Evandro Varella
Prá matar um pouco as saudades das férias que acabaram de acabar, vou relembrar duma figurinha que conheci lá na barra de Jacuípe, uma praia semi-deserta lá pros lados de Guarajuba e Monte Gordo na Bahia, é dessas fotos aí de dois posts prá baixo.
O seu Manoel, é um Baiano Forte, já com seus 70 e muitos anos , sujeito culto, já aposentado, dono de uma voz forte com timbre que lembra o de Dorival Caymmi.
Como trabalhou durante anos na antiga fazenda do seu Luiz, tomando conta de uma criação de búfalos, acabou por receber, quando a mesma foi vendida a um desses grandes grupos hoteleiros, um quadradinho de terra bem na beirinha da praia. E diga-se de passagem que recebeu o terreno por merecimento.
E esse presente veio bem a calhar, pois fica a beira-mar, cercada de céu, mar, areia branca e côco.
Nesse cantinho, seu Manoel construiu com capricho uma barraca (barzinho) prá atender aos turistas e moradores do condomínio que faz divisa com seu terreno.
A barraca do seu Manoel já é folclorica ali nas redondezas, já saiu até na Vejinha Salvador e não é conhecida só pela limpeza, simplicidade das instalações ou pela qualidade da casquinha de siri, mas principalmente pelo carisma e eventual mal humor do seu Manoel.
Sujeito pacato, seu Manoel, só contrata uma cozinheira e um garçon, às vezes dois, mas só na época que movimento aumenta. No restante, prefere ele mesmo cuidar do lugar. Sempre tem tempo prá uma boa conversa e aproveitar aquela brisa da praia em suas longas caminhadas ao lado do seu fiel cachorro nos fins de tarde é seu programa favorito.
Mas seu Manoel é baiano, e como bom baiano funciona numa frequência diferente da nossa aqui nas latidudes mais baixas. Enquanto estamos sempre na faixa dos Gigahertz ou Megabits por segundo...seu Manoel fica mesmo na frequência máxima da batida de um samba-canção daqueles de Caymmi.
Então, quando o movimento aperta o conflito é inevitável:
- Esse povo é muito sem paciência.
- Porquê seu Manoel ?
- Eu num sei não mas o caboclo sai lá do centro de São Paulo e mal chega aqui nesse paraíso de céu, mar e côco e já fica todo estressado.
- É ?
- É sim, e no primeiro dia que vem à praia, já quer logo se esbaldar, parece até que quer acabar com tudo...isso quando não se queima todo e fica reclamando do sol o resto das férias.
- O sol tá aí, será que o doido não sabe que sol demais queima, num sabe nao, será?
- E o pior: querem cerveja, querem camarão, querem bolinho de peixe (ahhh que saudade do bolinho de peixe do seu Manoel) querem isso e aquilo, e se demora um pouco, já vem de conversa fiada pro meu lado. Eu não gosto não. Não tô aqui prá isso…
(até esse ponto eu não parava de me perguntar, o que esse corôa quer da vida? será que quer ter um negócio mas não quer ter trabalho?)
Mas seu Manoel é tinhoso e continua a falar:
- Será que esse povo não entende que eu não fabrico cerveja, que não planto aipim (mandioca)... eu não tenho culpa se as coisas acabam…a mão de obra aqui é ruim (e blasfema como se a culpa fosse do turista-invasor).
E segue:
- O sujeito, vem prá cá nessa praia linda, onde nem televisão pega direito, o cabra não tem nada pra fazer o dia todo, e fica aperreado.
- Aperreado com que meu Deus? De frente pra esse oceano maravilhoso, nessa brisa que dá vontade de tirar um cochilo e ainda fica estressado! Prá que essa pressa toda, o cara não pode esperar nem um momento...
Por fim vaticina:
- Por mim, atendia no máximo era umas 4 famílias no sábado e umas 3 no domingo...assim me sobrava mais tempo.
Mais tempo de que, fiquei pensando... e só entendi depois que voltei pra correria do trabalho e dos afazeres diários.
Seu Manoel tá certo! É a gente que tá errado!
Na visão do seu Manoel, a vida não foi feita só pra essa correria alucinada, esse consumo desmedido, essa falta de paciência que a gente tem e fica, mesmo quando está de férias.
É preciso saber perceber e entender que cada coisa, cada instante tem seu sabor, até a eventual demora é motivo prá aproveitar a vida, contemplar o mar, o vento a conversa, as pessoas.
Prá que mesmo que a gente tem tanta pressa meu Deus? Prá trabalhar mais, prá ganhar mais dinheiro prá ir praia! E ainda assim ficar com pressa e irritado?
Acho mesmo que tá na hora de eu aprender um pouquinho com a vida de quem já viveu mais tempo e chegou a conclusão que não adianta brigar tanto e estressar com tudo, pois as ondas do mar vão continuar ali batendo na praia, dia após dia, eu querendo ou não.
