Não sou arquiteta nem urbanista, mas amo minha cidade. Por isso, estou sempre a defendê-la com palavras de pertencimento e, no IGHB, têm sido realizados Seminários sobre a urbanização de Salvador, coordenados por Jaime Nascimento e Hugo Gama sobre temas que interessam aos soteropolitanos.
Essa atitude nada tem a ver com interesses políticos, pois a Casa da Bahia sempre esteve, incondicionalmente, a favor da cidade e do Estado da Bahia . Nela foram definidos, entre outros, assuntos polêmicos, tais como a fixação do 29 de março como a data simbólica da fundação de Salvador e a derrubada da Igreja da Sé. Vale lembrar as considerações de Fernando da Rocha Peres, autor do livro "Memória da Sé" sobre a polêmica em torno do assunto, que tanto mobilizou os baianos, quando das "obras de melhoramento" da cidade, iniciadas em 1912.
Tendo à frente o governador J. J. Seabra, os urbanistas municipais promoveram a destruição das igrejas: da Ajuda, a matriz de São Pedro, a igreja do Rosário do Pereira, a fachada do Convento e Igreja das Mercês, para dar lugar a Avenida Sete de Setembro. A igreja da Sé estava nesse ról, mas foi poupada ao longo de dezesseis anos de debates e negociações. Em 1923, o historiador baiano, Braz do Amaral, anteriormente vinculado ao seabrismo, assumiu providencial postura, na defesa da manutenção da Sé da Bahia , erguida em 1952 e demolida em 1933.
A campanha não contou com a imprensa da época que, tristemente, aceitou a derrubada da velha Sé, posicionando-se pelo "renovamento imperioso". A palavra de ordem era "modernização", alegando-se, entre outros disparates, que a Sé não possuía qualidade artística nem conteúdo histórico que justificassem a sua manutenção. Toda essa campanha encontrava eco nas intervenções ocorridas no Rio de Janeiro , que se espelhara em Paris. Mas, a Sé continuava de pé, apesar das constantes críticas veiculadas na imprensa.
Após o movimento de 1922, conhecido como a Semana da Arte Moderna, em São Paulo , surgiu o modernismo tardio de 1928 em Salvador. Intelectuais engajados no futurismo provinciano cruzaram os braços sobre o assunto. Apenas um deles, o poeta Godofredo Filho publicou, em 1933, um artigo em defesa do templo. Entretanto, conforme Fernando Peres: "A mobilização a favor do monumento será feita pela elite de sócios do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia , instituição que naquele instante assumia o seu papel de guardiã do nosso patrimônio cultural histórico e cultural.
É através da imprensa diária e de um número especial da sua Revista, em 1928, que veremos os intelectuais da Casa da Bahia desfiando seus argumentos favoráveis à preservação da igreja da Sé; Pirajá da Silva, Filinto Bastos, Bernardino de Souza, Teodoro Sampaio, Gama e Abreu, Borges de Barros, Pedro Calmon, dentre muitos outros, são aqueles que mais se destacam dentro da campanha para salvação do templo."
Wanderley Pinho também assumiu papel significativo nessa luta patriótica, desde 1917, sobre a qual, em 1925, concedeu notável depoimento.
Como sempre agia na defesa intransigente da Bahia e do patrimônio baiano, Bernardino de Souza, senhor de uma personalidade combativa e persistente, pediu o apoio das entidades congêneres do Rio e de São Paulo para a defesa do antigo templo que também serviu como fortaleza contra os holandeses.
O assunto é bem mais extenso, mas não posso me perder apenas nessas considerações, porque o problema que se coloca, neste texto, é a defesa, quase solitária, do arquiteto e Professor titular da Ufba, Paulo Ormindo de Azevedo, do projeto de uma via alternativa para impedir a polêmica construção da Ponte Salvador - Itaparica sobre as águas da Baía de Todos os Santos. Seus argumentos são claros e elucidativos, mas falta-lhe o apoio maciço dos seus colegas, de alguns políticos de expressão local e nacional, com voz e voto nas Casas do Congresso Nacional, além dos associados do IGHB, valendo-se do prestígio do passado, sem falar no Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, e na sociedade civil organizada. Esta só se tem preocupado com questões relacionadas com o racismo, a inclusão social, a homofobia, o sistema de cotas, o preconceito contra A e B, esquecendo-se da sua cidade.
Por isso, no artigo publicado no domingo, após longa exposição sobre o tema, Paulo Ormindoconcluiu com essas palavras: "Mas não quero me alongar, pois estou me tornando um pregador no deserto".
Não, caro companheiro, há poucos dias, no IGHB, seu colega, o arquiteto Fernando Peixoto, ao tratar da atual "desqualificação" de Salvador mencionou o seu nome e a sua luta, tendo sido vivamente aplaudido quando se referiu à referida ponte. Se hoje o Instituto não tem a representatividade do passado, muitos dos que aqui estão sentem o mesmo desconforto em relação aos problemas da capital e do interior da Bahia .
*Presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia
Ainda bem que Paulo Ormindo Não está só. Precisamos fazer sua voz reverberar, para que os ecos sejam ouvidos por todos. Aqui a minha contribuição:
ResponderExcluirhttp://ruadegente.blogspot.com.br/2013/03/a-ponte-ligando-itaparica-aracaju.html