“No tempo da escravatura, circulava a sentença: — Bahia, inferno dos pretos, purgatório dos brancos, paraíso dos mulatos. Ainda continua válida. A única diferença a observar é que o purgatório se acha muito despovoado”.
A observação do baiano José Valladares (1917-1959) sobre o preconceito na Bahia, no livro Beabá da Bahia – Guia Turístico, publicado originalmente em 1951, traduz em muito o estilo do autor no que tem de ironia e precisão. Agora, 61 anos depois, suas considerações sobre a história, artes e aspectos “pitorescos” da Bahia podem ser revistos por causa da reedição do livro pela Edufba.
O lançamento aconteceu no dia 24, no Museu de Arte da Bahia. A mesa de apresentação foi composta pelo arquiteto Lourenço Müller, a diretora da instituição, Sylvia Athayde, e o poeta e historiador Fernando da Rocha Peres, que também assina o prefácio.
Para Peres, trata-se de um livro que não é mais um guia turístico, mas deveria integrar uma “bibliografia baiana” para os que interessam-se pela evolução urbana da cidade. As ilustrações do carioca Carlos Thiré (1917-1963), em sua opinião, fazem do livro “um camafeu, com delicadeza única”.
Museu - Pioneiro na museologia na Bahia, professor de Estética e História da Arte na Ufba, José Valladares fez mestrado na Universidade de Nova York (EUA), especializou-se no barroco e fundou e dirigiu o Museu de Arte da Bahia de 1930 a 1959, a partir de uma coleção de Jonathas Abbott, ainda no MAB.
A reedição contou com revisão das filhas de Valladares, Julia e Diana, nascidas em Salvador, mas que moram no Rio de Janeiro desde 1966.
“Muitas coisas que o meu pai escreveu estão escondidas na reformulação urbana da cidade. Se alguém pegar o livro e sair visitando os antigos caminhos, vai ser uma viagem interessantíssima. Depois das avenidas de vale, é uma outra Salvador. A de hoje tem muito pouco a ver com aquela”, afirma Diana.
Ela destaca um dos aspectos que seu pai recomenda no livro: que os baianos deveriam ter muito cuidado com o turismo para não desvirtuar a cidade em nome dos turistas.
Besteiras - Para Peres, é necessário sensibilidade para promover o turismo: “O livro pode inspirar para que não façam besteiras, ou que não continuem fazendo, como por exemplo tentar construir um palco retrátil no Pelourinho.”
O livro foi escrito durante o governo de Octávio Mangabeira (1947-51), quando a cidade tinha 425 mil habitantes e o turismo estava sendo discutido como alternativa econômica.
Mesmo assim, a sensibilidade do autor já reconhecia: “O grande intérprete da música da Bahia é Dorival Caymmi”. No Roteiro Para o Visitante Apressado, Valladares recepciona o leitor na Praça Municipal, e propõe um delicioso tour. “A Bahia colonial, no que tem de melhor, está em volta, no raio de um quilômetro. Desça ladeiras, suba ladeiras”.
Mesmo assim, a sensibilidade do autor já reconhecia: “O grande intérprete da música da Bahia é Dorival Caymmi”. No Roteiro Para o Visitante Apressado, Valladares recepciona o leitor na Praça Municipal, e propõe um delicioso tour. “A Bahia colonial, no que tem de melhor, está em volta, no raio de um quilômetro. Desça ladeiras, suba ladeiras”.
E caso o turista deseje conhecer bairros “modernizados”, alertou: “As edificações modernas são na sua quase totalidade de mau gosto, quando não de gosto hilariante. Diversas custaram uma fortuna”.
Na época, segundo Peres, o turismo era espontâneo: “As pessoas não eram induzidas com propagandas enganosas. Hoje, a questão da Copa do Mundo no Brasil e na Bahia é uma propaganda enganosa. Até agora, de visível, só há a reconstrução da Fonte Nova. Acham que com um belo logotipo e um belo marketing está tudo resolvido”.
Serviço:
Serviço:
Lançamento de beabá da bahia - Guia Turístico, de José valladares
Edufba
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