terça-feira, 30 de abril de 2013

Ruim para o futebol, bom para as empreiteiras

Paulo Carneiro*
Apuramos as informações a respeito da construção e operação da Arena Fonte Nova e apesar de ser uma PPP, que entendemos ser a melhor alternativa, os detalhes do contrato do consórcio são inaceitáveis. Construíram uma Torre de Babel onde o governo assume todos os riscos, endivida o Estado e nunca mais recebe o capital investido. Lembrem de Costa de Sauípe, até hoje na mão da Previ. Nossos governantes são de lascar. O TCE convocou na época alguns membros do governo para esclarecimentos. Como o TCE é formado de políticos indicados pelos governantes em épocas distintas, não aconteceu nada. 
Para a construção do estádio e o modelo econômico que o Estado escolheu, fizeram uma PPP, Parceria Pública Privada, com concessão administrativa e resolveram assumir o ônus da dívida com o BNDES, pois não poderão cobrar pela concessão. Em suma, usaram o dinheiro público para se manterem donos do empreendimento, que sem conteúdo esportivo é um grande “elefante branco”. E para terem a gestão, vão bancar pelo menos durante 15 anos, com pagamento de contraprestação, pois se espera que depois deste período, o negócio comece a dar lucro.



O Bahia resistiu, foi pressionado mas cedeu e fez um contrato de 5 anos com acesso apenas a uma "luva" de R$ 9 milhões/ano na bilheteria. Sem acesso às outras inúmeras receitas. Seu fundo de comércio (torcida) devia ser mais valorizado. Sem ele não tem negócio.


O consórcio assume o contrato, garante o negócio da construção e repassa a operação para terceiros (Arena Brasil). E o povo paga a conta dos recursos públicos que serão direcionados. E na operação, se não chegar a determinado patamar, o governo tem que reembolsar o consórcio por 15 anos uma contraprestação de até R$ 107 milhões por ano ou próximo disso.

Sempre soube que 25 anos é o periodo de se garantir o retorno do investimento. Por que mais 10 anos? Para remunerar a quem?

E o consórcio, qual a sua responsabilidade? Não bota um centavo, ganha pela construção e tem garantia mínima se não viabilizar a operação. Pra ser justo colocaram 20% na construção, mas esse percentual incluem no orçamento. Empreiteiro trabalha pra seus acionistas, não para o povo.

O Vitória está sendo fortemente assediado. Seus dirigentes ganharam há tempos atrás uma viagem a Holanda pra conhecerem a operação da Arena Amsterdã. Alexi reluta, sabe que o melhor caminho é a Arena Barradão. Seu candidato, todavia, está alinhado com o presidente da assembleia e o vice-governador para levar o Vitória pra lá. Vão engessar o clube por 35 anos. O erro está no modelo econômico. Ainda assim com o risco da operação não se viabilizar. Estádios de Copa são caros. Agora chegaram à conclusão que os altos custos da operação inviabilizam a promoção de shows.

O certo é que sem o Vitória a operação não fecha. Em 2007, quando o Brasil foi escolhido, o Bahia e o Vitória deveriam ter se unido para serem, juntos com o governo, donos do negócio. Construtora quer construir e agora devem estar se preparando para passar a operação para fundos de investimento. Meu clube tem o Barradão e ali devem fazer a Arena e viabilizar seu futuro.

Esse problema se espalha por todo país. Em Natal os clubes não querem jogar na Arena das Dunas, em Minas o Atlético já escolheu o Independência. Sua Diretoria divulgou que a perda de arrecadação de Cruzeiro e Atlético chega a R$ 100 milhões por ano. Só quem vai se beneficiar com as arenas da Copa são os clubes que cederam seus estádios: Corinthians, Inter e Atlético Paranaense. O fluxo de receitas do clube paranaense deve triplicar com a chegada da sua Arena. Seu estádio, financiado diretamente com o clube, não chega a R$ 300 milhões. O Vitória, ainda que tardiamente, pelo imobilismo de sua gestão, tem a chance de mudar de status e se aproximar dos grandes. É só não permitir que interesses políticos sejam mais importantes que os interesses do clube.

* Paulo Carneiro foi deputado estadual e presidente do Esporte Clube Vitória.

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