Não é somente uma questão estética, mas de agressão à
natureza e ao bom senso algumas obras públicas realizadas em nossa cidade. O
minimetrô perna de pau é talvez o exemplo mais ilustrativo.
Por que seu sobe e desce manco e aquela subestação elétrica
no canteiro central da avenida? Outro exemplo é a recém-inaugurada Via
Expressa, com cortes enormes e viadutos embaralhados de concreto e ferro, estes
aparentemente aproveitados de alguma ferrovia desativada. Obras inócuas, que
desfiguraram dois belos vales, piorando o tráfego no nível do solo e
dificultando a realização de um verdadeiro transporte de massa no futuro. Mas
vou me deter em uma obra ainda em andamento.
Placas de “Obras de macrodrenagem da Av. Vasco da Gama e Lucaia”
foram colocadas nas extremidades da antiga linha de bondes do Rio Vermelho de
baixo, que corria à margem do Dique do Tororó e se continuava por floresta em
galeria até desembocar no azul da Mariquita. Segundo a propaganda oficial, não
é só drenagem , mas “requalificação” da avenida como preparativo para a Copa de
2014. Trata-se portanto, de obras do governos federal e municipal. Com tão alto
patrocínio, imaginava que fosse feita a coisa certa: o Lucaia saneado com calha
escalonada para absorver as cheias, um VLT sobre uma de suas margens gramadas,
pistas exclusivas de ônibus e bicicletas, passeios largos, redes subterrâneas
de água, eletricidade, telefone e gás em uma galeria de revestimento
florístico, como fazia Guillard Muniz, há 50 anos.
Infelizmente nada disso aconteceu, senão um reles enterro do
Lucaia co colocação de um carpete impermeabilizante de asfalto no fundo do vale
para os “coletivos” do Setps. O que se está fazendo ali é discretamente jogar o
lixo para debaixo do tapete.
Há um mês a Federação das Indústrias do Estado da Bahia
realizou um seminário sobre mobilidade em Salvador convidando urbanistas como o
catalão Manuel Herce e o presidente do IAB-Brasil, Sérgio Magalhães. Ambos
insistiram que obras para carros é dinheiro jogado fora e só servem para
complicar o tráfego.
Os conferencistas confidenciaram a colegas baianos que ficaram pasmos com os projetos rodoviários dos anos 60 que se está fazendo em Salvador, sem nenhum planejamento, quando em todo mundo se está tirando viadutos e reabrindo rios. Não sei se algum deles passou pela Av. Vasco da Gama, mas ficaria chocado com a barbárie que fizeram com suas árvores centenárias.
Comparem-se estas obras grosseiras com as que se fizeram em Salvador na primeira metade do século passado, como o quebra-mar de cantaria que abraça o forte marinho, o Elevador Lacerda e as avenidas Oceânica e Centenário; e no Rio de Janeiro, o Parque do Flamengo, o alargamento de Copacabana e a Cidade Nova, projetadas pelos melhores engenheiros, arquitetos e paisagistas brasileiros. Planejar é um ato político e não pode ser delegado ou apropriado por privados.
*Arquiteto, é Profesor Titular da UFBa. Disponível para os assinantes de A Tarde -http://www.atarde.com.br
Explico: como não existem redes coletoras nas vertentes do
vale, os esgotos de suas casas são lançados in natura ou entroncados nas redes
de águas pluviais que serão ligados à nova cloaca que substituiu o rio, que
passa a ser morto. O sobrou do Lucaia conduzirá o precioso líquido para a
Mariquita, onde se encontraram uma colônia de pescadores, um mercado de peixes
e da boemia e ali perto os melhores hotéis da urbe.
Como o recolhimento de lixo é precário, muitos dejetos
sólidos e pastosos irão para a cloaca de fundo chato, o mais inadequado para
uma galeria desse tipo, e se depositarão em seu leito de difícil, senão
impossível limpeza. A maioria dos
leitores não vê o que corre no subsolo, mas sentirá seu efeito em nossas
praias. Mas outros efeitos são visíveis. Dezenas de árvores foram sacrificadas
e outras tantas, as mais frondosas e antigas, mutiladas bárbara e inutilmente.
Pergunta-se, quem elaborou tal projeto, licenciou e fiscaliza sua execução? As
obras da Vasco da Gama, como as demais citadas, espelham o desmonte dos órgãos
técnicos, o desastroso aparelhamento partidário e adoção de projetos elaborados
por empreiteiras interessadas.
Os conferencistas confidenciaram a colegas baianos que ficaram pasmos com os projetos rodoviários dos anos 60 que se está fazendo em Salvador, sem nenhum planejamento, quando em todo mundo se está tirando viadutos e reabrindo rios. Não sei se algum deles passou pela Av. Vasco da Gama, mas ficaria chocado com a barbárie que fizeram com suas árvores centenárias.
Comparem-se estas obras grosseiras com as que se fizeram em Salvador na primeira metade do século passado, como o quebra-mar de cantaria que abraça o forte marinho, o Elevador Lacerda e as avenidas Oceânica e Centenário; e no Rio de Janeiro, o Parque do Flamengo, o alargamento de Copacabana e a Cidade Nova, projetadas pelos melhores engenheiros, arquitetos e paisagistas brasileiros. Planejar é um ato político e não pode ser delegado ou apropriado por privados.
*Arquiteto, é Profesor Titular da UFBa. Disponível para os assinantes de A Tarde -http://www.atarde.com.br
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