domingo, 19 de julho de 2015

Centro Histórico: A gota d'agua

Paulo Ormindo de Azevedo*
Uma morte, a demolição de 31 ruinas e a desocupação de muitos imóveis no Centro Histórico (C.H.) foi a gota d’água para a denúncia de seu abandono à Unesco por arquitetos e urbanista através do CAU/BA, IAB-BA e SINARQ-BA. A Faculdade de Arquitetura da UFBA convocou o Seminário C.H. de Salvador em Debate (8/7/15). Acudiram imediatamente a presidente e o superintendente do IPHAN, o Diretor do IPAC, a diretora do Escritório do Centro Antigo, o Secretário Municipal de Urbanismo e a diretora da F. Mario Leal Ferreira para justificar o que fizeram naquela área desde o seu tombamento, mas não prometeram nada.
Não se pode negar que foram feitos muitos investimentos públicos na área. O fato é que estas ações não conseguiram deter o processo de deterioração daquela área, especialmente no Pilar, Taboão, Montanha, Conceição, Preguiça e Rua do Tijolo. São cerca 1500 imóveis arruinados e 150 cobertos de vegetação e com escoras metálicas já podres ameaçando caírem. O que as autoridades pretendem fazer com essas ruinas que aumenta a cada dia? A presidente do IPHAN confessa que não ter dinheiro para sua recuperação, que custaria R$1,5 bilhões, orçamento maior que do Ministério da Cultura. É evidente que o modelo de intervenção está falido.
A razão deste insucesso é não compreender que a questão do C.H não é edilícia senão urbanística e social. O Comercio e Centro Antigo estão em depressão há 40 anos com a retirada de sua função central na década de 1970 e habitacional na de 1990 para transformá-los num enclave turístico. Donos de salas no Comercio estão entregando seus imóveis para quem queira pagar o IPTU e o condomínio. Dizer que o C.H. está conservado porque seu cartão postal, o Pelourinho, não tem ruinas é querer tapar o sol com peneira. A área não tem transporte, estacionamento nem vida social e cultural. Em uma palavra, política de preservação, apenas restaurações isoladas, que aliviam a culpa, mas não mudam a situação. A
Prefeitura nunca se interessou pela área, com exceção da administração Mario Kertesz, e sem ela não pode haver recuperação.
Mas a área tem grande potencial econômico. Grupos privados estão comprando centenas de imóveis na Ladeira do Mauá, Largo 2 de Julho, Areal, S. Antonio Além do Carmo e Rua Chile e expulsando seus moradores. Seu interesse não é o patrimônio, senão a vista para a baia, como ocorreu no corredor da Vitória. A situação do centro antigo é gravíssima e só se resolve com um plano urbanístico que contemple incentivos fiscais, linhas de financiamento e associe grandes investimentos públicos em infraestrutura e habitação a privados em serviços. A chave de sua recuperação é saber associar dois interesses: o dos moradores e dos hoteleiros, em uma operação consorciada. Não faltam ruinas.
A solicitação das associações de arquitetos de pedir uma missão da Unesco com vista a declarar o C.H. Patrimônio Mundial em Risco é a mão na roda para o IPHAN, IPAC e PMS conseguirem da União os recursos para este grande desafio. O que é melhor, investir R$1,5 bilhões no C.H. ou cinco vezes mais em duas construtoras para construírem numa ponte de veraneio? Se o Brasil quer ter Patrimônio Mundial tem que pagar o preço.
*Arquiteto e professor Titular da Ufba.

Nenhum comentário:

Postar um comentário