É, acho que pelo menos agora eu sei porquê na Bahia, as coisas são mais demoradas… não é por causa do calor, é por causa da sabedoria!
O seu Manoel, é um Baiano Forte, já com seus 70 e muitos anos , sujeito culto, já aposentado, dono de uma voz forte com timbre que lembra o de Dorival Caymmi.
Como trabalhou durante anos na antiga fazenda do seu Luiz, tomando conta de uma criação de búfalos, acabou por receber, quando a mesma foi vendida a um desses grandes grupos hoteleiros, um quadradinho de terra bem na beirinha da praia. E diga-se de passagem que recebeu o terreno por merecimento.
E esse presente veio bem a calhar, pois fica a beira-mar, cercada de céu, mar, areia branca e côco.
Nesse cantinho, seu Manoel construiu com capricho uma barraca (barzinho) prá atender aos turistas e moradores do condomínio que faz divisa com seu terreno.
A barraca do seu Manoel já é folclorica ali nas redondezas, já saiu até na Vejinha Salvador e não é conhecida só pela limpeza, simplicidade das instalações ou pela qualidade da casquinha de siri, mas principalmente pelo carisma e eventual mal humor do seu Manoel.
Sujeito pacato, seu Manoel, só contrata uma cozinheira e um garçon, às vezes dois, mas só na época que movimento aumenta. No restante, prefere ele mesmo cuidar do lugar. Sempre tem tempo prá uma boa conversa e aproveitar aquela brisa da praia em suas longas caminhadas ao lado do seu fiel cachorro nos fins de tarde é seu programa favorito.
Mas seu Manoel é baiano, e como bom baiano funciona numa frequência diferente da nossa aqui nas latidudes mais baixas. Enquanto estamos sempre na faixa dos Gigahertz ou Megabits por segundo...seu Manoel fica mesmo na frequência máxima da batida de um samba-canção daqueles de Caymmi.
Então, quando o movimento aperta o conflito é inevitável:
- Esse povo é muito sem paciência.
- Porquê seu Manoel ?
- Eu num sei não mas o caboclo sai lá do centro de São Paulo e mal chega aqui nesse paraíso de céu, mar e côco e já fica todo estressado.
- É ?
- É sim, e no primeiro dia que vem à praia, já quer logo se esbaldar, parece até que quer acabar com tudo...isso quando não se queima todo e fica reclamando do sol o resto das férias.
- O sol tá aí, será que o doido não sabe que sol demais queima, num sabe nao, será?
- E o pior: querem cerveja, querem camarão, querem bolinho de peixe (ahhh que saudade do bolinho de peixe do seu Manoel) querem isso e aquilo, e se demora um pouco, já vem de conversa fiada pro meu lado. Eu não gosto não. Não tô aqui prá isso…
(até esse ponto eu não parava de me perguntar, o que esse corôa quer da vida? será que quer ter um negócio mas não quer ter trabalho?)
Mas seu Manoel é tinhoso e continua a falar:
- Será que esse povo não entende que eu não fabrico cerveja, que não planto aipim (mandioca)... eu não tenho culpa se as coisas acabam…a mão de obra aqui é ruim (e blasfema como se a culpa fosse do turista-invasor).
E segue:
- O sujeito, vem prá cá nessa praia linda, onde nem televisão pega direito, o cabra não tem nada pra fazer o dia todo, e fica aperreado.
- Aperreado com que meu Deus? De frente pra esse oceano maravilhoso, nessa brisa que dá vontade de tirar um cochilo e ainda fica estressado! Prá que essa pressa toda, o cara não pode esperar nem um momento...
Por fim vaticina:
- Por mim, atendia no máximo era umas 4 famílias no sábado e umas 3 no domingo...assim me sobrava mais tempo.
Mais tempo de que, fiquei pensando... e só entendi depois que voltei pra correria do trabalho e dos afazeres diários.
Seu Manoel tá certo! É a gente que tá errado!
Na visão do seu Manoel, a vida não foi feita só pra essa correria alucinada, esse consumo desmedido, essa falta de paciência que a gente tem e fica, mesmo quando está de férias.
É preciso saber perceber e entender que cada coisa, cada instante tem seu sabor, até a eventual demora é motivo prá aproveitar a vida, contemplar o mar, o vento a conversa, as pessoas.
Prá que mesmo que a gente tem tanta pressa meu Deus? Prá trabalhar mais, prá ganhar mais dinheiro prá ir praia! E ainda assim ficar com pressa e irritado?
Acho mesmo que tá na hora de eu aprender um pouquinho com a vida de quem já viveu mais tempo e chegou a conclusão que não adianta brigar tanto e estressar com tudo, pois as ondas do mar vão continuar ali batendo na praia, dia após dia, eu querendo ou não.
É, acho que pelo menos agora eu sei porquê na Bahia, as coisas são mais demoradas… não é por causa do calor, é por causa da sabedoria!
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