige manter aquilo que se deseja numa relação de satisfação. Aquele que só consegue se satisfazer através do objeto acaba se tornando um adicto. Ele confunde a satisfação do desejo, do postergar dessa satisfação, com o imperativo de satisfazer o desejo a qualquer preço.
Por que as pessoas se separam tanto e tão rápido nos dias de hoje?
MV As separações são comuns porque vivemos na cultura do descartável, do rápido. Tratamos a vida amorosa como manager, não tá bom, bota outro no lugar. O compromisso é muito mais com a rapidez, com a resolução das coisas, do que ter tempo necessário para o relacionamento.
Isso não vai nos levar à solidão?
MV Nós já estamos num mundo onde há muita solidão. E é um mundo em que a gente deve estar muito atento para ele, que é muito particular, porque é a solidão entre muitos. O que faz a verdadeira troca social é a possibilidade que temos de suportar o outro com as suas diferenças. Existe uma modalidade de solidão em grupo que tem uma certa tendência à segregação. É a "guetificação" dos meios, onde eu só consigo me sentir em grupo dentro da minha tribo.
Entrevistador: Ronaldo Jacobina
*Marcelo Veras é psicanalista. Graduou-se, em 1983, em Medicina pela Universidade Federal da Bahia. Após a faculdade, foi residente de psiquiatria do Hospital Universitário Professor Edgard Santos. Em seguida, tornou-se mestre em Psicanálise pela Université de Paris VIII e doutor em Psicologia pela UFRJ. Ocupou por sete anos a direção geral do Hospital Juliano Moreira, tendo sido presidente da comissão de Saúde Mental do Estado da Bahia. Após passar pela Direção Adjunta do Complexo Hospitalar Prof. Edgard Santos, Veras desempenhou o papel de Assessor do Reitor da UFBA para assuntos de saúde. Atualmente é o diretor executivo da Fapex- Fundação de Apoio à Pesquisa e a Extensão da Ufba.

Novos diretores da Fapex

O psiquiatra e psicanalista da UFBA, Marcelo Frederico Augusto dos Santos Veras, e a administradora Lilia Kátia Andrade Nunes(foto) compõem a nova diretoria da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão (FAPEX).
A nova diretoria pretende continuar fazendo da Fundação uma instituição fundamental na pesquisa científica da Bahia. Para o novo diretor, “A FAPEX é uma instituição que comemora seus 30 anos de apoio a UFBA e que, a partir deste ano, passa a apoiar igualmente a UFRB. Temos o objetivo de afirmar nossa capacidade gerencial, respondendo com celeridade e rigor jurídico às diversas demandas emanadas por nossos colaboradores, e que visam construir a ciência e os novos saberes deste início do século XXI”.

domingo, 29 de novembro de 2009

Movimento SOS Barra

SOS Barra no Farol hoje - quem não foi perdeu uma oportunidade unica e uma emoção enorme de ver a democracia em ação , o voluntariado e a iniciativa privada/comunitaria fazer acontecer!
Ainda ha' tempo. Tome uma atitude pro-ativa em prol da comunidade e da cidade. Faça um minimo de sacrificio, pelo bem comum."

