O prefeito de Salvador está de parabéns. A nova coreografia do Balé Municipal, acompanhada da Orquestra Sinfônica da Cidade de Salvador, embelezou ainda mais nosso novo Teatro Municipal. Este espaço, recém inaugurado, caiu como uma luva pra cidade. Localizado no centro de Salvador, as dez salas de ensaio, o espaço experimental, com capacidade pra 300 pessoas, e a sala principal, com um total de 1.200 lugares, acabou vindo na esteira da criação da Secretaria de Cultura do Município. Com o novo recapeamento da cidade, que agora conta com ruas asfaltadas em nível internacional, pode-se chegar ao Teatro Municipal através dos bondes modernos que foram criados para interromper o fluxo contínuo de carros. Agora, com esses bondes, basta se deixar o carro ou chegar de ônibus ou metrô no estacionamento subterrâneo, e de lá passear pelo centro admirando a reforma que trouxe uma nova vida à cidade. Com a interrupção do desmatamento, nosso prefeito seduziu as construtoras e revitalizar prédios antigos, ao invés de construir mais e mais coisas, numa ação que era totalmente burra; deixava-se imóveis belíssimos, espaços obsoletos no centro pra fugir para a periferia da cidade, fazendo fronteira, já, a outros municípios. Fiquei também orgulhoso de ver como todas as nossas praças foram reformadas. A ideia de fazer anfiteatros e barraquinhas nas praças, retirando ambulantes das ruas, acabou por trazer as famílias de novo ao seu passeio de fim de tarde, às atrações de final de semana porque, sim, a Secretaria de Cultura passou a incentivar as artes da cidade e não tem final de semana que não haja programação de boa qualidade nas raças. As novas lixeiras, banheiros públicos e passeios planejados vieram a deixar mais belo ainda o projeto das novas barracas de praia. Pistas de ciclismo, boa acessibilidade, tudo isso transformou a orla de Salvador num espaço moderno e sedutor. A política de incentivar uma urbanização limpa e pensada já há tempos cessou com os engarrafamentos. Pouca gente pensa em sair de carro de sua casa, pois a interligação entre metrô, ônibus climatizados e bondes modernos, funcionando de forma regular até às 2hs da madrugada, trouxe menos barulho, menos poluição e menos violência e mortes no trânsito. É bom ver que agora as pessoas vêm a Salvador pra assistir sua arte, apontando para o futuro. Viramos uma referência em todos os ramos da arte e o Museu de Arte contemporânea inaugurado há pouco tempo nos colocou de novo no cenário internacional de forma sensacional. Foi-se o tempo em que as pessoas vinham ver aquela cidade folclórica, de gente suja e pobre, de arte tosca e carnaval desorganizado. O prêmio concedido pela UNESCO ao planejamento feito no nosso último carnaval trouxe investimentos e o carnaval do ano que vem promete revolucionar a economia local. Agora, as pessoas não vêm mais para o carnaval, elas aproveitam o período para assistir bons espetáculos, coreografias, ver nossa orquestra e balé no Teatro Municipal. O incentivo da Secretaria de Cultura do Município à música local potencializou nossa criação e hoje dificilmente se consegue assistir apresentações musicais se não se comprar o ingresso com antecedência. Os grupos instrumentais de Salvador acabaram por esvaziar as grandes bandas de carnaval devido à demanda dos espaços novos, dos anfiteatros nas praças, o soteropolitano, depois dessas iniciativas do governo, passou a consumir todo tipo de arte local e paramos de ser os provincianos que ficavam atrás de xous de Lenine, Ana Carolina, etc., bem como espetáculos de globais. Com os novos incentivos da prefeitura, a produção local tomou um gás e hoje em dia está difícil achar espaço pra atrações de fora, visto que o prestígio local dos artistas vêm lotando teatros e praças. Claro que tudo isso se deve, também, à revolução na educação. A qualificação, reciclagem e capacitação dos professores, que tiveram aumentos na ordem de quase 300%, tudo isso acabou se refletindo nas salas de aula. As escolas municipais, reformadas, ficaram mais atraentes e uma geração de meninos preparadíssimos começou a surgir. Grandes professores da rede privada migraram, devido às condições e metas da prefeitura, para o ensino público e uma pequena revolução foi feita. Muito se poderia falar, parabenizando nosso prefeito. Não citei nem metade. Mas, pra eu não perder a fama, faço aqui uma crítica da minha área, a arte. Com essa urbanização fantástica, essa revolução na educação e o surgimento de novos teatros, espaços e museus, nossa produção aumentou muito. O governo conseguiu dar conta disso através de recursos próprios e acordos com a iniciativa privada. Temos, hoje, vários grupos de teatro, de dança, grupos musicais residentes em espaços públicos e privados, com programação constante e rica. Nossa orla virou referência nacional e nosso sistema de transporte, também. Com o fim da violência urbana, o soteropolitano passou a sair mais, ter mais tempo com trânsito livre, passou a frequentar mais a cultura local. Sim, e qual é a crítica? O problema é que a maioria dos teatros está com as temporadas dos grupos de dança e teatro esgotadas. Essa ideia de vender ingressos pra temporadas inteiras está afastando o turista. Precisa-se de uma política pra que o turista que chega num de nossos novos hotéis baratos e confortáveis possa curtir a cidade e sua cultura. Referência que somos, agora, de arte, as pessoas vem aqui assistir nossas criações e não acham ingressos. Claro que sempre haverá opções, com as barracas de praia novas, nossa orla fantástica, todo o sistema turístico implantado na cidade... Ah, não falei dele! Bem, o NST, Novo Sistema Turístico, aliou avançado sistema de transportes, a revitalização das praças, calçadas, a criação de banheiros públicos, lixeiras, barracas para atendimento, tudo isso se juntou a um mapa turístico pensado da cidade. Hoje em dia, você chega em qualquer lugar histórico da cidade e encontra um sistema informatizado com toda a história do local e explicando como foi o processo de revitalização do entorno. O mesmo sistema está sendo implantado, agora, nos espaços culturais da cidade. Mas isso seria um outro texto. Senhor prefeito. Não adianta criar um teatro municipal maravilhoso como esse, subvencionar as artes, revitalizar monumentos, espaços, praças, ter um sistema de transporte qualificado. Como o turista poderá usufruir disso? Quis assistir a nova coreografia do Balé da Cidade de Salvador e a mulher da bilheteria disse que os ingressos para a temporada 2011/2012 estão esgotados. Eu, como soteropolitano, não estou tendo chance de ver o balé da minha cidade, a orquestra da minha cidade. Imagine o turista? Parabéns, senhor prefeito. E espero que um dia você exista. Porque a atual conjuntura é desesperadora e as perspectivas dos próximos prefeituráveis são péssimas. Parabéns, senhor prefeito. E conte com meu voto.
* Dramaturgo, ator e escritor