Ana Lúcia Araújo*
Escola artística dos séculos 17 e 18, o barroco ainda está vivo em Salvador. Concebida segundo o espírito do movimento, que é contemporâneo da Contrarreforma, a cidade é um museu a céu aberto. A melhor maneira para travar contato com esse clima e identificar as características de composição dos espaços urbanos e o volume da arquitetura barroca é caminhar pela capital baiana.
Segundo a arquiteta e historiadora Socorro Targino Martinez, Salvador foi planejada, a partir do século 18, "como um anfiteatro barroco". Antes de entrar nas igrejas e conhecer os museus, "o importante é se perder e descobrir a essência da cidade", recomenda Martinez.
O visitante pode começar pelo forte de Santo Antonio da Barra, rumo ao norte, até chegar ao Pelourinho - tombado pelo Patrimônio Histórico da Humanidade -, onde há mais de 800 casarões dos séculos 17 e 18. Durante o passeio, pode-se perceber como as casas são propositalmente (foto: Igreja da Ordem 3ª em Salvador) iguais, com a igreja no final da rua, como ponto de fuga da paisagem. E as casas são sempre baixas, justamente para permitir ao morador contemplar as igrejas.
Essa posição estratégica da igreja fazia parte do projeto de colonização e conversão de negros e índios ao catolicismo. As procissões, a localização das igrejas e os elementos barrocos buscavam fortalecer o domínio católico na colônia. "Não há como fugir da presença de Deus", afirma a arquiteta.
Foram as ordens religiosas - jesuítas, beneditinos, carmelitas e franciscanos - que trouxeram o barroco para o Brasil. Na Bahia, imperou o barroco das igrejas douradas, como se fossem cavernas de puro ouro. "Ele é conhecido como monumental", afirma Maria Izabel Branco Ribeiro, diretora do Museu de Arte Brasileira da Faap. Mas essa riqueza não foi vista com bons olhos por gerações posteriores. "Até o século 19, o barroco foi considerado um estilo de mau gosto."
Mau gosto ou não, o melhor exemplo do movimento está na Igreja e Convento de São Francisco, que tem seu interior completamente forrado com folhas do metal precioso e carrega a marca de ser uma das igrejas mais ricas do país.
Quem pretende entender a ordem cronológica e as variações do barroco tem de visitar a catedral Basílica, do século 17. Nela, pode-se encontrar dois altares do movimento antecessor, o maneirismo, alguns exemplos de um barroco "acanhado" e ainda sua última fase, com interferências do rococó.
Uma sugestão do arquiteto Francisco Senna é a igreja da Ordem Terceira de São Francisco, que guarda a maior coleção de azulejos fora de Portugal. Segundo o arquiteto, a coletânea "retrata detalhes da vida em Lisboa que foram completamente destruídos com o terremoto de 1755". O conjunto foi restaurado e reaberto para visitação.
Senna explica que essa edificação tem ainda outra raridade: "É o único exemplo de fachada em pedra lavada do barroco espanhol no Brasil". Realizada pelo mestre Gabriel Ribeiro, levou de 1708 a 1748 para ser construída.
Escola artística dos séculos 17 e 18, o barroco ainda está vivo em Salvador. Concebida segundo o espírito do movimento, que é contemporâneo da Contrarreforma, a cidade é um museu a céu aberto. A melhor maneira para travar contato com esse clima e identificar as características de composição dos espaços urbanos e o volume da arquitetura barroca é caminhar pela capital baiana.
Segundo a arquiteta e historiadora Socorro Targino Martinez, Salvador foi planejada, a partir do século 18, "como um anfiteatro barroco". Antes de entrar nas igrejas e conhecer os museus, "o importante é se perder e descobrir a essência da cidade", recomenda Martinez.
O visitante pode começar pelo forte de Santo Antonio da Barra, rumo ao norte, até chegar ao Pelourinho - tombado pelo Patrimônio Histórico da Humanidade -, onde há mais de 800 casarões dos séculos 17 e 18. Durante o passeio, pode-se perceber como as casas são propositalmente (foto: Igreja da Ordem 3ª em Salvador) iguais, com a igreja no final da rua, como ponto de fuga da paisagem. E as casas são sempre baixas, justamente para permitir ao morador contemplar as igrejas.
Essa posição estratégica da igreja fazia parte do projeto de colonização e conversão de negros e índios ao catolicismo. As procissões, a localização das igrejas e os elementos barrocos buscavam fortalecer o domínio católico na colônia. "Não há como fugir da presença de Deus", afirma a arquiteta.
Foram as ordens religiosas - jesuítas, beneditinos, carmelitas e franciscanos - que trouxeram o barroco para o Brasil. Na Bahia, imperou o barroco das igrejas douradas, como se fossem cavernas de puro ouro. "Ele é conhecido como monumental", afirma Maria Izabel Branco Ribeiro, diretora do Museu de Arte Brasileira da Faap. Mas essa riqueza não foi vista com bons olhos por gerações posteriores. "Até o século 19, o barroco foi considerado um estilo de mau gosto."
Mau gosto ou não, o melhor exemplo do movimento está na Igreja e Convento de São Francisco, que tem seu interior completamente forrado com folhas do metal precioso e carrega a marca de ser uma das igrejas mais ricas do país.
Quem pretende entender a ordem cronológica e as variações do barroco tem de visitar a catedral Basílica, do século 17. Nela, pode-se encontrar dois altares do movimento antecessor, o maneirismo, alguns exemplos de um barroco "acanhado" e ainda sua última fase, com interferências do rococó.
Uma sugestão do arquiteto Francisco Senna é a igreja da Ordem Terceira de São Francisco, que guarda a maior coleção de azulejos fora de Portugal. Segundo o arquiteto, a coletânea "retrata detalhes da vida em Lisboa que foram completamente destruídos com o terremoto de 1755". O conjunto foi restaurado e reaberto para visitação.
Senna explica que essa edificação tem ainda outra raridade: "É o único exemplo de fachada em pedra lavada do barroco espanhol no Brasil". Realizada pelo mestre Gabriel Ribeiro, levou de 1708 a 1748 para ser construída.
* Jornalista
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