SOS BARRA

No dia 21 de Outubro, 2009, formou‐se um grupo de simples cidadãos preocupados com o lastimável estado em que se encontra a Barra , cartão postal da Bahia. Esse grupo convida a comunidade a vestir‐se de branco e se reunir no Farol da Barra, em 29 de novembro, Domingo, às 10 hrs., para o lançamento do movimento S.O.S. Barra; que tem como objetivo chamar a atenção das autoridades e iniciar um dialogo para que sejam tomadas medidas efetivas, no sentido de restaurar a dignidade à área, destino de turistas de todo o mundo.
Alguns pontos sobre o movimento:
O movimento não é’ partidário.
O movimento não é’ baseado em personalidades.
O movimento é’ uma iniciativa comunitária, cuja gestão se dá por colegiado, aberto ao público.
É uma iniciativa, na tentativa de incentivar o envolvimento de parte do setor privado.
É uma iniciativa reivindicando ação de parte dos órgãos governamentais que tem jurisprudência sobre as áreas de:
‐ Planejamento urbano
‐ Desenvolvimento Social
‐ Patrimônio histórico
‐ Cultura‐ Turismo
‐ Segurança publica
‐ Meio ambiente
‐ Transito
Almejamos também a formação de um conselho voluntario, formado por arquitetos, designers, artistas plásticos, paisagistas, urbanistas e demais cidadãos atentos à questão e desejosos de somar esforços – para a determinação de medidas a serem tomadas para melhorias na região. Agradecemos de antemão a sua presença, assim como a sua participação na divulgação do evento, que poderá ser um despertar de consciência entre os cidadãos em prol da cidade
.Contato: sosbarra@hotmail.comsosbarra.blogspot.comFaceBook: SOS Barra

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Série "Ó Paí, Ó" une diversão e reflexão em doses certeiras

HUGO POSSOLO
Faço o mea-culpa! Achei que "Ó Pai, Ó" era cinema axé. Fui preconceituoso. Não danço axé, não ouço axé, mas transaria com qualquer uma das Sheilas. A Bahia é muito mais. Não vi o filme nem a peça. Muito menos li o livro. Agora o farei. Isso depois que assisti aos DVDs de "Ó Pai, Ó", com direção geral de Monique Gardenberg, lançados pela Som Livre. A série tem roteiro conciso e preciso, com diálogos inteligentes. Os roteiristas Guel Arraes e Jorge Furtado emprestam conhecimento da linguagem cinematográfica, coisa rara às séries brasileiras, aliando seus talentos à visão dos diretores de cada episódio, que marcam seus estilos sem ferir o eixo narrativo geral. Por ter sido criado em teatro pelo Bando de Teatro Olodum, adaptado para cinema e, depois, para série, pela mesma trupe, o projeto ganha em cada detalhe. Cada personagem está moldado aos atores. Facilitam a narrativa e jamais fogem da fábula original.
Periferia
É animador que a maior produtora de ficção do país, a Rede Globo, abra espaço para séries como "Antonia", "Cidade dos Homens" e "Ó Pai, Ó", que estabelecem um olhar sobre a periferia e contam, em diferentes cores, histórias riquíssimas sobre a vida dos brasileiros reais. Não importa que seja a favela carioca, os manos e as minas paulistanos ou que nos retirem o olhar turístico sobre o Pelourinho, em Salvador. As séries nos têm feito encontrar com uma brasilidade que a televisão escondeu por anos. Chega da favela de novela, maquiada para parecer melhor do que é.Nessas séries, os pobres são o que são. Desejam uma saída, mas nem por isso são raivosos e sem alegria. Vivem seus amores e humores, são personagens humanos, nada plastificados, conquistando o público. Em "Ó Pai, Ó" cada episódio, com sua trama bem tecida, despreocupada de quem a protagoniza, revela talentos. Contam-se boas histórias, de maneiras interessantes, não se restringindo a ser mero entretenimento. Jogam delicadas questões ao espectador, como a do mendigo Negócio Torto, que, ao tentar curtir um show junto a outros um pouco menos pobres que ele, acaba levando uma surra de um segurança. Até o excluído dos excluídos tem uma história a ser contada. Da aldeia baiana, desfrutamos histórias de como o Brasil é universal. Vai além da denúncia da violência, triste e necessária, e mostra que os pobres, cheios de contradições e alegria, têm voz e vez. Não é simples ter essa visibilidade na Globo. É uma conquista. E, melhor, é feito com apuro técnico e visão artística sensível, importantes para nossa cultura. Diversão que não se priva de provocar reflexão.Quando tanto se fala no papel da televisão pública, a maior emissora privada do país dá um excelente exemplo de obras de ficção que têm qualidade e audiência significativas.
HUGO POSSOLO, 46, é palhaço, dramaturgo e diretor do grupo Parlapatões e do Circo Roda Brasil
Artigo originalmente publicado no jornal Folha de São Paulo

