segunda-feira, 27 de julho de 2009

Indicação de filme : "Coração Vagabundo"



O disco “A Foreign Sound” de 2004, que foi o único de Caetano Veloso todo gravado em inglês , pode não ser o melhor trabalho do cantor e compositor baiano, mas ao aparecer em shows em Nova York e Tóquio, as intepretações parecem fazer algum sentido. Essa é apenas uma das perspectivas possíveis de “Coração vagabundo”, documentário em que o jovem cineasta Fernando Grostein Andrade acompanha o artista em apresentações pelos Estados Unidos e Japão.
A nudez de Caê no banheiro de um hotel, logo na primeira cena, é apenas um detalhe. Em pouco mais de uma hora, o filme mostra um Caetano sem querer ser Caetano, com toda a carga que isso implica. Algumas cenas chegam a provocar risadas e funcionam como boas oportunidades de apresentar o artista como um cara simpático e bem humorado às novas gerações.
Em Kyoto, Caê abraça uma árvore na rua. Na sequência, a caminho de um templo budista, ele discorre sobre a comida japonesa. “O prato principal é uma obra de arte. A sobremesa é muito cafona, sempre cheia de cores.” Já devidamente instalado sobre o tatame, prestes a provar um doce de feijão, a câmera capta o olhar do músico, em um de seus melhores momentos.
Com participações especiais dos cineastas Pedro Almodóvar e Michelângelo Antonioni, além do músico americano David Byrne e da top model Gisele Bündchen, “Coração vagabundo” é resultado de 57 horas de material bruto. “Deixei-me guiar pela emoção”, diz o diretor. “Foi um processo de tentativa e erro até encontrar uma história. Não se trata de um filme biográfico, mas sim de uma passagem pela vida de Caetano.”

“Tive de aguentar o Fernando, que era muito obsessivo nesse negócio de fazer um filme, o que ainda não estava bem definido. Ele é bonitinho e isso já ajuda, mas às vezes, logo que eu acordava, já tinha de ouvir aquele papinho de filmagem”, comenta o músico, rindo.
“Eu falo como eu falo. Não gosto muito de me ver e fico um pouco envergonhado de falar tanto. Mas o filme foi feito de um jeito que não me causa desagrado. As coisas que eu disse me pareceram boas. Um amigo me achou superficial, mas acho que o documentário vai fundo em muitos aspectos.”
De fato. As reflexões de Caetano vão muito além de observações acerca da culinária oriental. Do medo de envelhecer à preocupação em ser maquiado para participar de um programa de TV e “ficar com cara de político babaca”, o músico demonstra estar de bem com a vida, apesar do “humor de quem já não espera nada”.

Mente Criativa
Formado em administração, Fernando Grostein Andrade foi estudar Direção na University of Southern California (USC) e Roteiro na University California, Los Angeles (UCLA). Inspirado em documentários de sucesso como Tokyo-Ga (que influenciou muito o cinema japonês) e The Rolling Stones - Shine a Light (dirigido por Martin Scorsese), o garoto mostra a que veio. Com influência, ainda, de seu grande ídolo nacional, João Moreira Salles, aos 28 anos o jovem diretor faz de Coração Vagabundo trabalho de gente grande. Com apenas 28 anos, o diretor Fernando já produziu grandes trabalhos e é uma das promessas do cinema nacional. Aos 21 anos, produziu o curta-metragem De Morango, tornando-se o primeiro diretor brasileiro a fazer um filme em alta-definição. O curta foi exibido no Festival Internacional de Palm Springs, na 27ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e abriu o Festival Internacional de Brasília. O sucesso chamou a atenção de Paula Lavigne e, a partir de então, surgiu o contato com Caetano. Convidado para a dirigir o videoclipe da música Você Não Me Ensinou a te Esquecer, tema do longa Lisbela e o Prisioneiro, o clipe estreou e logo ganhou notoriedade nacional. Para Caetano, Fernando foi exigente, até demais, e buscou fazer o melhor. "Ele foi obsessivo com a coisa de fazer o filme. Quando se está sendo filmado, de certo modo as coisas mudam. Mas eu busquei ser natural, até por conta da liberdade que criamos. Às vezes, não estava de muito bom humor devido às muitas viagens, queria dar uma escapada dele, só que não tinha jeito. Ele pedia muito e eu tinha que ir" lembra o cantor, aos risos.

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