Osvaldo Campos Magalhães*
No momento em que a “mobilidade urbana” e a
questão ambiental passam a integrar, ao lado da segurança pública, da saúde e
da educação, questões estratégicas dos debates políticos nas grandes cidades
brasileiras, é no mínimo estranha a decisão do governo federal em prorrogar a
redução no Imposto sobre Produtos Industrializados, referente à venda de
automóveis.
A perplexidade em relação ao fato provocou
reações contrárias até mesmo de lideranças governistas no Congresso Nacional: “Ao invés de investir em uma política de inovação
tecnológica e em atividades de baixo carbono, o governo estimula o consumo de
automóveis, o que torna nossas cidades menos sustentáveis, agravando ainda mais
os problemas do trânsito e da mobilidade urbana.” Estas palavras foram
proferidas em plenário pelo senador Rodrigo Rollemberg do Partido Socialista
Brasileiro.
Talvez o fato do Partido dos Trabalhadores ter
suas origens no ABC paulista, berço da indústria automobilística nacional,
explique a questão. Ou quem sabe, a necessidade de adoção de medidas que
estimulem o crescimento econômico, num momento em que os reflexos da grave
crise econômica dos países centrais deixaram de ser “marolinhas” e se
transformaram em “perigo real e imediato”, ameaçando as promessas presidenciais
de crescimento econômico em índices próximos aos dos demais países do BRICS.
O certo é o que Brasil continua, neste novo
milênio, preso ao passado, sem um real projeto de desenvolvimento nacional, e
ainda extremamente dependente dos investimentos no parque industrial
automobilístico e na exploração e industrialização do petróleo.
Os incentivos à indústria automobilística e os
subsídios ao preço dos combustíveis, beneficiam o transporte individual, em
automóveis, que provocam imensos congestionamentos, poluem nossas grandes
cidades e provocam imensos prejuízos econômicos. Somente na cidade de São Paulo, os prejuízos
provocados pelos gigantescos engarrafamentos foram estimados em R$ 36 bilhões
ao ano. No Rio de Janeiro, cerca de R$ 12 bilhões.
Para controlar a inflação, o governo não reajusta o preço da gasolina ha mais de seis anos. Como conseguencia, torna o Etanol pouco competitivo levando as agro-indústrias do setor sucroalcoleiro a optarem pela produção de açucar. O Brasil que no passado era exemplo mundial em
energia sustentável vem apresentando declínio na produção de Etanol e
crescimento nas importações de gasolina.
Por outro lado, a qualidade de vida nas grandes
cidades tem se deteriorado imensamente. Os congestionamentos e a poluição, provocados
pelos automóveis, aumentam a sensação de desconforto da população e causam prejuízos
aos setores produtivos, como a indústria, o comércio e o turismo. Estes
são alguns dos principais reflexos desta política equivocada de incentivo aos
automóveis.
Ao invés de copiar este anacrônico modelo norte
americano de incentivo ao transporte individual, desta invasão no trânsito de
SUV´s e ciclomotores, deveria o Brasil e suas grandes cidades adaptarem
soluções inteligentes e criativas como as implementadas em Berlin, Copenhague,
Seoul e até mesmo Portland, nos Estados Unidos, que resgataram o transporte público
sobre trilhos em bondes modernos, na expansão de um eficiente sistema de metrô
e trens urbanos e na implantação de infraestrutura e no incentivo à utilização
de bicicletas.
*Engenheiro Civil e Mestre em Administração, Coordenou o PELTBAHIA,
Programa Estadual de Logística e Transportes do Estado da Bahia.
E-mail: magalhaes.oc@gmail.com – http://www.osvaldocampos.blogspot.com e http://www.salvador2012.blogspot.com e http://www.psbsalvador.blogspot.com e http://www.diariosdebicicletabrasil.blogspot.com
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