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Nova geração de empresários se integra à FIEB

Osvaldo Campos *
Nesta terça-feira foi implantado pelo presidente Victor Ventin (foto) da Federação das Indústrias do Estado da Bahia,, o Conselho para o Desenvolvimento Empresarial Estratégico - CODE. Reunindo uma nova geração de empresários, atuantes nos mais diversos setores da economia baiana, o CODE terá como principal desafio estimular dinâmicas de desenvolvimento a partir dos novos vetores de industrialização da Bahia. Sob a coordenação geral do empresário Clovis Torres (foto), vice-presidente executivo da BAMIM- Bahia Mineração Ltda, empresa que está implantando na região de Caetité uma unidade de produção de Ferro e um terminal portuário na Ponta da Tulha, em Ilhéus.
Entre os diversos empresários presentes, representantes de uma nova geração que passa a integrar o quadro de conselheiros da FIEB, destaque para a presença de Carmine Di Siervi da OAS Empreendimentos, Marcos Galindo Lopes, MGL Construções LTDA , Octavio Bulcão Nascimento, MMSO Advogados e Gustavo Queiroz Moises, Morya PropagandaLTDA, (foto).
O CODE terá como Objetivo estratégico apoiar a Fieb, estimulando as empresas industriais para a construção e implementação de estratégias de mobilização de agentes econômicos e poder público, para viabilizar o desenvolvimento sócio econômico com sustentabilidade ambiental.
Premissas Estratégicas do CODE
1. A formação de renda é definida pela competitividade global mas sua sustentabilidade requer o desenvolvimento local;
2. A expansão industrial deve ser potencializadora do emprego e não necessariamente, empregadora;
3. A sinergia eficaz envolve múltiplos setores;
4. A inovação deve ser focada na competitividade;
5. Os investimentos compensatórios não são eficazes para a sustentabilidade do desenvolvimento sócio-econômico;
6. O dilema entre estimular grandes empreendedores de fora ou estimular pequenas empresas locais é falso.
Objetivos Específicos do CODE
1. Estimular a potencialização das demandas geradas pela indústria para adensamento de cadeias de fornecedores locais;
2. Estimular a industrialização local e agregação de valor a partir da produção de indústria de bens primários e intermediários dos grandes empreendimetos;
3. Apoiar a atratividade de investimentos industriais e de comércio e serviços para enriquecimento do tecido empreendedor regional;
4. Promover o compartilhamento ou sinergia da infra-estrutura industrial para o atendimeto a demandas públicas; e
5. Apoiar e influenciar a gestão pública local na capacitação e mobilização de agentes econômicos disponibilizando inclusive as competências técnicas e empreendedoras focando a construção de pactos locais de desenvolvimento. para a melhoria dos indicadores sociais da população da Bahia.
De acordo com Clovis Torres, "é preciso abandonar a Teoria do Egoismo, que prega o Estado Mínimo e que cada um deva cuidar de seus interesses particulares". Na sua visão compete aos empresários contribuir para a melhoria dos indicadores da população da Bahia, sendo este um dos objetivos a serem perseguidos pelo CODE.
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* Editor deste blog, é Engenheiro Civil, Meste em Administração e especialista em Planejamento da Logística de Transportes. Integra o Conselho de Infraestrutura da Fieb desde 2001.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Ampliação do Porto de Salvador

