domingo, 30 de dezembro de 2012

Os anos JH


Osvaldo Campos Magalhães*
A avaliação dos oito anos do governo João Henrique, prova mais uma vez, na Bahia, que nem sempre uma brilhante carreira parlamentar é garantia para um bom desempenho no executivo.
Tendo iniciado sua carreira política em 1989, quando se elegeu vereador em Salvador, o filho do ex-governador João Durval Carneiro, logo se destacou na Câmara Municipal de Salvador, com uma atuação voltada principalmente para a defesa dos direitos dos contribuintes. Foi premiado como o “melhor vereador do ano” , em 1990, 1991, 1992, e 1993. Eleito deputado estadual em 1994, foi reeleito nos anos de 1998 e 2002, tendo sido agraciado pela imprensa especializada em 1998 como o “Destaque Parlamentar do Ano”.
Filiado ao PDT, partido fundado quando do retorno do exílio pelo carismático líder gaúcho Leonel Brizola, João Henrique, consegue se eleger em 2004, prefeito do município do Salvador.
Concorrendo no primeiro turno em aliança com o PSDB, João Henrique enfrentaria no segundo turno o candidato do PFL, Cezar Borges, ex-governador da Bahia, indicado candidato pelo Senador Antônio Carlos Magalhães. Apesar das excelentes avaliações populares dos seus mandatos, o então prefeito Antônio Imbassahy não havia preparado um sucessor dentro do seu partido.
Eleito para o cargo de Prefeito, JH, adotou o sugestivo slogan “Prefeitura de Participação Popular”, e, contemplou com secretarias e cargos, representantes de seu eclético arco de alianças formado no segundo turno, que incluía entre outros partidos o PDT, PSDB, PT, PSB, PTB, PV, PMDB, PSC etc.
Com a criação da Secretaria da Economia do Emprego e Renda, e da Secretaria das Relações Internacionais, JH dava clara indicação de sua estratégia de governo. Estruturar o município de Salvador para enfrentar sua principal deficiência, a baixa arrecadação fiscal e a incapacidade econômica de gerar empregos formais para sua população e, atrair investimentos internacionais para Salvador. A indicação do urbanista Itamar Batista para a Secretaria de Planejamento, também indicava seu desejo de retomar a questão do planejamento urbano, relegado a segundo plano em Salvador, desde a época do OCEPLAN, sob a liderança de Sérgio Gaudenzi,Auxiliadora Batista e Alberto Valença, ainda na década de 70.
Infelizmente, a realidade se mostrou cruel com o premiado parlamentar. Durante seus oito anos de governo, a secretaria de planejamento foi dirigida por seis diferentes secretários. O arco de aliança formado inicialmente, composto por partidos com linhas programáticas e ideológicas contrárias, acabou por comprometer a capacidade de gestão do jovem prefeito. Em busca de suporte financeiro para seu governo, JH, pragmaticamente, sai em busca de alianças mais robustas, inicialmente com o PMDB, então compondo o governo JW e Lula, e logo depois com o PP, que dirigia o forte Ministério das Cidades, já no governo Dilma.
Durante os anos JH, a economia da cidade cresceu, liderada pelo setor da construção civil e pela expansão da atividade comercial, com destaque para a construção de quatro grandes shoppings centers e inúmeros “bairros” verticais. Por outro lado, o planejamento estratégico foi esquecido e o capital imobiliário acabou conduzindo a cidade ao caos urbano e à imobilidade no setor de transportes, agravada com a subserviência aos interesses do SETPS e a desastrosa gestão das obras do metrô. A violência assumiu proporções inimagináveis, prejudicando uma das principais atividades econômicas de Salvador, o turismo.
Contudo, o pior legado dos anos JH talvez tenha sido no âmbito da Cultura. A cidade, outrora conhecida por sua vasta produção e diversidade cultural está hoje relegada a uma baixa produção artística e também dominada pelos fortes interesses econômicos. A Terra do Encanto e da Magia deu lugar a Terra do Axé Music e do carnaval elitizado.
Que o jovem prefeito eleito saiba identificar os erros e acertos de seu antecessor e reconduza Salvador a uma nova era, como fez nos anos 60, ACM.
Que Salvador volte a ser a Terra da Felicidade, da Magia e do Encanto, cantada e contada por Caymmi, Jorge, Ubaldo, Bethânia , Gal e muitos outros.
Que não mais prevaleça a Iniquidade.
*Engenheiro Civil e Mestre e Administração com foco em Tecnologia Competitividade e Estratégia - UFBA- Coordenou o PELTBAHIA e foi candidato a vereador em 2008 pelo PSB.


Um comentário:

  1. Este seu texto me lembra outro evento do período JH com relação a mobilidade urbana, que foi a criação das faixas exclusivas de ônibus no início de seu primeiro mandato. Uma medida importante e necessária, entretanto JH não teve pulso para manter. Meu medo é que isso esteja se repetindo com a proibição do estacionamento na orla da Barra. Ou o governo ACM Neto leva adiante com raça essa medida ou estaremos fadados ao fracasso de nossa política de mobilidade urbana municipal. Tenho muito receio pela forma como se iniciou o trabalho, espero que esteja enganado, pois realmente desejo o sucesso das medidas prometidas pelo novo secretário para melhoria da mobilidade em nosso município.

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