sexta-feira, 24 de julho de 2009

Pelourinho sem governança

Pelourinho vazio à noiteMarcus Alban
Com as críticas do trade turístico e as manchetes, cada vez mais recorrentes, de menores se drogando e se prostituindo em pleno dia no Centro Histórico, a degradação do Pelourinho voltou ao centro do debate. Por que aquele imenso patrimônio histórico-cultural, que já foi capaz de atrair o Michael Jackson e que era para ser o carro-chefe do desenvolvimento turístico do Estado, encontra-se hoje tão abandonado? Uma possível resposta a essa pergunta seria que o Pelourinho se insere na crise do turismo nacional. De fato, com a política de valorização do real, implementada por Brasília, vem se vivendo dias bem difíceis no setor. Viajar pelo Brasil ficou uma coisa cara, e assim o turismo não consegue avançar. Mas o problema do Pelourinho é bem mais grave. A questão é que ele não só parou de crescer, como regrediu aceleradamente. A crise do Pelourinho, portanto, é algo singular. A singularidade da crise fica ainda mais evidente quando se constata que, durante esse mesmo período em que o Pelourinho, juntamente com o turismo de Salvador, só fez "descer ladeira", Praia do Forte, em Mata de São João, só fez se desenvolver. Mas, por que isso acontece? Certamente não é porque o turismo de Praia do Forte é de sol e praia, enquanto que o do Pelourinho é de cultura e lazer. Como sabemos, diversos outros destinos de praia, inclusive na própria Mata de São João, enfrentam também sérias crises. O que diferencia Praia do Forte de todos os outros destinos, e sobretudo do complexo PelourinhoSalvador, é que lá, graças à visão de seu empresário fundador - o descendente de alemães Klaus Peter -, se desenvolveu uma efetiva estrutura de governança. Foi essa estrutura, materializada na Fundação Garcia D'Ávila, que definiu as "regras do jogo", que, de certa maneira, seguem valendo até hoje. Assim, em Praia do Forte praticamente não existem problemas de limpeza, de poluição sonora, de barraqueiros, de ambulantes, de pedintes, de assédio e tudo o mais que hoje se expande sem nenhum controle pelo Pelourinho. Quem conhece a história sabe que a implantação dessa estrutura não foi fácil. O Klaus Peter teve de vencer sérias resistências, resistências essas vindas muitas vezes de movimentos sociais bem-intencionados, que o viam como uma espécie de ditador nazista. Mas o fato é que, depois de todos esses anos, suas medidas quase sempre mostraram-se muito acertadas, criando um verdadeiro ciclo virtuoso de desenvolvimento, que incorporou boa parte da população local e gerou milhares de empregos e renda, beneficiando todo o município. Paralelamente no Pelourinho, onde nunca se instituiu qualquer governança, e onde os movimentos sociais, nos últimos anos, foram dominantes, cada um fez e faz o que quer, gerando esse ciclo vicioso de degradação crescente. Sem dúvida, está mais do que na hora de darmos um basta em tudo isso. Assim, como diria o Ben Jor, "essa escada é pra ficar aqui fora", chamem o síndico.
Artigo publicado no jornal A Tarde em 22/07/09
Leia também: Marcus Alban A Insustentabilidade do Turismo. As razões para o excepcional sucesso de Praia do Forte http://www.obsturpr.ufpr.br/artigos/turismo20.pdf

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