sábado, 26 de dezembro de 2009

Depois de 10 anos e R$ 1 bilhão a pergunta : E o Metrô de Salvador?

Mais um ano se finda e continua a novela do Metrô de Salvador. Depois de várias alterações no projeto, depois de seguidos aditivos de valor e prazo e despendidos quase R$ 1 (um) bilhão, nenhuma perspectiva concreta para o equacionamento da grave questão do transporte público de passageiros em Salvador.
A novidade é que temos de acompanhar as notícias, não mais nas páginas de economia ou nos cadernos da cidade dos jornais, mas sim, nas páginas policiais.
Notícia veiculada no jornal O Estado de São Paulo,(http://www.estadao.com.br/noticias/nacional,mpf-pede-investigacao-de-14-obras-da-camargo-correa,483180,0.htm ) inclui a obra do Metrô de Salvador, na operação da Polícia Federal - Castelo de Areia. Uma das integrantes do Consórcio do Metrô de Salvador está sendo acusada de corrupção ativa. Um dos indícios apontados está relacionado às alterações ocorridas no projeto do Metrô de Salvador, principalmente na alteração que resultou na elevação de custo da obra no trecho Fonte Nova - Estação Rótula do Abacaxí por conta da mudança radical do projeto.
No cronograma inicial da obra, já estaria concluído o trecho Estação da Lapa - Estação Cajazeiras e iniciada a segunda linha Estação Calçada - Estação Mussurunga.
Com a palavra os gestores públicos, o Ministério Público Federal e a Sociedade Civil Organizada.
E por falar em Sociedade Civil, depois da reunião realizada na Reitoria da UFBa em maio, que daria início à organização, inspirada no Movimento Nossa São Paulo, nenhuma notícia do Movimento Nossa Salvador. Omissão também é cumplicidade.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Carta a Diógenes Rebouças

de HELIODORIO SAMPAIO*
Sem buscar o sucesso efêmero, mestres, como Diógenes Rebouças, se cercaram de atitudes firmes e discretas no ato do “saber fazer” coisas do ofício. As raras entrevistas, a ausência nas colunas sociais, a fuga ao sucesso fugaz, às comendas e atos correlatos atestam o modo de vida quase monástico, deste arquiteto-urbanista pioneiro do modernismo baiano.
Para Diógenes, a boa arquitetura tem capacidade de absorver mudanças no tempo. Repetia:
– Papel pintado se rasga e joga fora, se faz outro desenho; mas a obra não, ela estará lá sempre a espiar os nossos equívocos.
Três ideias-força circunscrevem a obra de Diógenes: a implantação no sítio geográfico; concepção generosa dos espaços de convívio – públicos ou semipúblicos; e estética austera, vincada numa espacialidade fiel à concepção estrutural.
Escola Parque, Hotel da Bahia, Fonte Nova, Politécnica, Faculdade de Arquitetura, antiga Rodoviária, avenidas Contorno e Centenário, casas, igrejas etc. contemplam suas ideias-força.
Em carta imaginária inédita, de 6.12.2007, tentamos mostrar o espírito guia da nossa cinquentenária escola, no que ela tem de melhor: a disposição para defender a cidade do desastre em curso; que atinge em cheio as obras do EPUCS, de Diógenes Rebouças e vários outros modernistas.
(Seguem trechos da carta):
“Mestre,
Faz tempo que nos falamos, desculpe o silêncio. Ando perplexo com velhas ideias que voltam a circular na nossa Salvador, mostrando o descuido com o sítio geográfico e a história do modernismo baiano no século XX, no qual o senhor foi um protagonista maior, exemplar. (…)
Na esteira de uma modernização caolha continuam a raspar do território as sobras da arquitetura e urbanismo do século passado. Persiste o equívoco de que “memória urbana” diz respeito apenas aos espaços do século XVIII para trás, em guetos turísticos. Seu livro e quadros certamente adornam prateleiras da mesma elite que destroça os vestígios da Salvador antiga. Só a arte de um Diógenes – o pintor e aquarelista – possibilita, ao lado de Munlock, Ferrez, Verger e outros artistas sensíveis, aferir os estragos causados pelo Urbanismo Demolidor que transpõe o século passado e nos alcança em cheio. (…)
Sua obra, ao lado de outros grandes arquitetos baianos, encontra nas picaretas o golpe que derruba edifícios, mas pouco alcança o silêncio de parte da mídia, conivente, cooptada. Tudo converge para os desígnios da cidade-mercadoria, espetaculosa, anunciando um futuro estarrecedor para a cidade herdada do EPUCS. (…)
Neste viés urbanístico, ideologicamente “progressista”, esquecem das experiências recentes desastradas, pelas consequências provocadas na decadência do Centro Histórico, e dos vazios no entorno da Paralela. Continua em curso a ênfase na centralidade da Paralela, congestionada, alimentando um processo que desde o século passado se revela desastrado. As eleições apontaram mudanças, outros quadros assumiram o poder político-administrativo – substituindo um ciclo esgotado –, mas o discurso urbanístico continua muito igual. A frase emblemática na placa no CAB: “Aqui se constrói o futuro sem destruir o passado”, continua firme na Paralela. Mas a qual passado se refere? Se o Centro Histórico continua problemático, cidade alta e baixa aos pedaços. Subúrbio e miolo, nem se fala. (…)
No seu livro, a tensão entre o velho e o novo retoma Augusto de Campos:
eu defenderei até a morte o
novo por causa do antigo e até a
vida o antigo por causa do novo.
o antigo que foi novo é
tão novo como o mais novo.
(…)
Mestre, até mais ver.”
A relação dialética entre o novo e o velho é essencial às cidades históricas. Já disse o poeta maior: “O valor das coisas não está no tempo em que duram, mas na intensidade com que acontecem. Por isso, existem momentos inesquecíveis, coisas inexplicáveis e pessoas incomparáveis.”
Diógenes Rebouças é ímpar e também o par; indissociável desta cidade. Se o projeto demolidor ainda é papel, deve ser mudado. Como pedem Faufba, IAB, Crea, Conselho de Cultura, e nós cidadãos.
*Heliodorio Sampaio – Arquiteto, professor da Universidade Federal da Bahia

