Ana Célia Silva*
As comemorações de amanhã, dia em que se comemora a imortalidade de Zumbi dos Palmares, último líder de um quilombo que durou 100 anos, segundo a memória coletiva do povo negro dos tempos de outrora e de muitos historiadores comprometidos com a história de um povo construtor e mantenedor, em grande parte, do Estado brasileiro, evoca uma série de ações que transformaram a vida de muitos negros e negras no Brasil, a partir da memorável Marcha Zumbi dos Palmares em Brasília no ano de 1985 e as ações do movimento negro junto ao governo federal, apresentando propostas a nível econômico, jurídico, educacional, de gênero, e de raça e exigências coletivas para seus cumprimentos.
Na área da educação professores, professoras, pesquisadores e pesquisadoras, desmascararam a educação universalista e eurocêntrica veiculada pelos currículos de ensino e apresentaram experiências e ações sólidas desenvolvidas nos últimos anos pelas entidades negras, onde as vivências, os cotidianos, as culturas e as histórias de todos os grupos constituintes da sociedade brasileira pudessem ser contadas.
Resultantes dessa ação estão presentes uma solida literatura construída por pesquisadores/as, poetas, contistas, teatrólogos/as, entre outros/as, desconstruindo e reconstruindo a representação do povo negro nos materiais didáticos, contando em poemas e contos o cotidiano da população negra, encenando as alegrias, certezas, vitórias e lutas em peças teatrais memoráveis, dirigindo e protagonizando papéis em filmes que marcaram uma outra visão da nossa participação na construção e manutenção da vida no país.
Na atualidade, a luta pela igualdade de direitos na educação, no trabalho, na saúde, na justiça, vem em um processo onde muitas vitórias já podem ser contadas. A adoção de políticas de ação afirmativas no âmbito da educação, entre elas a política afirmativa de cotas, que estabelece a concorrência para o acesso à universidade entre os iguais sociais, raciais e educacionais, nos faz vislumbrar senão a quebra, mas uma fragmentação cromática na participação nos cargos de prestígio e de poder decisório em futuro próximo, se consolidadas as políticas de permanência dos estudantes ingressos pelas cotas nas universidades.
Para não dizer que não falei de dança, música e carnaval, que constituem a alma da gente negra, parafraseando Bois, devo dizer que se não fosse o Ilê Aiyê e os demais blocos afros e afoxés, que seguiram sua trilha de incentivo à autoestima e redescobrimento do orgulho de ser negro, cantando a nossa história e cultura, a nossa beleza negada, visibilizando uma população invisibilizada pelas mídias, seria muito mais difícil as vitórias conseguidas, com muito esforço, admitamos.
Atualmente estamos envidando esforços para que a nossa luta por respeito e direitos iguais, seja uma luta de todos e de todas, porque precisamos estar conscientes de que nenhum país será livre e desenvolvido enquanto a maioria do seu povo viver em condições de subalternidade e que as diferenças não se traduzem em desigualdades, mas em enriquecimento.
E como dizia o saudoso poeta baiano Jônatas Conceição, Zumbi é o Senhor dos Caminhos. E eu digo, salve Zumbi rei, que reina e reinará sempre no coração de todos nós.
Ana Celia da Silva -Professora titular da Ufba
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