quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Baía de Todos os Santos - de 1501 a 2030


Eduardo Athayde*
Movida a energia eólica, única disponível na época para impulsionar caravelas além mar, a expedição portuguesa comandada por Gaspar de Lemos foi enviada para mapear as novas terras. Acompanhada por Américo Vespúcio, cartógrafo florentino, cruzou o Atlântico e aportou do outro lado do mundo em águas calmas, protegidas e desconhecidas, no dia 01 de novembro de 1501. Seguindo a tradição, a baía descoberta foi consagrada aos santos do dia. Batizada, a Baía de Todos os Santos – BTS, Bahya na grafia antiga, deu nome ao Estado e conferiu identidade aos seus habitantes - baianos.
Cinco séculos depois a BTS assume novo status. Como uma das maiores baías da Terra, banha, abriga e impulsiona o berço da civilização de
uma nova potência global. Segundo o FMI o Brasil subirá da posição de sétima economia do mundo, onde está, para quinta, em 2014, ano em que
a mídia da Copa trará para o país - e para Salvador - as grandes redes internacionais de comunicação, revelando a exuberante baía tropical para a comunidade internacional e seus investidores.
Diante das crescentes pressões do desenvolvimento, a área de influência econômica da BTS, onde 70% do PIB do estado é gerado, precisa de um novo sistema de governança. Hoje, além das competências administrativas constitucionais dos 14 municípios que a bordejam, liderados por Salvador, múltiplas instituições a nível federal, estadual e municipal têm competências legais estabelecidas sobre a área, criando um emaranhado de normas e burocracias individuais que, sobrepostas, emperram a gestão e os investimentos.
Presidente de uma das maiores transnacionais brasileiras, Marcelo Odebrecht, expressou em recente palestra na Associação Comercial da Bahia - ACB, o sentimento pelo descaso e o esquecimento da BTS, ressaltando sua esperança para que esta tendência seja revertida. Carente de monitoramento, infraestrutura e soluções objetivas para resolver problemas que se acumulam, o desenvolvimento sustentável da BTS é prejudicado pelo labirinto burocrático dos processos, gerando instabilidade jurídica e insustentabilidade, inclusive para o que precisa ser culturalmente e ambientalmente preservado. O pensamento de Odebrecht está alinhado com instituições que focam numa agenda positiva e montam uma rede de ações para a baía.
Buscando modelo de gestão experimentado em varias baías do mundo, a ACB e o Rotary BTS articulam a criação da Agencia de Gestão da BTS, onde as instituições com mandatos sobre a área, iniciativa privada e o Ministério Público, comporiam o conselho, definindo plano diretor e gestão executiva, como já acontece em várias baías do mundo. Convidados, dirigentes da Agencia de Gestão da Baia de São Francisco, estiveram em Salvador para assinatura do Protocolo de Cooperação com a ACB. No mesmo evento, a candidatura da BTS foi apresentada para membro do influente clube “Le Plus Belles Baies du Monde” (As Mais Belas Baías do Mundo), instituição sediada em Paris que reúne baias dos quatro continentes.
Enquanto o Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur) financiado pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pilotado pela Secretaria de Turismo da Bahia, propõe transformar a BTS na principal zona turística do estado, com investimentos de 83 milhões de dólares; o Instituto Kirimurê, da Ufba, estuda a BTS visando a formação de base de dados e de profissionais capacitados para a sua gestão, e o Gabinete Português de Leitura, por sua vez, promove a III Semana da BTS, abordando a historia, a cultura e os potenciais da baía.
Alinhada com a Confederação Nacional da Indústria – CNI que publicou o estudo “Cidades: Mobilidade, Habitação e Escala – Um Chamado à Ação” para subsidiar debates e soluções, a Federação das Indústrias da Bahia - FIEB criou o Instituto Movimenta Salvador, focado na mobilidade, na infraestrutura e no desenvolvimento da região metropolitana.
Buscando conexões internacionais o Rotary BTS e o Rotary San Francisco, na Califórnia, articulam encontros entre o prefeito eleito de Salvador, ACM Neto, e o prefeito de São Francisco, Edwin Lee, convidado especial para o carnaval, visando estreitamento de laços e cooperação entre as carismáticas cidades e baías dessas potências globais. Levantamentos e mapeamentos feitos, a agenda positiva foca em soluções. Atuantes em diferentes frentes e alinhadas nos propósitos, essas instituições formam uma poderosa rede de ações silenciosas, construindo caminhos para o projeto “BTS 2030", com plano diretor iniciado pela geração presente, sintonizado com os desejos e os direitos das gerações futuras.
* Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil

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