domingo, 13 de dezembro de 2009

DIMITRI GANZELEVITCH: “É PORQUE GOSTO DA BAHIA QUE FAÇO CRÍTICAS”

de CAROLINA MENDONÇA
Criado por uma família que sempre valorizou o livro e a cultura, o francês nascido no Marrocos Dimitri Ganzelevitch (foto) 73, escolheu a arte como forma de vida. Aos 5 anos, desejava ter um museu. Aos 14, passou a colecionar peças. Estudou em escolas de arte de Marrocos, Lisboa, Paris e Londres e chegou a vender peças da sua obra como pintor, mas seu olhar crítico fez com que ele abandonasse os pinceis e passasse para o outro lado do negócio, tornando-se marchand. Desde 1975, quando se mudou para a Bahia, vem apostando no trabalho de novos talentos e na valorização da cultura popular. O fundador da Associação Viva Salvador, que desenvolve ações de educação para a arte, teve seu acervo particular reconhecido pelo Ministério da Cultura, o que transformou sua residência na Casa Museu Solar Santo Antônio. Duro nas críticas às políticas públicas culturais praticadas no Estado, acredita que Salvador está perdendo sua identidade.
Um dos motivos da sua vinda à Bahia foi a música de Dorival Caymmi?
Com certeza. Quando eu morava em Portugal, tínhamos, em casa, muitos discos de música popular brasileira. Tinha Noel Rosa, Orlando Silva, Dick Farney e Dorival Caymmi, que me encantava. Quando ouvia Maracangalha, eu viajava! Um dia, um tio me convidou para conhecer o Carnaval do Rio, vim imediatamente. No Rio, eu tinha uma carta de apresentação para o escritor Orígenes Lessa. Ele me convidou para vir com ele à Bahia, para o casamento do filho de Jorge Amado. Entrei pela porta certa, não é? Fui recebido pelo Jorge, Carybé nos levou no Axé Opô Afonjá, Ildásio Tavares nos apresentou a Lagoa do Abaeté. Era maravilhosa. Fazíamos buracos na areia para colocar velas, havia sempre alguém com um violão, uma delícia. Claro que havia furtos, assaltos, mas era seguro, não se sabia o que era matar, como hoje. Tudo isso criou uma imagem de encantamento. Voltei várias vezes até que vim para ficar de vez.
Como marchand, o senhor sempre teve interesse pela cultura popular?
Sempre tive um olhar eclético. Morei em vários lugares diferentes e me familiarizei com muitas culturas. Diria que tenho um pé no acadêmico, um no contemporâneo e outro nas imagens do inconsciente. E gosto de apostar no novo. Dei um empurrão a artistas brasileiros que, depois tiveram reconhecimento. Tive a primeira galeria do Pelourinho. Quando dizia que morava no Centro Histórico, me olhavam como se eu fosse louco.
Esse interesse está também nos concursos que organizou para premiar os melhores carrinhos de café e barracas de festa de largo?
Quando a Lídice da Mata acabou com as barracas das festas de largo, sofri muito. Conheci as barracas quando tive uma loja no Mercado Modelo e fiquei maravilhado. Depois de um ou dois anos participando da festa da Nossa Senhora da Conceição, percebi que alguns barraqueiros já estavam colocando anúncios de refrigerantes, isso me deixou em alerta. Com medo de que aquilo desaparecesse, organizei, junto com Goya Lopes, Murilo e outros amigos, um concurso para a valorização da cultura das festas de largo. Premiávamos os bancos, fachadas, a comida, a higienização, eram várias categorias. Durou alguns anos até que o patrocinador, o dono de uma marca de tintas, faleceu. Pouco depois, assistimos à substituição das barracas por estruturas de metal, lona e plástico. Foi trágico, um erro total de leitura. O Instituto do Patrimônio Histórico e artístico (Iphan) chegou a fazer uma lei para proteger aquele patrimônio imaterial, mas já era tarde. Defendo, no entanto, que é possível recuperar essa cultura.
Barraca de Festa de Largo - 1986 - Foto:Adenor Godim
Salvador vem perdendo sua identidade?
Muitíssimo. Estão derrubando todas as construções históricas, estão depredando a cidade. Tudo está virando espigão. Aquilo que fizeram atrás da casa dos cardeais é um assassinato estético! Agora querem descaracterizar a Praça Cayru. Não se tem um projeto de desenvolvimento. Tudo depende da exploração imobiliária.
É considerado crítico?
Venho de uma cultura onde a crítica faz parte das discussões. Aqui, com a herança escravagista, uma república mais ou menos democrática e, depois, a Ditadura Militar, se perdeu o direito de criticar. Por isso, escrevo minhas crônicas, protesto. É justamente porque gosto da Bahia que faço críticas. Estou escrevendo sobre o abandono do Santo Antônio Além do Carmo, que está ameaçada por essa mocinha, a Luciana Rique, que está abocanhando parte do bairro. E as famílias que moravam naquelas casas? Vai ser a mesma burrice que se fez no Pelourinho
.
Entrevista publicada originalmente no jornal A Tarde

