O
fenômeno das mudanças climáticas, que tem entre suas causas o aumento das
emissões e da concentração de gases de efeito estufa na atmosfera, impõe um
enorme desafio a toda sociedade nesta década.
A
viabilização em Cancun, México, durante a 16ª Conferência das Nações Unidas
sobre Mudanças Climáticas, a COP-16, de um Fundo para apoiar as atividades de
mitigação e adaptação climática nos países em desenvolvimento, abre uma
excelente oportunidade para a discussão e priorização de ações voltadas para a
proteção ao meio ambiente e mudanças de paradigmas.
Conforme
dados divulgados durante a COP 16 em Cancun, a maior participação nas emissões
de CO² no mundo está relacionada aos setores de geração de energia e
transportes, sendo que o maior crescimento ocorre no setor de transportes, que
já responde por 23% das emissões no planeta.
No
Brasil uma das principais fontes de emissão de gases de efeito estufa está
relacionada à energia fóssil, consumida no transporte de carga e no transporte
urbano.
Infelizmente,
o Brasil continua, neste novo
milênio, preso ao passado, sem um real projeto de desenvolvimento nacional, e
ainda extremamente dependente dos investimentos no parque industrial
automobilístico e na exploração e industrialização do petróleo.
No momento em que a “mobilidade urbana” e a
questão ambiental passam a integrar, ao lado da segurança pública, da saúde e
da educação, questões estratégicas dos debates políticos nas grandes cidades
brasileiras, é no mínimo estranha a decisão do governo federal em prorrogar a
redução no Imposto sobre Produtos Industrializados, referente à venda de
automóveis.
A perplexidade em relação ao fato provocou
reações contrárias até mesmo de lideranças governistas no Congresso Nacional: “Ao invés de investir em uma política de
inovação tecnológica e em atividades de baixo carbono, o governo estimula o
consumo de automóveis, o que torna nossas cidades menos sustentáveis, agravando
ainda mais os problemas do trânsito e da mobilidade urbana.” Estas palavras
foram proferidas em plenário pelo senador Rodrigo Rollemberg do Partido
Socialista Brasileiro.
Talvez o fato do Partido dos Trabalhadores ter
suas origens no ABC paulista, berço da indústria automobilística nacional,
explique a questão. Ou quem sabe, a necessidade de adoção de medidas que
estimulem o crescimento econômico, num momento em que os reflexos da grave
crise econômica dos países centrais vêm ameaçando as promessas presidenciais de
crescimento econômico em índices próximos aos dos demais países do BRICS.
Os incentivos à indústria automobilística e os
subsídios ao preço dos combustíveis, beneficiam o transporte individual, em
automóveis, que provocam imensos congestionamentos, poluem nossas grandes
cidades e provocam imensos prejuízos econômicos. Somente na cidade de São Paulo, os prejuízos
provocados pelos gigantescos engarrafamentos foram estimados em R$ 36 bilhões
ao ano. No Rio de Janeiro, cerca de R$ 12 bilhões (fonte: Isto É Dinheiro,
abril/2011).
Com a melhor distribuição da renda ocorrida nos
últimos 10 anos e a utilização do controle dos preços dos combustíveis como
estratégia de redução dos índices inflacionários, o Brasil, que no passado era
exemplo mundial em energia sustentável vem apresentando declínio na produção de
Etanol, crescimento nas importações de gasolina e aumento considerável do
consumo de combustíveis fósseis.
Com isto, a qualidade de vida nas grandes
cidades tem se deteriorado imensamente. Os congestionamentos e a poluição,
provocados pelos automóveis, aumentam a sensação de desconforto da população e
causam prejuízos aos setores produtivos, como a indústria, o comércio e o
turismo. Estes são alguns dos
principais reflexos desta política equivocada de incentivo aos automóveis.
Enquanto as modernas cidades do mundo promovem
a derrubada de viadutos, o retorno dos bondes e a revitalização do meio
ambiente na área urbana, Salvador continua construindo viadutos e aterrando
seus rios. Neste novo milênio, a palavra de ordem deveria ser “Cidades para as
pessoas, não para os automóveis.”
Afinal, qual a cidade que queremos deixar para
filhos e netos? Uma cidade com praças e jardins ou uma cidade com viadutos e
rios aterrados?
O exemplo recente da construção do corredor de ônibus na avenida Vasco da Gama é eloquente. Ao invés de reproduzir o modelo da avenida Centenário (foto), que privilegiou a construção de uma grande área de convívio humano e lazer optou-se pela completa desfiguração do belo vale, o aterro do seu rio e o corte de suas árvores centenárias.
O exemplo recente da construção do corredor de ônibus na avenida Vasco da Gama é eloquente. Ao invés de reproduzir o modelo da avenida Centenário (foto), que privilegiou a construção de uma grande área de convívio humano e lazer optou-se pela completa desfiguração do belo vale, o aterro do seu rio e o corte de suas árvores centenárias.
Ao invés de copiar este anacrônico modelo norte
americano de incentivo ao transporte relacionado à energia fóssil, da construção de viadutos, que promove esta
invasão no trânsito de automóveis e ciclomotores, deveria o Brasil e suas
grandes cidades criarem ou adaptarem soluções inteligentes e criativas como as
implementadas em Berlin, Copenhague, Seoul e até mesmo Portland, nos Estados
Unidos, que resgataram o transporte público sobre trilhos em bondes modernos,
na expansão de um eficiente sistema de metrô e trens urbanos e na implantação
de infraestrutura e no incentivo à utilização de bicicletas.
*Osvaldo Campos Magalhães é membro do Conselho de Infraestrura da FIEB e do Movimento Nossa Salvador. Coordenou o PELTBAHIA - Programa Estadual de Logística de Transportes.
É Engenheiro
Civil formado pela Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia, especialista em Portos , Mobilidade e Logística de Transportes. Mestre em Administração, Escola de Administração da UFBa, com foco em
Tecnologia, Competitividade e Estratégia.
Por que o carro no Brasil, mesmo com a redução do IPI ainda é um dos mais caros do mundo? Eu não sou contra o automóvel individual, tenho o meu e não sei quando poderei abrir mão dele. Além disso, existe um sonho de toda a população, principalmente das classes menos abastardas, pelo veículo individual. Não posso condená-los no seu desejo legítimo de ter seu primeiro automóvel. Concordo entretanto, e nisso enfaticamente, que precisamos de uma intervenção urgente em nossas cidades dando alternativas a população de um transporte público, ecológico e eficiente. Concordo com as medidas de restrição, ou inibição do uso do carro em certos lugares, mas isso deve vir com uma oferta de alternativa de transporte público de qualidade. Ou seja, primeiro o governo deve oferecer alternativa para se criar a cultura de outros meios de transporte, depois naturalmente as pessoas diminuirão o uso do transporte individual.
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