José de Freitas Mascarenhas*
Uma
das melhores qualidades do homem, a imaginação, permite produzir uma
expectativa do futuro. Utilizemos então esta capacidade intrínseca ao humano
para projetar a cidade de Salvador dez anos à frente, sem interferências que
modifiquem o curso natural do seu crescimento. Certamente, as expectativas de
cada um de nós convergirão para o agravamento da qualidade de vida da nossa
cidade, que temos consternadamente aceitado, enquanto a cidade segue abalada em
seu orgulho por problemas de toda ordem, sem direitos básicos assegurados ou
serviços públicos universalizados cujos reflexos sentimos na crescente sensação
de impotência e ausência de cidadania.
Recentemente,
uma associação de defesa do consumidor divulgou pesquisa sobre a vida em 21
capitais brasileiras, baseada na avaliação de seus habitantes quanto à
habitação, saúde, educação, emprego, segurança e mobilidade urbana. Dentre
elas, Salvador foi classificada na pior posição para se viver! Sobre a
percepção da evolução da qualidade de vida, de novo registrou-se resultado
desfavorável: 53% dos entrevistados afirmaram que a situação piorou nos anos
mais recentes.
Conforme
a pesquisa, a mobilidade urbana é um dos pontos mais críticos, na avaliação dos
soteropolitanos. Grandes congestionamentos, aumento do tempo de locomoção e
perdas econômicas são as consequências mais visíveis da crise que atinge a
cidade. Na base deste cenário deprimente, está a falta histórica de
planejamento urbano e, simultaneamente, a pouca atenção dedicada ao
desenvolvimento de um sistema de transporte público eficiente e a consequente
falta de investimentos neste setor.
Como
resultado, o estímulo ao modo de transporte individual. Em apenas dez anos, a
frota de veículos da Região Metropolitana de Salvador cresceu 94%, saltando de
363 mil em 2001 para 705 mil em 2011, contabilizando os automóveis, comerciais
leves, caminhões e ônibus. É certo que a situação se agravará nos próximos anos.
Por isso, é inevitável refletir sobre como será viver em Salvador na próxima
década. Será que ela poderá se tornar a cidade que almejamos para os nossos filhos e netos?
Atravessamos um momento difícil, com a autoestima debilitada pelas sucessivas
dificuldades com a perda de valores éticos e com o descaso do nosso futuro. Mas
é preciso persistir, alimentar a esperança de uma cidade melhor.
Da
necessidade de contribuir para o desenvolvimento e a transformação de Salvador,
nasceu o Instituto Movimenta Salvador, associação civil sem fins lucrativos, apresentado
à sociedade no início do mês de agosto, durante cerimônia realizada no Convento
do Carmo. O instituto não representa quaisquer movimentos políticos e tem como
propósito refletir para os poderes constituídos o que desejamos para nossa
cidade, por meio de processos participativos de planejamento e acompanhamento
em áreas como educação, cultura, saúde, segurança, urbanização e preservação
ambiental.
O
movimento pretende ser indutor de inovação em diversos níveis, inclusive na
maneira de abrir a participação aos interessados, estudar, conceber soluções,
sugerir intervenções no espaço público, de forma a possibilitar o enfrentamento
das questões que afligem a todos. Com ampla representatividade, para que o arco
da sociedade esteja minimamente constituído, o Movimenta Salvador tem entre
seus conselheiros membros de entidades empresariais, culturais, científicas, da
sociedade civil e representação de classe. Seu modelo é aberto à participação
daqueles que queiram refletir, debater e formular propostas em benefício da
cidade e dos seus habitantes. Não há dúvida de que a antecipação do futuro,
visando seu conhecimento, é necessária para invertermos esse círculo vicioso.
É
fundamental lutar por Salvador, para que ela seja irradiadora de bem estar e
qualidade de vida, para que ela volte a ser motivo de orgulho e símbolo da
modernidade, mas também conservando sua tradição iniciada há 463 anos. Cidadãos
que somos não podemos desistir jamais.
*José de Freitas
Mascarenhas, engenheiro, foi Secretário de Minas e Energia, governos Roberto
Santos (1975/1979) e Antônio Carlos Magalhães (1980/1984). Diretor da
Construtora Norberto Odebrecht é presidente da Federação das Indústrias do
Estado da Bahia- FIEB e vice-presidente da Confederação nacional das
Indústrias- CNI
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