José Rebouças *
O Governador Otávio Mangabeira popularizou a lógica segundo a qual, na Bahia, alguns eram capazes de gastar cem para que outros não ganhassem dez. No porto, essa pecha persiste em se perpetuar. Os desvios de perspectiva plantados, intencionalmente ou não, junto à opinião pública, vêm fazendo com que a rota das discussões sobre a ampliação do Porto de Salvador cada vez mais se afaste dos interesses dos usuários e da administração pública, provocando desnecessariamente os órgãos de controle, a exemplo do Tribunal de Contas da União, que arquivou representação formulada pelo Ministério Público Federal, por não encontrar qualquer eiva de irregularidade nas medidas até então adotadas pela Companhia das Docas do Estado da Bahia - Codeba. Por desiderato da Constituição Federal e da Lei dos Portos, a Codeba, em que pese ser constituída como empresa estatal, exerce, a um só tempo, a condição de concessionária de serviços públicos e de autoridade portuária. Alguns insistem em fingir desconhecer que a competência para definir as modificações no âmbito dos portos é da Autoridade Portuária em suas várias instâncias. A propósito, vale destacar a existência do Conselho da Autoridade Portuária (CAP), órgão multipartite que engloba todos os segmentos vinculados ao setor, que foi democraticamente instituído e detém a legítima representação dos interesses da comunidade portuária, que aprova todas diretrizes a serem observadas pela direção da Codeba. A Codeba apresentou recentemente uma proposta de expansão do Porto de Salvador, que consiste, resumidamente, em três ações: 1) ampliação do berço do terminal existente, acrescendo sua retroárea; 2) dragagem de aprofundamento de 12 para 15 metros de profundidade, cuja ordem de serviço será dada pessoalmente pelo ministro da Secretaria Especial de Portos, Pedro Brito, em Salvador; e 3) construção de um segundo berço, no mínimo de igual dimensão ao berço do terminal atual. A ampliação do terminal (foto) atual se justifica, pois este está operando no limite de sua capacidade e com berços de atracação de dimensões impróprias. Já a dragagem de aprofundamento permitirá o acesso de embarcações de maior porte, cujo calado é superior à profundidade encontrada no porto, merecendo aqui destacar que já foram obtidas as licenças ambientais e assegurados os recursos no PAC. Quanto à construção do segundo berço, o projeto já se encontra pronto e a obra será em breve licitada, tendo em vista que o ministro Pedro Brito assegurou a destinação de recursos, que giram em torno de R$ 80 milhões. Concluída esta etapa, que se iniciará em 2010, terá curso a continuidade da ampliação levando-se em conta a demanda do mercado e a manifestação de interessados em ofertar estudos de viabilidade para a realização de licitação para construção e arrendamento de outro terminal de contêineres, desde que compatíveis com os planos do governo brasileiro, através das ações desta Autoridade Portuária. A intenção da Codeba é atender aos usuários do porto, definidos na lei como aqueles que se servem da operação portuária, que consiste na movimentação de passageiros ou de movimentação ou armazenagem de mercadorias, destinados ou provenientes de transporte aquaviário, realizada no porto organizado por operadores portuários. Estes são os destinatários principais das ações da Autoridade Portuária, que tem a missão de fomentar investimentos privados, atraindo consequentemente mais cargas e, atuando como mediador entre prestadores de serviços e consumidores no âmbito do porto. São paradoxais e estranhas as reações de empresários do setor quando, de forma inédita, reclamam do investimento do governo federal numa realização que deveria ser feita pela iniciativa privada. Sobre a ampliação do Porto de Salvador se afiguram injustas as críticas contra a Codeba, pois a alegada demora na ampliação do porto não significa atraso, mas as dificuldades para mudar certos paradigmas e culturas que de há muito nela aportaram, inculcadas por aqueles que se fixaram no cais, voltados de costas e com os olhos fechados para a nossa cidade, nosso estado e o país, querendo fazer crer que seus interesses eram os interesses da sociedade.
* Presidente da Companhia Docas do Estado da Bahia

