Osvaldo Campos Magalhães*
Com a vitória do candidato dos Democratas na eleição de domingo,
Salvador e a Bahia voltam a experimentar a salutar alternância dos partidos no
poder.
Enfrentando uma gigantesca oposição, formada por 18 partidos
políticos, centenas de candidatos a vereador, além da presidenta da república e
o governador da Bahia, o jovem prefeito eleito demonstrou uma rara qualidade
nos políticos da atualidade. Coragem.
Os desafios serão inúmeros e me apegarei ao maior deles na
atualidade. Mobilidade Urbana. Os milhões de trabalhadores soteropolitanos
sofrem diariamente, em ônibus e trens superlotados, por quase 3 horas, para se
deslocarem da casa para o trabalho e vice- versa.
Salvador nunca realizou uma concorrência pública para concessionar seu
transporte público de passageiros e sofre nas mãos de um cartel articulado e “bem”
representado na Câmara de Vereadores.
Seu Metrô, após 12 anos de obras e quase um bilhão de Reais
consumidos, encontra-se parado, à espera que o Governo Federal subsidie sua
operação. As obras da linha 2 estão
atrasadas e dificilmente ficarão prontas para a Copa 2014.
Para equacionar a questão da Mobilidade Urbana de Salvador, ACM Neto
precisará de muita coragem e determinação, qualidades que já demonstrou
possuir.
Coragem para contrariar seus eleitores, a maioria residindo nos
bairros nobres da cidade, e que raramente utilizam o transporte público nos
seus deslocamentos diários.
É inadmissível, que em pleno século XXI, uma minoria de 20% da
população, com seus caros veículos de uso quase individual, ocupem mais de 80%
das vias públicas.
Restringir a utilização de automóveis em determinadas áreas das
cidades já vem sendo utilizado com sucesso em diversas cidades do mundo.
Londres criou com sucesso o “CongestionCharge”, pedágio urbano da região central da cidade. Nada de postos de
pedágio. Fiscalização do pagamento através de câmeras de monitoramento, que
ajudam também na preservação da segurança pública. Assim faz também a exemplar
cidade de Cingapura, pioneira no pedágio urbano. O Rio de Janeiro, na gestão de Cezar Maia, do
mesmo partido de ACM Neto, implantou uma via urbana pedagiada, a Linha Amarela.
Salvador já discute em audiências públicas o pedagiamento da Linha Viva, que será
opção aos deslocamentos para o aeroporto e litoral Norte.
Cidades como São Paulo, optaram, sem muito sucesso, pelo rodízio de
veículos por final de placa. Na Holanda, os veículos são rastreados por
satélite e pagam por extensão de deslocamento realizado.
Certamente a reação da classe média será muito forte. Além de se
sentirem traídos pelo candidato, vão alegar que já pagam IPVA, IPI e ICMS.
Contudo, o prefeito deve adotar medidas que beneficiem a maioria da população e
não uma elite privilegiada. Lembremos que a proposta do candidato derrotado era
a de construir 12 viadutos. Sabemos no estudo da engenharia de trânsito, que viadutos
muitas vezes não resolvem problemas, transferem para outro lugar. Podemos
constatar este fato aqui mesmo em Salvador, nos elevados construídos pelo atual
prefeito na região do Iguatemi e Tancredo Neves. As empreiteiras agradecem e
querem mais viadutos. E a população? Quer transporte digno e eficiente.
Restringir a utilização dos automóveis nas regiões mais movimentadas
da cidade e concomitantemente aumentar a oferta de um eficiente sistema público
de transportes exigirá uma atitude de extrema coragem e habilidade política do
nosso prefeito. A utilização de micro-ônibus climatizados pode ser uma primeira
medida paliativa. A implantação de modernos street
cars, como faz a maiorias das cidades europeias e Portland nos Estados
Unidos, uma solução atraente, sofisticada e definitiva.
Seguindo a lógica de Maquiavel, devemos adotar as medidas duras de
forma rápida, enquanto ainda dispomos de cacife para tal.
A maioria da população ficará grata ao prefeito pela coragem de
enfrentar os supostos direitos adquiridos de uma elite. A gritaria vai ser forte. A oposição, suposta
representante dos moradores pobres da periferia vai apoiar a ideia? É ver para
crer.
Governar exige coragem. Não é tarefa para fracos.
*Engenheiro Civil, especialista
em Transportes e Mestre em Administração com foco em Tecnologia e
Competitividade (UFBA). Coordenou o PELTBAHIA. Programa Estadual de Logística de Transportes.
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