JUVENÁ LAMENTA O FIM DA CRIATIVIDADE NAS FESTAS DE LARGO

EMANUELLA SOMBRA
Veterano das festas de largo, o baiano Juvenal Silva Souza,(foto) 66 anos, o Juvená, é enfático: a Conceição da Praia acabou. Da época em que montar barracas para a festa significava ficar até uma semana dormindo ao ‘relento’ sobre engradados de cerveja e tomando banho de bica, ele não hesita:
– Essa série de intervenções padronizaram demais. Festa popular é festa popular.
Juvená passou 13 anos montando barracas de bebida nas festas da Conceição da Praia, Itapuã, Ribeira, Pituba e Rio Vermelho.
– Tenho uma saudade absoluta. Geralmente eu armava barraca dia 28 de novembro na Conceição, todo mundo ia pra lá e já fazia a festa antecipada. O dia 8 era uma festa grande, mas a gente já tava até satisfeito – lembra.
Há uma década o homem de barba branca não pisa o pé na Conceição. Prefere ficar em Itapuã, onde tem barraca de praia e residência.
– A festa que a gente costumava armar era mais criativa, a gente fazia e encomendava os “tamburetes”, a pintura dava uma conotação de arte. Era rústica mas era mais humana. Depois começaram a padronizar…
– A gente se entrosava, conversava, bebia, fazia samba-de-roda (o samba duro como chamam no Recôncavo baiano). Terminava a Conceição e a gente ia para a Boa Viagem antecipadamente. Era uma festa popular de fato. Era isso que era bom – diz Juvená que hoje prefere ver estas festas pela televisão.
Publicado originalmente no jornal A Tarde