domingo, 22 de novembro de 2009

BAHIA, O LUGAR IDEAL

ARNALDO JABOR
Não consigo ir embora da Bahia.
Acabaram minhas férias e continuo aqui.
Mesmo que eu viaje, levarei a Bahia comigo.
Não se trata de louvá-la; quero entendê-la, não com a cabeça, mas com o corpo, com as mãos, com o nariz, entender como um cego apalpa um objeto, entender por que este lugar é tão fortemente estruturado em sua aparente dispersão.
Aí, descubro que, ao contrário, a Bahia me ajuda a “me” entender. Não sou eu quem olha; a Bahia que me olha de fora, inteira, sólida, secular, a paisagem me olha e fica patente minha alienação de carioca-paulista, fica evidente meu isolamento diante da vida, eu, essa estranha coisa aflita que está sempre entre um instante e outro, sem nunca ser calmo, inconsciente e feliz como um animal.
Na Bahia, vejo-me neurótico, obsessivo, sempre em dúvida, ansioso.
Gostaria de estar na praia de Buraquinho, quieto, dentro do mar, como um peixe, como parte da geografia e não fora dela.
Ninguém aqui se observa vivendo. Salvador não é uma “cidade partida” como é o Rio, nem a cidade que expele seus escravos, como São Paulo, que um dia será castigada, estrangulada por sua periferia.
Aqui, de alguma forma misteriosa, os pobres e negros, mesmo sem posses, são donos da cidade.
A cultura africana que chegou nos navios negreiros, entre fezes e sangue, parece ter encontrado a região “ideal” neste promontório boiando sobre o mar, batido de um vento geral, para fundar uma cidade erótica e religiosa, plantada nos cinco sentidos, fluindo do corpo e da terra.
Os casarios subiram os montes, desceram em vales por necessidades dos colonos e dos escravos do passado, o espaço urbano foi desenhado pelo desejo dos homens.
A Bahia foi o lugar perfeito para a África chegar.
Tudo se sincretiza, natureza e cultura.
Espírito e matéria se unem como um bloco só, amores e vinganças fluem no sangue dos galos e dos bodes, esperanças queimam nas velas de sete dias, todas as coisas se amontoam num grande procedimento barroco de não deixar vazio algum, nada que sobre, que fique de fora, nada que isole matéria e gente.
Os deuses não estão no Olimpo; são terrenos e florestas, estão na rua, no dendê, dentro da planta.
Consciência e realidade não se dividem, o povo e o mundo são a mesma coisa, e isso aplaca as neuroses, as alienações das megacidades onde o homem é um pobre diabo perdido no meio dos viadutos.
Como nas fotos do Mário Cravo Neto, tudo se une em um só bloco: o alvo pato e a mão negra, a mulher nua e a pedra, o nadador, o sol e a água, as frutas, os cestos e as bocas, as plantas e os pés, os búzios e os segredos, os santos e os orixás, as mãos e o tambor, a fome e a carne, o sexo e a comida.
Tenho uma espécie de inveja e saudade desta cultura integrada, dessa sociedade secreta que vejo nos olhares das pessoas falando entre si, uma língua muda que não entendo, tenho inveja da palpabilidade de suas vidas materiais, tenho inveja da grande tribo popular que adivinho nos becos e ladeiras , das pessoas que riem e dançam nas beiras de calçada, que se amam na beira do mar. Tenho inveja desta cultura calma que vive no “presente”, coisa que não temos mais nas “cidades partidas”, sem passado e com um futuro que não cessa de não chegar.
Nesta época maníaca e americana, que se esvai sem repouso, aqui há o ritmo do prazer, a “sábia preguiça solar” de que falou Oswald e que Caymmi professa.
A civilização que os escravos trouxeram criou esta “grande suavidade”, este mistério sem transcendência, este cotidiano sem ansiedade, esta alegria sem meta, esta felicidade sem pressa. Aqui a cultura vem antes da lei.
Aqui o soldado na guarita é um negro com passado e orixás, dentro da roupa de soldado.
O bombeiro, o vendedor, o pescador, o vagabundo se comunicam e existem antes das roupagens da sociedade.
Até se travestem, se fantasiam deles mesmos nos horrendo resorts caretas da burguesia, mas não perdem a alma para o diabo, defendidos pela vigilância de seus Exus.
A sinistra modernidade tenta adquirir a Bahia, possuí-la, apropriar-se das praias, das ilhas, dos panoramas.
Mas mesmo o progresso urbano e tecnológico aqui fica domado de certo modo pela cultura, que resiste a esses embates.
Os balneários turísticos aqui me parecem meio patéticos, meio Miami na vivência luxuosa dos acarajés, camarões e
uísques trazidos por serviçais iaôs e mordomos de cabeça feita.
Aqui não se veem os rostos torturados dos miseráveis do Rio e São Paulo: a pobreza tem uma religião terrena costurando tudo.
As festas do ano inteiro não são diversionistas, orgiásticas, para “divertir” – são para integrar. As festas têm uma
religiosidade pagã, sem sacrifícios, sem asceses torturadas de olhos virados para o céu.
Nada sobrou do barroco europeu sofrido; prosperou o barroco gordo, pansexual, com as frutas, os anjinhos nus, os refolhos e os européis invadindo o convulsivo barroco da contra-reforma, com as curvas carnavalescas nas igrejas cheias de cariátides peitudas, sexies, gostosas, como as mulatas do Pelourinho.
Não é uma sociedade, mas um grande ritual em funcionamento.
O Brasil aflito, injusto, imundo, inóspito devia aspirar a ser Bahia. Aqui dá para esquecer o jogo sujo do Congresso em
Brasília, revelando a face oculta dos bandidos com imunidade, emporcalhando a democracia, aqui você não morre afogado na enchente da marginal do Tietê, nem o Ronaldinho é assaltado com revólver na cabeça.
Não conheço lugar mais naturalmente democrático.
E, por isso, não consigo ir embora.
Vou comprar uma camiseta “NO STRESS” e ficar
bebendo um frappé de coco para sempre.
Arnaldo Jabor – Porto da Barra – Salvador / BAHIA
*Artigo originalmente publicado no Jornal O Globo

