sábado, 14 de maio de 2011

Salvador: Trânsito e Transportes, 50 anos de atraso

Almir Santos*
O ônibus começou em Salvador utilizando integralmente os mesmos itinerários dos bondes. Assim podem-se citar as primeiras linhas de ônibus da Ribeira, Nazaré, Tororó, Barra, Barra Avenida, Canela e tantas outras. Era um transporte competitivo e folclórico. Não havia horário. O motorista, quando não era o próprio dono do ônibus, ganhava por comissão e ficava marcando o bonde para sair à frente, angariando assim mais passageiros.
Num segundo estágio o ônibus começou a ir aonde o bonde não ia, como Amaralina via Barra, Fazenda Garcia, Acupe Via Galés, Boa Vista-Matatu, São Caetano etc.
Assim o sistema foi se consolidando até se formarem empresas e chegar ao modelo atual.
Inicialmente sem nenhuma integração, pois concebia três terminais centrais a exemplo dos bondes: Praça da Sé, que servia a cidade Alta, Praça Cayru, que servia a Cidade Baixa e Praça dos Veteranos/Viaduto da Sé, que servia os chamados Trilhos Centrais. Em muitos casos o usuário tinha de pagar duas tarifas nos seus deslocamentos, além de usar o Elevador Lacerda e os Planos Inclinados. O passageiro era onerado e não havia vale-transporte.
A implantação de um novo sistema viário permitiu a interligação dos três níveis ganhando, dessa forma, a população.
Mesmo com essa evolução o usuário ainda sofre pelo sistema não oferecer uma integração plena e ser submetido a viagens longas, lentas e desumanas.
O que existe em termo de integração são dois terminais fechados, Mussurunga e Pirajá, uma integração chamada Local que atende a pequenos bairros e uma integração por área onde o usuário tem de pagar a metade do valor da passagem só quando é feita fora da sua área e não sendo permitida a integração dentro da própria área. Esta última implantada há poucos anos não resultou em benefício para o passageiro em termos de redução de custos de transporte, tempo de viagem e conforto. Não houve como se podiam esperar melhorias na fluidez do tráfego. Não houve redução de linhas nem alteração de itinerários que são esdrúxulos e irracionais.
Por exemplo, como se pode conceber linha a 1052-Estação Mussurunga/Barra 2 e Sussuarana/Barra R2 fazer o seguinte trajeto: Av., Juraci Magalhães Jr, retorno da EMBASA , volta pela Juraci Magalhães Jr ACM-Itaigara, Manoel Dias, Amaralina, Rio Vermelho, rodando 12,0km para depois passar a 1,1km próximos de onde já passou, gastando aproximadamente 20 minutos a mais o que poderia ser solucionado se tivesse uma integração plena. Muita gente que não tem nada a ver passa por esse trajeto diariamente.
Não se pode conceber uma linha como a 0714 – Santa Cruz/Campo Grande R1 que faz o seguinte itinerário: Santa Cruz, Av. ACM, Itaigara, volta pela Av. ACM Av. Juraci Magalhães Jr., Cardeal da Silva, Campo Grande, Barra, Rio Vermelho, Pituba, Itaigara, Av. ACM, retorno da Comercial Ramos, Av. Juraci Magalhães Jr. retorno da Embasa Av. Juraci Magalhães, Santa Cruz. Um verdadeiro caracol e é assim em toda a cidade. Roda-se muito desnecessariamente, percorrem-se caminhos sinuosos. Nunca a menor distância entre dois pontos é uma reta.
É esse o modelo atual, que não evoluiu. Pode-se afirmar que está pelo menos 50 anos atrasado.
Entende-se que tudo isso acontece pela falta de uma integração plena. A integração tem o objetivo de reduzir os percursos, consequentemente reduzir o tempo de viagem, oferecer um transporte mais confiável e confortável para o usuário, A integração evita a superposição de linhas e aumenta a fluidez do tráfego.
O modelo de transporte de Salvador é que o que não se deve fazer em termos de transportes. Há pontos de parada por onde passam até 60 linhas;
Acresce de uma carência de profissionais bem treinados, educados, disciplinados. Pára-se de qualquer forma para embarque e desembarque, em fila dupla, além ou aquém dos pontos, afastado do meio-fio. Salvador é a única cidade que se conhece, que mesmo no ponto o passageiro tem de correr para pegar o ônibus.
Dá-se partida com as porta abertas, mal o passageiro coloca o pé no primeiro degrau. Nem os idosos são respeitados.
Além disso, há uma total falta de informação e as poucas existentes não informam nada, principalmente para os usuários eventuais e os turistas.
Espera-se, pois que a solução para a Mobilidade Urbana, preconizada para a Copa 2014, venha atender aos anseios da população de nossa Cidade do Salvador.




*Engenheiro Civil e Especialista em Transportes

Um comentário:

  1. Adorei o texto. Parabéns! Nós do movimento "Eu quero VLT em Salvador" gostaríamos de fazer um estudo sobre o caos das linhas de ônibus da cidade, como o seguinte relato:"Por exemplo, como se pode conceber linha a 1052-Estação Mussurunga/Barra 2 e Sussuarana/Barra R2 fazer o seguinte trajeto: Av., Juraci Magalhães Jr, retorno da EMBASA , volta pela Juraci Magalhães Jr ACM-Itaigara, Manoel Dias, Amaralina, Rio Vermelho, rodando 12,0km para depois passar a 1,1km próximos de onde já passou, gastando aproximadamente 20 minutos a mais o que poderia ser solucionado se tivesse uma integração plena. Muita gente que não tem nada a ver passa por esse trajeto diariamente.
    Não se pode conceber uma linha como a 0714 – Santa Cruz/Campo Grande R1 que faz o seguinte itinerário: Santa Cruz, Av. ACM, Itaigara, volta pela Av. ACM Av. Juraci Magalhães Jr., Cardeal da Silva, Campo Grande, Barra, Rio Vermelho, Pituba, Itaigara, Av. ACM, retorno da Comercial Ramos, Av. Juraci Magalhães Jr. retorno da Embasa Av. Juraci Magalhães, Santa Cruz. Um verdadeiro caracol e é assim em toda a cidade. Roda-se muito desnecessariamente, percorrem-se caminhos sinuosos. Nunca a menor distância entre dois pontos é uma reta." Caso o ilustre escritor tenha mais exemplos ou queira produzir um texto nesta linha estamos abertos a apoiá-lo, um forte abraço, Movimento "Eu quero VLT em Salvador" http://vltemsalvador.blogspot.com

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