Lourenço Mueller*
A cidade pobre já caiu pelas ribanceiras e a cidade antiga,
patrimônio da humanidade, também está caindo, mas o país se mobiliza pela
delação de um canalha corrupto que até fisicamente se parece com um porco,
convicto e arrogante pela visibilidade que está tendo. "What country,
friends, is this?"(WS).
Posso
ser considerado uma velha marafona em matéria de frequentar congressos,
seminários, simpósios e todo tipo de reunião voltada para a discussão de
assuntos ligados a urbanismo; na condição de ouvinte ou palestrante, já
participei de dezenas ao longo da minha vida profissional e universitária. São
necessários, sim, mas... eles pecam, na maior parte das vezes, pela
organização. Seja do ambiente físico, da operacionalidade, do conteúdo ou na
escolha dos palestrantes.
Não foi
esse o caso do "Fórum de Cidades Criativas: o cenário urbano pede
inovação", promovido pela Ademi-BA (leia-se Luciano Muricy e Rafael
Valente) no último dia 9, com a representação do governador Rui Costa na
arquiteta Livia Gabrielli, uma das dirigentes da Sedur: deu-se numa sala de
cinema e tudo ocorreu otimamente, prova de que o uso dos espaços pode muito bem
ser múltiplo: exemplos internacionais de cidades criativas, verticalizadas,
compactas e com altas densidades desfilaram no telão e não em meros
"pps" de uma telinha. Pergunta feita aos palestrantes pelo engenheiro
Thales de Azevedo Filho calou fundo pela simplicidade e pertinência: como
Salvador vai crescer? Aqui, posso sinalizar que, se a cidade tem de crescer, só
poderá fazê-lo para dentro do município, substituindo tecido urbano horizontal
(casario e pequenos prédios) por vertical (torres) ou para fora de Salvador, na
sua expansão metropolitana, com novos aglomerados e adensamento dos já
existentes, nas sedes municipais da região. Prefiro as duas formas, isso e
aquilo; nesse texto, não dá para explicar os porquês.
O
arquiteto Antônio Caramelo foi o palestrante baiano; autor de vários trabalhos
locais, fez os projetos das torres/shopping no alto do Cabula, e, como Salvador
não se transforma na sua essência, ele foi obrigado a encapsular esse
minibairro: faltam espaços públicos de encontro dos moradores dos edifícios e
do seu entorno, perigo no acesso de pedestres aos logradouros e ao próprio
shopping, ilhado pelo sistema viário pré-existente, rodoviarista. Alfaville, na
Paralela, de outras autorias, também está transformado num gueto de riqueza,
facilitado ao automóvel e dificultado ao pedestre. O metrô, já tangenciando o
Cabula e chegando em breve à Paralela, vai reconfigurar completamente o uso e a
ocupação do solo desses enclaves, como de resto em toda a sua poligonal de
abrangência.
Àqueles
que decidem, urge debruçar-se sobre políticas públicas inteligentes para essas
zonas de expansão brusca da cidade/região, e o fórum foi oportunamente
provocador dessa circunstância. E que não deixem o nosso patrimônio
arquitetônico se esfacelar todo.
*Arquiteto e Urbanista
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