sábado, 12 de dezembro de 2009

A Ponte para Itaparica e a Expansão da Região Metropolitana de Salvador

Já está em mãos do governador Jaques Wagner, desde o dia 26 de janeiro de 2009, um documento assinado pelo engenheiro Manuel Ribeiro Filho, diretor da Construtora OAS para a Bahia, Sergipe e Alagoas, solicitando autorização formal para efetuar, por sua conta e risco, os estudos necessários para a viabilização de um projeto que ligará a BR-324 até o ponto final da BR-242, na Ponte do Funil, que será duplicada juntamente com o trecho até Itaparica.
O sistema será criado a partir da Via Expressa Baía de Todos os Santos (novo Km 0 da BR-242) e que alcançará, pelo mar, a Ilha de Itaparica, daí prosseguindo pelo continente. A ponte é só rodoviária em todos seus 12km, com 8 pistas, das quais 2 exclusivas para cargas, um vão central estaiado de 560 m e 90m de altura, mais 2 outros estaiados adjacentes de 285 m. O custo estimado em R$ 2,5 bilhões prevê desembolsos de R$ 600 milhões anuais, cabendo40% ao setor privado (R$250 milhões), R$ 300 milhões ao governo federal e R$ 100 milhões ao governo estadual. Também poderá ser desenvolvida uma combinação de modalidades de concessão que envolveria a construção, operação e manutenção do sistema.
Segundo Manuel Ribeiro,(foto) a Ilha de Itaparica ganhará um Plano Diretor Único capaz de coibir sua degradação e a especulação fundiária, com a criação e implantação de núcleos urbanos planejados, diversificados, infra estruturados, integrados ao meio ambiente, absorvendo, de forma estruturada, parte da demanda habitacional da RMS. Torna-se, assim, um novo raio de expansão e turismo, beneficiando a mobilidade urbana e o planejamento de Salvador, que terá seu ritmo de ocupação reduzido e direcionado para áreas que deverão ser, a partir da implantação deste Vetor Oeste, recuperadas, renovadas e revitalizadas, a exemplo do Comércio e Península Itapagipana.
Adianta Ribeiro, que os impactos do projeto não ficarão restritos à RMS, sendo sentidos também no Baixo Sul (rumo a Itacaré-Ilhéus) com a redução das distâncias rodoviárias e ajudando a integrar a economia do Recôncavo e da RMS com a nova economia que surgirá com o Porto Sul e a Ferrovia Oeste Leste. Permitirá o acesso direto das BRs 101, 116 e 242 aos portos de Salvador, Aratu e PóloNaval sem interferir na capital baiana.
Coloca importância no escoamento de toda a produção do Oeste da Bahia por estas vias, alterando, significativamente, o Plano Nacional de Viação que terá o Km 0 da BR-242 no Porto de Salvador. Manuel Ribeiro garante ter a OAS conhecimento técnico e de gestão comprovadamente suficiente para desenvolver planos e empreender, isoladamente ou em consórcio, obras e intervenções previstas nos projetos de engenharia, transportes, mobilidade e desenvolvimento urbanos.
Para isto, contará com a assessoria técnica de profissionais especializados na área de urbanismo, desenvolvimento urbano e cálculo estrutural, destacando-se o arquiteto e urbanista Ivan Smarcevscki (concepção geral do Projeto), Escritório da LVA -Logística de Valor Agregado (operações urbanas a partir da introdução no projeto de conceitos do chamado Novo Urbanismo) e da Enescil Engenharia de Projetos (desenho e pré-dimensionamento estrutural da ponte). Compreenderá estudos técnicos de arquitetura, urbanismo, engenharia, jurídicos, econômicos e financeiros para modelagem adequada das PPP's ou concessões, envolvendo a definição de elementos de projetos básicos que permitam sua plena caracterização, o orçamento preliminar de investimentos, as diretrizes para o licenciamento ambiental do empreendimento, o estudo de viabilidade econômico-financeira com a indicação da forma de remuneração necessária ao investimento e à operação do projeto, a forma mais apropriada para contra prestação do poder público, os critérios objetivos de avaliação e desempenho do projeto.
Para a Ilha de Itaparica, sugere uma rigorosa proteção ambiental, principalmente da contracosta, tráfego pesado em via segregada, proteção aos sítios históricos da cidade de Itaparicae do Distrito de Baiacu (parque estadual para preservar o resto de manguezais e de Mata Atlântica), criação de bairros planejados em áreas antropizadas e de um consórcio público do Estado e os municípios de Vera Cruz e Itaparica para elaborarum novo PDDU, a ser aprovado pelas respectivas Câmaras de Vereadores. Propõe a implantação de 4 núcleos (Cultura,Verde, Conexão e Bem-Estar), ocupando 24,3% da ilha, com determinados tipos e critérios de ocupações (residenciais e comerciais), campo de golfe , nova marina e um centro de excelência para a indústria naval.
Texto originalmente publicado em Bahia Negócios - http://www.bahianegocios.com.br

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Futuro sombrio ou de progresso?

CRESO AMORIM*
Há dias foi publicado o artigo intitulado "Porto de Salvador: rumo ao futuro", assinado pelo presidente do Sindicato de Operadores Portuários de Salvador e Aratu, apoiando a proposta da Codeba de aditivo ao contrato do terminal arrendado e construção de um berço público. Gostaria de fazer o contraponto à opinião manifestada, apenas sob dois aspectos.
Primeiro, é estranho que o presidente do sindicato de empresas operadoras portuárias, que deveria promover o fortalecimento de seu segmento econômico, esteja a defender uma solução que beneficia uma única operadora. Não existe justificativa para se prolongar mais esse monopólio no Porto de Salvador, em detrimento das demais operadoras baianas. A conduta monopolística da empresa escolhida pela Codeba há dez anos para explorar o terminal de contêiner tem custado caro, pela imposição de ineficiências econômicas (filas no terminal e no depósito de contêineres vazios ou cobrança de tarifas adicionais), cujos custos assumidos pelas transportadoras ou exportadoras, se constituem no "custo Bahia". Também efeito dessa ineficiência, se agrava a fuga de mais de 30% das cargas baianas do comércio exterior para portos de outros estados, que diminui o mercado para as empresas baianas de transporte.
Seria louvável que o presidente do sindicato de operadores defendesse o seu segmento, para fortalecer as outras empresas baianas e estimular a criação de novas.
O outro aspecto é quanto ao mérito da proposta da Codeba, que pouco acrescenta às necessidades da Bahia e premiaria uma arrendatária, que a rigor até já deveria ter o contrato rescindido, em razão da conduta monopolística.
Assim, propomos que a Codeba resolva definitivamente o problema de capacidade de movimentação de contêineres com visão ampla e harmônica que contemple a licitação, não apenas de mais um terminal de contêiner, mas de dois ou três novos, verdadeiros interesses para o desenvolvimento da economia baiana, que não pode ficar contingenciada a propostas diminutas. Ninguém quer um porto cujo rumo seja um futuro sombrio.
A Bahia precisa de progresso para todos.
*Creso Amorim é presidente do Sindicato das Empresas de Transporte de Contêiner do Estado da Bahia

