terça-feira, 11 de setembro de 2012

Planejando o futuro de Salvador


José de Freitas Mascarenhas*
Uma das melhores qualidades do homem, a imaginação, permite produzir uma expectativa do futuro. Utilizemos então esta capacidade intrínseca ao humano para projetar a cidade de Salvador dez anos à frente, sem interferências que modifiquem o curso natural do seu crescimento. Certamente, as expectativas de cada um de nós convergirão para o agravamento da qualidade de vida da nossa cidade, que temos consternadamente aceitado, enquanto a cidade segue abalada em seu orgulho por problemas de toda ordem, sem direitos básicos assegurados ou serviços públicos universalizados cujos reflexos sentimos na crescente sensação de impotência e ausência de cidadania.
Recentemente, uma associação de defesa do consumidor divulgou pesquisa sobre a vida em 21 capitais brasileiras, baseada na avaliação de seus habitantes quanto à habitação, saúde, educação, emprego, segurança e mobilidade urbana. Dentre elas, Salvador foi classificada na pior posição para se viver! Sobre a percepção da evolução da qualidade de vida, de novo registrou-se resultado desfavorável: 53% dos entrevistados afirmaram que a situação piorou nos anos mais recentes.
Conforme a pesquisa, a mobilidade urbana é um dos pontos mais críticos, na avaliação dos soteropolitanos. Grandes congestionamentos, aumento do tempo de locomoção e perdas econômicas são as consequências mais visíveis da crise que atinge a cidade. Na base deste cenário deprimente, está a falta histórica de planejamento urbano e, simultaneamente, a pouca atenção dedicada ao desenvolvimento de um sistema de transporte público eficiente e a consequente falta de investimentos neste setor.
Como resultado, o estímulo ao modo de transporte individual. Em apenas dez anos, a frota de veículos da Região Metropolitana de Salvador cresceu 94%, saltando de 363 mil em 2001 para 705 mil em 2011, contabilizando os automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus. É certo que a situação se agravará nos próximos anos. Por isso, é inevitável refletir sobre como será viver em Salvador na próxima década. Será que ela poderá se tornar a cidade que almejamos para os nossos filhos e netos? Atravessamos um momento difícil, com a autoestima debilitada pelas sucessivas dificuldades com a perda de valores éticos e com o descaso do nosso futuro. Mas é preciso persistir, alimentar a esperança de uma cidade melhor.
Da necessidade de contribuir para o desenvolvimento e a transformação de Salvador, nasceu o Instituto Movimenta Salvador, associação civil sem fins lucrativos, apresentado à sociedade no início do mês de agosto, durante cerimônia realizada no Convento do Carmo. O instituto não representa quaisquer movimentos políticos e tem como propósito refletir para os poderes constituídos o que desejamos para nossa cidade, por meio de processos participativos de planejamento e acompanhamento em áreas como educação, cultura, saúde, segurança, urbanização e preservação ambiental.
O movimento pretende ser indutor de inovação em diversos níveis, inclusive na maneira de abrir a participação aos interessados, estudar, conceber soluções, sugerir intervenções no espaço público, de forma a possibilitar o enfrentamento das questões que afligem a todos. Com ampla representatividade, para que o arco da sociedade esteja minimamente constituído, o Movimenta Salvador tem entre seus conselheiros membros de entidades empresariais, culturais, científicas, da sociedade civil e representação de classe. Seu modelo é aberto à participação daqueles que queiram refletir, debater e formular propostas em benefício da cidade e dos seus habitantes. Não há dúvida de que a antecipação do futuro, visando seu conhecimento, é necessária para invertermos esse círculo vicioso.
É fundamental lutar por Salvador, para que ela seja irradiadora de bem estar e qualidade de vida, para que ela volte a ser motivo de orgulho e símbolo da modernidade, mas também conservando sua tradição iniciada há 463 anos. Cidadãos que somos não podemos desistir jamais.
*José de Freitas Mascarenhas, engenheiro, foi Secretário de Minas e Energia, governos Roberto Santos (1975/1979) e Antônio Carlos Magalhães (1980/1984). Diretor da Construtora Norberto Odebrecht é presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia- FIEB e vice-presidente da Confederação nacional das Indústrias- CNI

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