sábado, 21 de novembro de 2009

POR QUE OS ACIDENTES ACONTECEM

Almir Ferreira Santos
Muitas são as causas dos acidentes de trânsito. Alguns peculiares de Salvador. Em linhas gerais as vias, com traçados irregulares, uma sinalização precária ou inexistente, as condições climáticas, chuva ou neblina, o veículo mal conservado, o pedestre ao atravessar a via fora da faixa ou com o sinal fechado, o condutor...Este último, segundo as estatísticas, é responsável pelo maior percentual de acidentes. Vejamos as principais causas de acidentes cometidos pelo condutor: 1 – Álcool e direção, sem comentário; 2 – Velocidade acima da regulamentada; 3 – Não observar a sinalização; 4 – Uso do celular na direção; 5 – Imperícia; 6 – Má formação de condutores; 7 – Não respeitar o pedestre ou o ciclista; 8 – Trafegar com os faróis apagados durante a noite; 9 - Impudência dos motociclistas; 10 - Primeiro lugar, Salvador é o único lugar que se conhece onde o passageiro, mesmo no ponto de parada tem que correr para embarcar no ônibus. Assim os passageiros se batem tropeçam caem. Folclore. Pára-se o ônibus de qualquer forma, afastado do meio-fio,em fila dupla, além do ponto, isso quando o motorista pára. Uma indisciplina total. O motorista dá partida com as portas abertas mal o passageiro coloca o pé no primeiro degrau. Nesse aspecto há registros de muitos acidentes, alguns fatais. Nem os idosos são respeitados. Não se conhece nenhuma providência da Prefeitura para corrigir essa postura.
HUMANIZAR O TRÂNSITO E O TRANSPORTE. É POSSÍVEL

Na foto, um trágico acidente envolvedo um ônibus e 4 carros em Salvador, que deixou uma vitima fatal. O motorista do ônibus perdeu o controle do veículo, em alta velocidade, atingiu quatro carros e se precipitou pela ribanceira, até parar com pneus enterrados na areia da praia. Uma médica que estava no Peugeot morreu na hora. Na foto, o desespero dos filhos. IRRESPONSABILIDADE E IMPUNIDADE NO TRÂNSITO! ATÉ QUANDO?

