Despachei
e-mail para meu querido amigo Caetano Veloso: pela primeira vez , depois de
anos, fechamos numa eleição com os mesmos candidatos: Marcelo Freixo no Rio de
Janeiro, Fernando Haddad em São Paulo, Neto em Salvador. Afora isso, vibrei com
a virada de Fruet em Curitiba (tinha inclusive feito uns trabalhos de
pré-campanha para ele, com Giovanni Soares, no ano passado).
Na verdade,
torci total pela vitória de Freixo, chama inovadora na velha paisagem
político-eleitoral do Rio. Fui para São Paulo mergulhar de corpo e alma na
campanha de Haddad, figura que, como a nossa hoje presidente Dilma, conheci em
2006 na campanha da reeleição de Lula. E defendi a que a vitória de Neto seria
melhor para a nossa cidade do que a de Pelegrino, sujeito mentalmente limitado,
incapaz até de voos rasteiros. Há tempos não concordávamos assim. Eleitoralmente,
eu e o poeta-pensador. Conversávamos sobre eleições, mas geralmente em posições
diversas.
Mas não
quero fazer análises, me concentrar em papos enviesados (depois do resultado
das urnas, é fácil fazer interpretações, mas deixo isso para jornalistas e
professores universitários), nem nadar em ressacas eleitoras. Mas algumas
coisas merecem ressalte. Por exemplo: em São Paulo, apresentamos e defendemos
abertamente um candidato. Mostramos seus feitos, suas virtudes, suas propostas
– contra um José Serra em avançado estágio de autodeterioração política e
ideológica, usando sucessivas máscaras reacionárias, mentindo para si e para
toda a população. Em suma: ostentamos Haddad, vistosamente.
Na Bahia, ao
contrário, até tentavam me esconder Pelegrino. Com o seguinte papo o voto não é
no candidato – é no “projeto”. Em que projeto, pelo amor de Deus? Até o projeto
nacional de Lula foi construído, em grande medida, contra a falta de senso, de
realidade, contra a falta de projeto do próprio PT. E o PT precisa aprender
isso. Não pode falar de “projeto” porque não o tem,globalmente, como partido.
Haddad vai governar, inclusive, contra a intolerância e o sectarismo petistas,
tendo de enfrentar a “nefasta” tradição do corporativismo, em áreas
fundamentais como as da educação e da saúde pública. Ou seja: em vez de
esconder o candidato atrás de um “projeto” trata-se , na verdade, de exibir o
candidato para ocultar as graves e grandes deficiências do “projeto”, ok?
Outra coisa:
não me venham com a conversa fiada de retorno do carlismo. Não existe carlismo
sem Antonio Carlos (carlismo só existe na fantasia de das viúvas políticas de
ACM, sejam elas de direita ou de esquerda, ambas ressentidas e revanchistas,
sem saber pensar se lhes tirarem o velho do caminho e da cabeça). E, se
existisse sem Antonio Carlos, o carlismo já teria voltado há tempos. Graças ao
PT local, claro. Com Otto Alencar no papel de guru e vice-governador, com Cézar
Borges na função de aliado preferencial, com carlistas ocupando cargos de
comando no governo estadual, com Sérgio Carneiro (sim: carlista desde
criancinha – e acusado de coisas corruptas no governo do pai João Durval) se
destacando entre os quadros petistas.
Mais, como bem viu Paulo Fábio: com Wagner aplicando a “gramática do carlismo” para assegurar sua hegemonia baiana. E não existe carlismo, ainda, porque –como bem sabem antropólogos, travestis, internautas e vendedores de cafezinho – neto não é avô.
Mais, como bem viu Paulo Fábio: com Wagner aplicando a “gramática do carlismo” para assegurar sua hegemonia baiana. E não existe carlismo, ainda, porque –como bem sabem antropólogos, travestis, internautas e vendedores de cafezinho – neto não é avô.
Bem. O que
espero de Neto é que ele não olhe menos em Luiz Eduardo (homo politicus) do que
em Antonio Carlos , que pare de posar de “protagonista da CPI do mensalão”, não
pise na bola das trocas de favores e se abra de fato para o diálogo crítico
sobre a cidade. Espero, principalmente, que ele cumpra o que está prometendo a
si mesmo, como já disse em entrevistas: pensar o futuro da cidade de forma
plural, sem boçalidade, numa conversa séria. E é o seguinte. Salvador está
caindo aos pedaços. Tem de reconfigurar a sua expansão urbana, reativar a sua
memória, diminuir distâncias sociais, recuperar a sua criatividade e
reconquistar o seu lugar na vida brasileira. Quem não vir isso, não será
prefeito.
*Antropólogo e escritor
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