Paulo Ormindo
A realização da Copa poderá ser uma oportunidade para deflagrar algumas melhorias urbanas em Salvador, como conseguiram outras cidades-sedes de copas. O governo do Estado anunciou três grandes obras. A construção de uma arena, uma ponte para Itaparica, que nada tem a ver com a Copa, e a ampliação do Aeroporto num total de R$ 3 bilhões. Tudo realizado em parcerias público privada com contrapartida do PAC-Copa pedido a Dilma.
A imagem que se tenta vender é a de Barcelona, transformada com as Olimpíadas de 92.
Mas é preciso dizer que o sucesso de Barcelona se deve mais a um plano estratégico urbano referencial, que captou enormes investimentos da União Europeia, do que às Olimpíadas, que apenas aumentou sua visibilidade. Muitas outras cidades que sediaram copas, como México (86), Roma (90) e Los Angeles (94), sem um projeto urbano, não ganharam nada.A realização da Copa poderá ser uma oportunidade para deflagrar algumas melhorias urbanas em Salvador, como conseguiram outras cidades-sedes de copas. O governo do Estado anunciou três grandes obras. A construção de uma arena, uma ponte para Itaparica, que nada tem a ver com a Copa, e a ampliação do Aeroporto num total de R$ 3 bilhões. Tudo realizado em parcerias público privada com contrapartida do PAC-Copa pedido a Dilma.
A imagem que se tenta vender é a de Barcelona, transformada com as Olimpíadas de 92.
Não se pode comparar Salvador com Barcelona. (foto montagem Barcelona - Torre Agbar e Cat. "Sagrada Família")
Há 30 anos o Estado vive à deriva. As últimas iniciativas de planejamento se devem a Rômulo Almeida, com os projetos do CIA (66) e o Copec (78). No vazio do Estado, as construtoras oferecem projetos carimbados, no velho esquema da Gautama, que não levam a nada.
Quem são os técnicos que planejaram essas obras e que conselho da cidade as aprovou? A ampliação do Aeroporto já teria sido descartada, pois a Infraero considera a obra desnecessária.
A nova arena de R$ 600 milhões corre grande risco de não encontrar parceiro privado, pois a Fifa afirma que são necessários quatro grandes times para dar sustentação a uma arena. A Bahia tem dois e três estádios.
Mesmo interditando o Barradão e o Pituaçu não dá. Resta a ponte, que envolve enormes interesses corporativos e imobiliários. Só não se sabe se ficará pronta a tempo, a julgar pelo metrô, mas o governo não desiste.
Que benefícios trará tal ponte? (foto: ponte em construção na China)
Para os governantes e empresas imobiliárias, ampliar o mercado hoteleiro e habitacional de classes alta e média. Mas inevitavelmente surgirão alagados e favelas. Ora, o Estado, que não foi capaz de desenvolver um plano para a Região Metropolitana de Salvador (RMS) compreendendo, entre outros projetos, o metrô e a hidrovia, quer agora criar uma ponte para ocupar as ilhas. Cerca de 70% da atividade produtiva do Estado se concentra nas terras firmes da RMS, onde abundam milhões de km² de terrenos planospróprios paraa habitaçãoe belas praias subutilizadas. A ponte de Itaparica já nasce caduca,como a política automobilística dos anos 70. O descongestionamento da cidade é outro sofisma, a via que leva é a mesma que traz.
Que impactos negativos provocarão a ponte na cidade? Imaginem as carretas e ônibus da BR-101 e os carros da região de Santo Antônio de Jesus e Jequié atravessando Salvador com destino ao Polo Petroquímico e às praias do litoral norte. Pensem estes veículos entrando por elevados e trevos na pitoresca Monte Serrat, entupindo o Américo Simas, a Montanha, a Contorno e a San Martin para chegar ao Iguatemi.
Para ali convergirá o tráfego de três rodovias: BR-324, BR-101 e Estrada do Coco atando um nó-cego. Imaginem, por fim, uma das mais belas baías do mundo cortada por um monstrengo como o nosso metrô, atrapalhando a paisagem, a navegação e o turismo.
Nossos empresários ainda não perceberam que tal esquema está esgotado e que políticos não se sustentam com projetos de efeito, senão com planejamento e políticas sérias de médio e longo prazos. Essa convergência de interesses resultou em fracassos monumentais em Salvador, como o Aeroclube, o metrô, as barracas de praia, o PDDU e o tamponamento dos rios urbanos. O País mudou, hoje temos uma sociedade civil aguerrida, ministérios públicos atuantes e a internet.
Comos R$ 1,5 bilhão da ponte se criaria um arco rodoviário euma rededemetrô desuperfície para integrar a RMS e livrar Salvador, de uma vez, da sina de dormitório metropolitano.
Veneza tem uma baía bem menor que a nossa e centenas de pontes, mas nenhuma tão tristemente famosa como a dos Suspiros, que liga o Palácio dos Doges à prisão. A ponte de Itaparica poderá ser a nossa Ponte dos Suspiros, uma travessia sem volta.
Paulo Ormindo Azevedo - Arquiteto e presidente do IAB Bahia
"Pensem estes veículos entrando por elevados e trevos na pitoresca Monte Serrat, entupindo o Américo Simas, a Montanha, a Contorno e a San Martin para chegar ao Iguatemi."
ResponderExcluirCaro Oswaldo, penso que este transtorno possa ser resolvido através da via expressa Baía de Todos os Santos, que ligará o Porto de Salvador a BR-324, que por sua vez será modernizada através de uma PPP. Sobre o ponto de vista estético, não creio que essa ponte deva ser encarada como um monstrengo (sic), outras cidades do mundo também possuem paisagens belíssimas e pontes desse porte, a exemplo de Lisboa (Portugal), San Francisco (EUA), Rio de Janeiro (BRA), Tóquio (JAP), etc.
Outro ponto que tem que se levar em consideração é o econômico, a ponte não tem o objetivo único e exclusivo de servir como um fator de expansão imobiliária para a Ilha de Itaparica. Ela servirá para diminuir a distância entre a capital e a BR-101, que além de ser a principal rodovia de ligação com o sul da Bahia, é uma importante via de transporte de cargas e consequentemente ajuda a expandir a economia baiana nesta região.