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

TRANSPORTE COLETIVO X TRANSPORTE INDIVIDUAL

Por Almir Santos*
Nenhuma grande cidade pode sobreviver priorizando o transporte individual, a menos que tenha um mega infra-estrutura viária. As duas maiores cidades brasileiras Rio de Janeiro e S. Paulo, principalmente esta, vivem problemas de trânsito incomensuráveis, em que pese terem uma rede de metrô. Modestas,diga-se, para suas dimesões.
Salvador, como uma taxa de motorização em torno de 5,0 habitantes/veículo, abaixo de muitas capitais do Nordeste, inexpressiva se comparada com S.Paulo, Goiania e Cutitiba que têm 2,0 habitantes/veículo, está caminhado para um caos, que poderia ser solucionado se oferecesse um eficiente meio de transporte de alta capacidade.
Pode-se imaginar o que seria se tivesse uma taxa de motorizaçao significativa. É importante citar a experiência brasileira bem sucedida da cidade de Curitiba que se antecipou à crise dos tranportes há aproximadamente 40 anos.
Lá foi concebida uma REDE INTEGRADA DE TRANSPORTES com sete categorias: convencional, expresso, interbairros, linha direta, alimentador, circular centro e estudantes.
Os ônibus projetados especialmente para cada categoria como o bi-articulado com capacidade de 270 passageiros que trafega nas linhas expressas e utilizam as caneletas segregadas equipadas com detectores que dão prioridade aos ônibus nas intercessões. Assim os horários são rigorosamente cumpridos.
O ligeirinho, que opera na Linha Direta, tem um número de paradas reduzido, onde o embarque é feito através de Estações Tubo, cuja plataforma se situa no mesmo nível do piso do ônibus e o pagamento da tarifa é antecipado. Dessa forma, o embarque e desembarque são quatro vezes mais rápidos do que nos ônibus convencionais. Os deficientes usam um elevador implantado no nível da pista.
O interbairros é composto de cinco circulares concêntricas nos dois sentidos. Não vai ao centro, mas integra com as outras categorias. Os ônibus são equipados com uma voz fantasma que informa todas as possibilidades de conexão, fechamento das portas, número de portas que serão abertas nos pontos de parada, mensagens educativas e avisos de interesse dos usuários.
A rede integrada engloba 14 municípios da Região Metropolitana, a maioria distantes aproximadamente 40 km do centro de Curitiba: São José dos Pinhais, Pinhais, Colombo, Piraquara e Rio Branco do Sul, Almirante Tamandaré, Fazenda Rio Grande, Campo Largo, Campo Magro, Araucária, Contenda e Itaperuçu. O maior deslocamento é Rio Branco do Sul a Contenda com 70 km de extensão. A tarifa única integrada é R$2.20 durante a semana e R$1,00 aos domingos o que representa uma tarifa média ponderada de R$2, 03.
A rede da Grande Curitiba comporta 469 linhas, sendo 388 integradas. Metrô não existe, mas o sistema eficiente de transporte público dá para deixar o automóvel em casa e não se perceber que a cidade tem uma frota de 1,2 milhões de veículos, o dobro da de Salvador. Um transporte especial feito através do SITES (Sistema de Transporte de Ensino Especial), atende 2.600 alunos portadores de deficiência transportados por dia em 38 linhas que apóiam 36 escolas especializadas (Único subsidiado pala Secretaria de Educação). 65% dos ônibus em Curitiba têm acessibilidade total para deficientes. Os chamados madrugueiros garantem um transporte regular durante 24 horasSão 351 Estações-tubo, 72 km de canaletas exclusivas, cinco grandes corredoresL(Boqueirão, Norte, Sul, Leste e Oeste), 5 mil pontos de parada, 21 Terminais de integração urbanos e 7 metropolitanos
A distância entre os pontos de parada é regulamentada. Para os Expressos é de 400m, para os alimentadores 250m, para os convencionais 300m, e para o ligeirinho 2000m. Os ônibus são limpos, bem conservados, equipados com voz fantasma e os motoristas educados têm uma boa postura profissional. Dessa forma pode-se optar pelo transporte coletivo no dia-a-dia ficando o transporte individual para o lazer, não se perceber que Curitiba tem o dobro da frota de Salvador e lá não se registram os problemas de trafego como em outras cidades. Mas o IPPUC- INSTITUTO DE PESQUISA E PLANEJAMENTO, URBANO DE CURITIBA, não pára.
Continua pesquisando, planejando e procurando alternativas visando melhorar o sistema.
* Almir Ferreira Santos é Engenheiro Civil, especialista em transportes urbanos. No Governo do Estado da Bahia, participou da elaboração do Programa Estadual de Logística de Transportes- PELTBAHIA.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Festa de Santa Bárbara/ Iansã, dá inicio ao calendário de festas em Salvador