Lula na Bahia prega a paz entre árabes e judeus

As negociações de paz no Oriente Médio e a troca de experiência em áreas como agricultura e esporte. Esses foram os assuntos da reunião entre o governador Jaques Wagner, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, e o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, realizada ontem na Santa Casa de Misericórdia, em Salvador.
Durante o encontro, o presidente Lula defendeu a criação do Estado palestino, o fim da construção de colônias judaicas no território da Cisjordânia e o respeito à liberdade do povo da Palestina.
"A paz justa e duradoura na região depende do estabelecimento de um Estado palestino próprio, coeso, sem restrições, que garanta a segurança de Israel e tenha seus direitos e de sua população respeitados", disse Lula.
Para ele, a comunidade internacional não pode se conformar com menos do que isso. "A expansão dos assentamentos na Cisjordânia deve ser congelada e as fronteiras do futuro Estado palestino devem ser preservadas."
Lula aproveitou o encontro para mandar um recado às outras nações. "Acho que todos, do menor ao maior país do mundo, precisam colocar em suas prioridades a busca pela paz no Oriente Médio", apontou o presidente. Lula também falou sobre o estreitamento das relações entre o Brasil e o mundo árabe.
"Nós abrimos um escritório de representação em Ramallah, criamos o cargo de embaixador extraordinário para o Oriente Médio e ajudamos a organizar a cúpula América do Sul - Países Árabes. Ao mesmo tempo, o volume de negócios entre nós quadruplicou desde 2002, e um futuro acordo de livre comércio entre o Mercosul e a Palestina reforçará ainda mais esses números", disse o presidente.
O presidente da ANP agradeceu o apoio do presidente Lula e do povo brasileiro, que considera um exemplo para a humanidade. "O mundo precisa aprender com a experiência brasileira – todos os povos, de todas as origens, convivendo em paz independentemente da cor, do sexo e da religião."

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Economia brasileira está em fase de "boom", diz pesquisa


A economia brasileira passou "para a fase de "boom" e se destacou entre as demais da América Latina, com um ICE (Índice de Clima Econômico) de 7,4 pontos em outubro, segundo pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas) elaborada em parceria com o instituto alemão Ifo. Em julho, o indicador estava em 5,5 pontos. O Brasil também lidera entre os Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China). A Índia ficou com 7 pontos; a China chegou a 6,5 pontos e a Rússia foi para 4,7 pontos. O ICE mundial foi de 5,1 pontos.O ICE é composto pelo Índice da Situação Atual (ISA), que trata do desempenho econômico do país no momento da pesquisa, e pelo Índice de Expectativas (IE), que aborda as previsões para os próximos seis meses. O ISA no Brasil aumentou de 4,3 para 6,4 pontos e o IE passou de 6,6 para 8,4 pontos. "O Brasil se destaca por apresentar os maiores índices da região, seja o de clima econômico, situação atual ou de expectativas", informou a FGV em comunicado. A sondagem é feita trimestralmente com especialistas de cada país. Em outubro foram consultados 142 técnicos em 16 países.
Moody's
A Moody's Economy.com, uma divisão da agência de "rating" Moody's, projeta um crescimento ""em torno de 4,5%" para a economia brasileira em 2010. A previsão faz parte de relatório divulgado ontem, onde consta também a expectativa de que a taxa básica de juros não sofra ajustes "antes do final do ano que vem". Para 2009, o economista-chefe Alfredo Coutino calcula um crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) entre 0,5% e 1%.Em outro relatório, também divulgado hoje, a OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico) reportou que vê um país ainda estagnado, mas se recuperando com força em 2010 (crescimento de 4,8%) e 2011 (4,5%).

