Ana Guimarães*
O que diriam os psicólogos modernos sobre um adolescente que perdeu a mãe aos 12 anos, contraiu doença incurável antes dos 16 e aos 17 recebeu a notícia do suicídio do irmão? O sofrimento de Antônio Frederico de Castro Alves virou poesia, que emociona leitores de todas as idades.
Não se sabe se por gosto, identificação ou ambos, Castro Alves tomou o partido dos escravos. Em seus poemas, os negros deixaram de ser mercadoria. Para aquele que ficou conhecido como poeta dos escravos, os negros eram irmãos. Nenhuma causa, nenhum amor mal-resolvido, nem mesmo a morte dos familiares teve tanto destaque em sua obra quanto a luta contra o regime escravocrata.
Castro Alves também escreveu sobre temas como a loucura e a morte, comuns no período. Mas o que traria verossimilhança à obra do poeta baiano era a certeza da morte que a tuberculose lhe dava e o suicídio de um dos cinco irmãos. “Vulgarmente melodramático na desgraça, simples e gracioso na ventura, o que constituía o genuíno clima poético de Castro Alves era o entusiasmo da mocidade apaixonada pelas grandes causas da liberdade e da justiça — as lutas da Independência na Bahia, a insurreição dos negros de Palmares, o papel civilizador da imprensa e, acima de todas, a campanha contra a escravidão”. Quem descreve é Manuel Bandeira (1886-1968), mas não é preciso ser um grande literato para entender o que o poeta dos escravos dizia. Suas palavras dispensam racionalizações e falam fundo ao coração.
“Era um sonho dantesco... o tombadilho/Que das luzernas avermelha o brilho.
/Em sangue a se banhar./Tinir de ferros... estalar de açoite.../Legiões de homens negros como a noite,
O que diriam os psicólogos modernos sobre um adolescente que perdeu a mãe aos 12 anos, contraiu doença incurável antes dos 16 e aos 17 recebeu a notícia do suicídio do irmão? O sofrimento de Antônio Frederico de Castro Alves virou poesia, que emociona leitores de todas as idades.
Não se sabe se por gosto, identificação ou ambos, Castro Alves tomou o partido dos escravos. Em seus poemas, os negros deixaram de ser mercadoria. Para aquele que ficou conhecido como poeta dos escravos, os negros eram irmãos. Nenhuma causa, nenhum amor mal-resolvido, nem mesmo a morte dos familiares teve tanto destaque em sua obra quanto a luta contra o regime escravocrata.
Castro Alves também escreveu sobre temas como a loucura e a morte, comuns no período. Mas o que traria verossimilhança à obra do poeta baiano era a certeza da morte que a tuberculose lhe dava e o suicídio de um dos cinco irmãos. “Vulgarmente melodramático na desgraça, simples e gracioso na ventura, o que constituía o genuíno clima poético de Castro Alves era o entusiasmo da mocidade apaixonada pelas grandes causas da liberdade e da justiça — as lutas da Independência na Bahia, a insurreição dos negros de Palmares, o papel civilizador da imprensa e, acima de todas, a campanha contra a escravidão”. Quem descreve é Manuel Bandeira (1886-1968), mas não é preciso ser um grande literato para entender o que o poeta dos escravos dizia. Suas palavras dispensam racionalizações e falam fundo ao coração.
“Era um sonho dantesco... o tombadilho/Que das luzernas avermelha o brilho.
/Em sangue a se banhar./Tinir de ferros... estalar de açoite.../Legiões de homens negros como a noite,
/Horrendos a dançar.../Negras mulheres, suspendendo às tetas/Magras crianças, cujas bocas pretas/Rega o sangue das mães:
/Outras moças, mas nuas e espantadas,/No turbilhão de espectros arrastadas,/Em ânsia e mágoa vãs!/E ri-se a orquestra irônica, estridente...”
O trecho faz parte do poema Navio Negreiro, talvez o mais famoso do poeta baiano, acessível gratuitamente no Portal Domínio Público, (http://www.dominiopublico.gov.br/) que reúne toda a obra de Castro Alves. Biblioteca digital, desenvolvida em software livre, o portal dispõe de arquivos de imagem, som, texto e vídeo.
Castro Alves nasceu na fazenda Cabaceiras, a 42 km da vila de Nossa Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje Castro Alves, no estado da Bahia, em 14 de março de 1847, e morreu em Salvador, em 6 de julho de 1871. Era filho do médico Antônio José Alves e de Clélia Brasília da Silva Castro, morta quando o poeta tinha 12 anos. Em 1866, perdeu o pai. Em 1868, durante uma caçada, com um tiro acidental de espingarda, feriu-se no pé esquerdo, que foi amputado no Rio, em 1869.
De volta à Bahia, passou grande parte do ano de 1870 em fazendas de parentes, numa tentativa de recuperar a saúde, comprometida pela tuberculose. Morreu em 1871, aos 24 anos, sem acabar o poema Os Escravos.
*Psicanalista e poeta
O trecho faz parte do poema Navio Negreiro, talvez o mais famoso do poeta baiano, acessível gratuitamente no Portal Domínio Público, (http://www.dominiopublico.gov.br/) que reúne toda a obra de Castro Alves. Biblioteca digital, desenvolvida em software livre, o portal dispõe de arquivos de imagem, som, texto e vídeo.
Castro Alves nasceu na fazenda Cabaceiras, a 42 km da vila de Nossa Senhora da Conceição de "Curralinho", hoje Castro Alves, no estado da Bahia, em 14 de março de 1847, e morreu em Salvador, em 6 de julho de 1871. Era filho do médico Antônio José Alves e de Clélia Brasília da Silva Castro, morta quando o poeta tinha 12 anos. Em 1866, perdeu o pai. Em 1868, durante uma caçada, com um tiro acidental de espingarda, feriu-se no pé esquerdo, que foi amputado no Rio, em 1869.
De volta à Bahia, passou grande parte do ano de 1870 em fazendas de parentes, numa tentativa de recuperar a saúde, comprometida pela tuberculose. Morreu em 1871, aos 24 anos, sem acabar o poema Os Escravos.
*Psicanalista e poeta
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