O início do calendário de festas religiosas em Salvador começou na manhã de sexta feira com as comemorações da Festa de Santa Bárbara. Quase seis mil pessoas se reuniram nas ruas do Centro Histórico para homenagear Santa Bárbara, para os devotos católicos, e Iansã, para os fiéis do candomblé.
A festa, que rende homenagens à santa católica e à orixá ao mesmo tempo, já completa 135 anos. Desde 1874, as ruas da Baixa dos Sapateiros são tingidas de vermelho e branco em adoração à deusa da guerra, dos ventos, da tempestade. Para os católicos, a adoração é para a mulher que foi exemplo de fidelidade e firmeza, mesmo frente ao martírio. Pelas ruas do Pelourinho, no Mercado de São Miguel e na Barroquinha, o samba e as batucadas tomam conta do cenário.
A Boiada Multicor, coordenada pelo professor Jorge Conceição, segue pela Rua Gregório de Mattos e se apresenta pela primeira vez na festa de Santa Bárbara.
A tradição da festa é antiga. Aos 82 anos, Dona Maria Bernadete da Conceição, uma das coordenadoras da paróquia de Santa Bárbara, é testemunha ocular de anos de homenagens. Todo 4 de dezembro, veste-se de vermelho e branco. No pescoço, carrega o símbolo maior do sincretismo religioso, as contas de Iansã e uma medalha das Devotas de Santa Bárbara. "Eu amo essa santa. Essa é uma tradição dos antigos, que vem dos antepassados e vai passando de pai para filho, de uns para os outros", afirma, emocionada.
Pelourinho - A festa, no entanto, não parou com o cortejo oficial. As ruas do Pelourinho receberam shows durante o dia, com muito samba e apresentações de capoeira. As atrações itinerantes deste ano incluíram o Cortejo Maracatu da ONG Acasa, os Meninos do Pelô, a Boiada Multicor e o Swing do Pelô.
Já a programação musical contou com Jorginho Comancheiro, Grupo Terra Brasilis, Juliana Ribeiro, Alísio Menezes e Portela, Samba de Barbinha, Pagobanda, Band’Afro Detona, Walmir Lima, A Mulherada, Aquarela do Samba e Neto Balla e Profissão Samba.
Os shows, com exceção de Neto Balla e Profissão Samba, foram gratuitos e iniciaram a partir das 14horas desta sexta-feira, distribuídos entre as ruas do Centro Histórico, o Largo do Pelourinho, o Mercado São Miguel, o Terreiro de Jesus, e os largos Pedro Arcanjo, Tereza Batista e Quincas Berro D’Água.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Tributo a Rômulo Almeida

CLAUDIA CORREIA*
Dia 23 de novembro de 1988 falecia inesperadamente o brilhante homem público Rômulo Almeida. Como temos uma frágil memória histórica, poucos lembram de sua obra. Economista, nascido em Salvador de família de Santo Antônio de Jesus, ganhou nome de viaduto, de escola estadual e de rua. É muito pouco para a sua trajetória exemplar, repleta de contribuições ao desenvolvimento socioeconômico e cultural da Bahia, do Brasil e da América Latina.
Ele esteve presente na história de grandes empreendimentos brasileiros como a Fundação Casa Popular, a Petrobras, a Eletrobrás, a Confederação Nacional da Indústria, o Banco do Nordeste, a Sudene, a Rede Ferroviária Federal, o BNDES, a Capes e o Ibam, entre outros. Na Bahia, projetou a pioneira Comissão de Planejamento Econômico (CPE), a Coelba e o Polo Petroquímico de Camaçari.
Rômulo foi um visionário, um planejador humanista, um político sem vaidades. Era dotado de uma humildade típica dos sábios, que constrangia os que fazem da política trampolim para enriquecer a qualquer custo, dominar e ser bajulado.
Ele nunca quis ser mito, foi sempre um homem simples, de hábitos comuns e ao seu modo, muito amoroso. Concedia entrevistas a estudantes ávidos por conhecimento com o mesmo respeito que prestava atenção em monótonos discursos de intelectuais e políticos.
A última imagem que guardo de Rômulo, é ele sentado na varanda de sua casa na Pituba, com a “praguinha” do candidato Virgildásio Sena na camisa branca, no dia da eleição para prefeito de Salvador, quinze dias antes de falecer em 1988. Como de praxe, ele tinha percorrido algumas seções eleitorais e descansava brincando com o neto enquanto esperava o almoço ser servido.
Tive o privilégio de conviver com Rômulo de perto e observar cada gesto, ouvir cada ideia, compartilhar de algumas viagens por estradas empoeiradas na campanha de Waldir Pires ao governo da Bahia em 1986. Lembrar sua intensa presença na cena política e econômica nos desafia a ter esperança para superarmos a crise mundial e seguirmos perseguindo um desenvolvimento econômico com justiça social e equidade.
*Claudia Correia – Assistente social, jornalista

