segunda-feira, 13 de julho de 2015

Cidades criativas, foruns e etc.

Lourenço Mueller*
A cidade pobre já caiu pelas ribanceiras e a cidade antiga, patrimônio da humanidade, também está caindo, mas o país se mobiliza pela delação de um canalha corrupto que até fisicamente se parece com um porco, convicto e arrogante pela visibilidade que está tendo. "What country, friends, is this?"(WS).
Posso ser considerado uma velha marafona em matéria de frequentar congressos, seminários, simpósios e todo tipo de reunião voltada para a discussão de assuntos ligados a urbanismo; na condição de ouvinte ou palestrante, já participei de dezenas ao longo da minha vida profissional e universitária. São necessários, sim, mas... eles pecam, na maior parte das vezes, pela organização. Seja do ambiente físico, da operacionalidade, do conteúdo ou na escolha dos palestrantes.
Não foi esse o caso do "Fórum de Cidades Criativas: o cenário urbano pede inovação", promovido pela Ademi-BA (leia-se Luciano Muricy e Rafael Valente) no último dia 9, com a representação do governador Rui Costa na arquiteta Livia Gabrielli, uma das dirigentes da Sedur: deu-se numa sala de cinema e tudo ocorreu otimamente, prova de que o uso dos espaços pode muito bem ser múltiplo: exemplos internacionais de cidades criativas, verticalizadas, compactas e com altas densidades desfilaram no telão e não em meros "pps" de uma telinha. Pergunta feita aos palestrantes pelo engenheiro Thales de Azevedo Filho calou fundo pela simplicidade e pertinência: como Salvador vai crescer? Aqui, posso sinalizar que, se a cidade tem de crescer, só poderá fazê-lo para dentro do município, substituindo tecido urbano horizontal (casario e pequenos prédios) por vertical (torres) ou para fora de Salvador, na sua expansão metropolitana, com novos aglomerados e adensamento dos já existentes, nas sedes municipais da região. Prefiro as duas formas, isso e aquilo; nesse texto, não dá para explicar os porquês.
O arquiteto Antônio Caramelo foi o palestrante baiano; autor de vários trabalhos locais, fez os projetos das torres/shopping no alto do Cabula, e, como Salvador não se transforma na sua essência, ele foi obrigado a encapsular esse minibairro: faltam espaços públicos de encontro dos moradores dos edifícios e do seu entorno, perigo no acesso de pedestres aos logradouros e ao próprio shopping, ilhado pelo sistema viário pré-existente, rodoviarista. Alfaville, na Paralela, de outras autorias, também está transformado num gueto de riqueza, facilitado ao automóvel e dificultado ao pedestre. O metrô, já tangenciando o Cabula e chegando em breve à Paralela, vai reconfigurar completamente o uso e a ocupação do solo desses enclaves, como de resto em toda a sua poligonal de abrangência.

Àqueles que decidem, urge debruçar-se sobre políticas públicas inteligentes para essas zonas de expansão brusca da cidade/região, e o fórum foi oportunamente provocador dessa circunstância. E que não deixem o nosso patrimônio arquitetônico se esfacelar todo.
*Arquiteto e Urbanista

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