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Caetano esclarece entrevista em que chamou LULA de "analfabeto"

Caetano Veloso, indignado com o destaque dado pela mídia ao trecho de sua entrevista ao Estadão em que ele chama o presidente Lula de analfabeto e cafona, esclarece o contexto em que isso foi dito, mas em nenhum momento retira a declaração.
Pelo contrário, classifica esse trecho pinçado do seu comentário sobre Marina Silva como o “óbvio” – e o óbvio ululante! Ou melhor: uLULAnte.
Veja trecho da entrevista:
“Não posso deixar de votar nela. É por demais forte, simbolicamente, para eu não me abalar. Marina é Lula e é Obama ao mesmo tempo. Ela é meio preta, é cabocla, é inteligente como o Obama, não é analfabeta como o Lula, que não sabe falar, é cafona falando, grosseiro. Ela fala bem”, disse na entrevista. A declaração provocou reações no meio político. Na sexta-feira, o próprio Lula reagiu. “Tem gente que acha que a inteligência está ligada à quantidade de anos de escolaridade que você tem. Não tem nada mais burro do que isso.”
Veja a íntegra da carta de Caetano Veloso:
“O que mais me impressiona é as pessoas reagirem diante da manchete do jornal, tal como ela foi armada para criar briga, sem sequer parecerem ter lido o trecho da entrevista de onde ela foi tirada. É um país de analfabetos? A intenção sensacionalista da edição tem êxito inconteste com os leitores. Pobres de nós.
Sonia Racy sabe que eu ressaltei essa diferença entre Lula e Marina para explicar por que eu dizia que ela é também um fenômeno tipo Obama (coisa que Racy e Nelson Motta não entenderam). Marina é Lula (a biografia) e é Obama (a cor escura e o modo elegante e correto de falar – e escrever). Li aqui que Lula disse que é burrice minha dizer isso. É. Serve para Berzoini contar alegremente votos migrando de Serra ou Aécio para Marina, não de Dilma. Ainda mais que toca nesse ponto óbvio (que para mim tem todas as vantagens e desvantagens, não sendo um aspecto meramente negativo) da fala pouco instruída e frequentemente grosseira e cafona de Lula. Todos sabem disso. Ele próprio se vangloria. Os linguistas aplaudem. E todos têm razão: ele é forte inclusive por isso. Fala “bem”: atinge a maioria dos ouvintes. Sua fala tem competência – e ele, como eu próprio disse na entrevista, é um governante importante. Mundialmente está reconhecido como alguém que chegou lá e foi além do esperado. Quisera Obama estar na mesma situação. Querer dizer que FH era mau governante e Lula é bom é maluquice. Ambos foram conquistas brasileiras importantes. Marina seria um passo à frente. Simbolicamente ao menos. Não creio que ela seria um entrave às pesquisas de células-tronco e à união civil de homossexuais. Se for, eu estarei aqui para me opor a ela. Aborto, união gay, embriões são matéria do Legislativo. O Executivo pode influir? Pode. Mas Marina seria uma presidente do tipo autoritário? Não creio. Criacionismo? Ela jamais cairia na confusão de ensino religioso com ensino científico. Ela é racional, atenta, dialoga com calma. Todos esses assuntos podemos debater com ela como com ninguém: ao menos estaremos certos de que ela não será hipócrita. Se houver candidatura e campanha, teremos tempo para isso. Não penso tanto como Marina sobre a Amazônia. Penso mais como Mangabeira. Já disse. Mas forças políticas surgem assim. Marina chegar a ser candidata é notícia grande. Não posso fingir que não é. E detesto essa mania de que nada se pode dizer que não seja adulação a Lula. Não estamos na União Soviética. Eu não disse nenhuma novidade. Nem considero ofensivo. É descritivo. E a motivação era esclarecer a parecença de Marina com Obama (que me interessa muito). E todos os entendidos me dizem que os banqueiros estão com medo é de Serra: adoram Lula. Então por que a demagogia de dizer que FH era pelos de poder aquisitivo? Até os programas sociais que Lula desenvolveu nasceram no governo FH. O Fome Zero naufragou. Eles se voltaram, espertamente (e felizmente), para o Bolsa-Escola de dona Ruth. Eu ter mencionado a fala analfabeta de Lula não é bom para a campanha de Marina. Mas ainda não estamos em campanha. Eu acho”.
NOTA DO EDITOR – A entrevista de Caetano Veloso ao Estadão está postada aqui no blog Pensando Salvador do Futuro: ,