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Coleção Rodin na Bahia

Alem das quatro obras instaladas nos jardins do Palacete, mais 62 peças originais em gesso de autoria de Auguste Rodin fazem parte da Coleção Rodin na Bahia. Entre os trabalhos expostos, destacam-se inúmeros estudos feitos por Rodin para a criação da Porta do Inferno. Das obras mais conhecidas , o público poderá apreciar: O Beijo, A Defesa e principalmente o Pensador.
"Nessa Exposição, o gesso triunfa porque tais peças receberam diretamente as mãos do escultor. Elas são autênticas, e se pode ler nos escritos deixados por Rodin a explicação do processo criativo, no qual ele se coloca como escultor cheio de entusiasmo."
"A primeira ideia a nos fazer refletir é a que o gesso é a matéria prima que precede, invariavelmente, o uso de materiais nobres e caros como o bronze e o mármore, ambos raramente executados pelo próprio artista. O bronze é preparado no ato da fundição e o mármore, em geral, é talhado por auxiliares práticos sob supervisão do artista. Já em relação ao bronze, pode-se afirmar que as esculturas como Balzac monumental e até mesmo a famosa Porta do Inferno só foram produzidas em metal depois do falecimento do escultor e à partir de moldes em gesso, esses sim feito por Rodin, que jamais enquanto vivo realizou pessoalmente alguma fundição de suas obras."
(Heloisa Helena Costa - consultora científica da Coleção Rodin na Bahia)
O Pensador
Esta obra foi criada em 1880 medindo 70cm, e aparece na modelagem da Terceira Maquete da Porta do Inferno.
Inicialmente recebeu o título de O Poeta, representando Dante, autor da Divina Comédia, que inspirou a Porta do Inferno.
Era o criador meditando sobre sua criação. Em 1889 recebeu o nome de O Pensador: " era a um só tempo um ser em um corpo torturado, quase um condenado, e um homem de espírito livre, decidido a transcender seu sofrimento através da poesia (Francis Blanchetiere, 2008).
" Quando um bom escultor modela um torso humano, não somente os músculos que ele representa é a vida que os anima...melhor que a vida... sua força que lhes dá forma e lhe comunica seja a graça, seja o charme, seja o fogo indomado" (Rodin, 1911).
" Esforcei-me por fazer sentir em cada intumescência do torso ou dos membros o afloramento de um músculo ou de um osso que se desenvolvia em profundidade sob a pele. E desta forma a verdade das minhas figuras, em vez de superficial, parecia desabrochar de dentro para fora como a própria vida..." (Auguste Rodin, em O Modelado, de Paul Gsell)

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

SALVADOR , ENTRE AMIGOS

A Fundação Pierre Verger, a PriceWaterhouseCoopers (PwC) e a Solisluna Design Editora lançaram ontem no Palacete das Artes, em Salvador , o segundo livro da trilogia Entre Amigos, Carybé, Verger & Caymmi – Mar da Bahia. O livro celebra a arte e, sobretudo, a grande amizade entre esses personagens e criadores do século XX que escolheram a Bahia e o jeito de viver de sua gente como motivo e cenário para suas obras.
O mar da Bahia foi o grande inspirador, quiçá uma fonte de encantamento determinante para as artes, odes de amor à terra e ao povo baiano dessas três personalidades de origens distintas, mas com olhares e percepções convergentes: o fotógrafo e pesquisador francês Pierre Verger; o argentino-baiano pintor de múltiplos fazeres Carybé e o músico baiano, também pintor nas horas vagas, Dorival Caymmi.
– É um orgulho e uma honra apresentar esse trabalho sobre os três baianos fundamentais que desenharam, fotografaram e cantaram a Bahia de uma forma indelével – afirma Gilberto Sá, presidente da Fundação Pierre Verger.
Em Carybé, Verger & Caymmi – Mar da Bahia, o leitor irá perceber o colorido das fotos em preto e branco da velha rolleiflex do gênio Verger, bem como toda a riqueza dos traços singulares de Carybé, prenhes de movimento e poesia que retratam o cotidiano da época em que as velas dos saveiros enfeitavam o azul das águas da Baía de Todos os Santos e ainda se presenciava a pesca do xaréu nas praias do litoral norte da histórica Salvador. Tudo isso embalado pelas magníficas canções praieiras de Caymmi, poesia pura na sua voz grave e num violão com sonoridade de ondas na praia.
– Não é um livro de arte, e sim da amizade entre três artistas – define bem o editor Enéas Guerra, idealizador da publicação da série Entre Amigos e responsável pela concepção, edição e design do livro.
Do ponto de vista editorial, o texto indica os caminhos que levarão o leitor ao encontro dos três personagens e suas criações em torno da magia do mar.
– A ideia do escrito é incitar o leitor a vivenciar como foi a intensa relação entre eles e relatar, de forma leve e bem humorada, os encontros, as curiosidades e os olhares convergentes destes símbolos da baianidade – conta o jornalista José de Jesus Barreto[*], autor do texto que é fundamentado em pesquisas do acervo da Fundação Pierre Verger, da família Carybé, entrevistas e depoimentos.

O diálogo das imagens captadas pela rolleiflex de Verger e pelos traços de Carybé, produzidos entre os anos 40 e 60 do século passado, está cerzido pelos poemas de Caymmi.
O pescador cantado por Caymmi é o mesmo fotografado por Verger, desenhado por Carybé. Os saveiros que chegam e saem do cais e rasgam as águas da baía, as festas para Iemanjá, o Bom Jesus dos Navegantes e Nossa Senhora da Conceição da Praia servem de inspiração para as canções-poemas, as pinturas e as fotos dos artistas – conteúdo desse trabalho.
O mar é o caminho, elo, destino e musa. O livro pretende ser uma celebração de amizade e da criação deles diante dos mistérios do reino de Iemanjá.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

As grandes cidades perderam a escala humana

Trechos da entrevista com o psicanalista Marcelo Veras à revista Muito, onde fala sobre as relações humanas e alerta para o fato de que estamos caminhando para a solidão.

O que Mudou nas relações entre as pessoas?
MV. As relações são mais rápidas e, forçosamente, mais efêmeras. A construção de uma relação requer um certo tempo, e o que vemos hoje são pessoas que não toleram a frustação do tempo longo, aquilo que a gente costuma chamar de fobia do tempo lento. Uma prova disso é que quando a internet começou a povoar a nossa vida, demorava um século para baixar uma página, hoje, o mínimo que o computador demore para responder já angustia a pessoa, a gente quer comprar um computador mais veloz, a gente não suporto mais esperar.
A internet tornou as relações entre as pessoas mais difíceis?
MV Isso pode tornar as relações mais difíceis. É claro que tem sempre quem diga que é facilitador, então não emito nenhum discurso de cunho moralizante, mas é difícil as pessoas se encontrarem hoje. As cidades tomaram uma dimensão tão gigante que é claro que nossos filhos precisam recorrer aos chats para se encontrar. As grandes cidades perderam a escala humana. Antes você andava na rua e enxergava a vizinha do segundo andar, hoje as proporções são muito altas e não se sabe o que se passa nestes prédios.
Por que as pessoas tem tanta dificuldade em se relacionar hoje?
MV Porque os novos ideais são eminentemente mais egoístas. Hoje temos uma sociedade onde o que vale é a imagem efêmera do sucesso. As pessoas buscam isso. Basta ver a proliferação de revistas onde só se mostram imagens. E essas imagens não traduzem as pessoas, não mostram o que são de verdade. Se você pega uma dessas revistas, percebe que 95% das imagens são de pessoas rindo. Elas não estão mais felizes. O que me preocupa é que vivemos num mundo onde há um imperativo da felicidade. A doutrina da felicidade ligada ao sucesso e à ideia de que alguém não seja feliz está errada.
Mas hoje as pessoas se acostumaram a confundir tristeza com depressão.
MV Pois é, mas a depressão é uma doença séria, que não pode ser banalizada, transformando todo mundo numa comunidade deprimida. Exatamente porque é muito séria. Não podemos nivelar por baixo ou, como já foi proposto certa feita, que determinados remédios fizessem parte da composição da água da cidade, como flúor, por exemplo.
O sexo sempre foi tabu para a maioria das pessoas. Ainda é?
MV No fundo, na aparente liberação sexual, você pode tudo. Você entra em pane de desejo. O desejo pede certo distanciamento porque exige manter aquilo que se deseja numa relação de satisfação. Aquele que só consegue se satisfazer através do objeto acaba se tornando um adicto. Ele confunde a satisfação do desejo, do postergar dessa satisfação, com o imperativo de satisfazer o desejo a qualquer preço.
Por que as pessoas se separam tanto e tão rápido nos dias de hoje?
MV As separações são comuns porque vivemos na cultura do descartável, do rápido. Tratamos a vida amorosa como manager, não tá bom, bota outro no lugar. O compromisso é muito mais com a rapidez, com a resolução das coisas, do que ter tempo necessário para o relacionamento.
Isso não vai nos levar à solidão?
MV Nós já estamos num mundo onde há muita solidão. E é um mundo em que a gente deve estar muito atento para ele, que é muito particular, porque é a solidão entre muitos. O que faz a verdadeira troca social é a possibilidade que temos de suportar o outro com as suas diferenças. Existe uma modalidade de solidão em grupo que tem uma certa tendência à segregação. É a "guetificação" dos meios, onde eu só consigo me sentir em grupo dentro da minha tribo.
Entrevistador: Ronaldo Jacobina
*Marcelo Veras é psicanalista. Graduou-se, em 1983, em Medicina pela Universidade Federal da Bahia. Após a faculdade, foi residente de psiquiatria do Hospital Universitário Professor Edgard Santos. Em seguida, tornou-se mestre em Psicanálise pela Université de Paris VIII e doutor em Psicologia pela UFRJ. Ocupou por sete anos a direção geral do Hospital Juliano Moreira, tendo sido presidente da comissão de Saúde Mental do Estado da Bahia. Após passar pela Direção Adjunta do Complexo Hospitalar Prof. Edgard Santos, Veras desempenhou o papel de Assessor do Reitor da UFBA para assuntos de saúde. Atualmente é o diretor executivo da Fapex- Fundação de Apoio à Pesquisa e a Extensão da Ufba.

Novos diretores da Fapex

O psiquiatra e psicanalista da UFBA, Marcelo Frederico Augusto dos Santos Veras, e a administradora Lilia Kátia Andrade Nunes(foto) compõem a nova diretoria da Fundação de Apoio à Pesquisa e à Extensão (FAPEX).
A nova diretoria pretende continuar fazendo da Fundação uma instituição fundamental na pesquisa científica da Bahia. Para o novo diretor, “A FAPEX é uma instituição que comemora seus 30 anos de apoio a UFBA e que, a partir deste ano, passa a apoiar igualmente a UFRB. Temos o objetivo de afirmar nossa capacidade gerencial, respondendo com celeridade e rigor jurídico às diversas demandas emanadas por nossos colaboradores, e que visam construir a ciência e os novos saberes deste início do século XXI”.