sábado, 27 de abril de 2013

Cultura Cidadã e Cidades Criativas - O exemplo de Bogotá

Ana Carla Reis Fonseca*
A Colômbia, é o país latino-americano que mais tem investido em uma estratégia de indústrias criativas, economia criativa e, finalmente, cidades criativas, trabalhando mais do que somente a capital, Bogotá. Isso parece se explicar por uma confluência de fatores. Em primeiro lugar, pela atuação intensa do British Council no país, instituição que desde o final da década passada tem promovido com afinco a proposta de criatividade como alavanca de desenvolvimento socioeconômico. Na Colômbia, em especial, a instituição fomentou e participou de vários projetos, tendo chegado mesmo a lançar um manual para empreendedorismo nas indústrias criativas.
Um dos fatores chaves da transformação de Bogotá, algo que não deixa de suscitar suspiros em quem mora no Brasil, é a continuidade de gestão e planejamento urbano. A cidade teve ao longo dos últimos 20 anos administrações cujos esforços foram complementares e pautados por uma mesma trajetória, apesar das eventuais orientações ideológicas distintas. Esta evolução, certamente nuançada, mas sem rupturas profundas ao longo de um fio histórico de algumas gerações, foi fundamental para dar vazão a um processo de transformação calcado no longo prazo e não nas usuais prioridades com horizonte de tempo restrito há no máximo quatro anos.
Tendo em vista a continuidade das gestões e do investimento em políticas sociais de base, não causa estranheza perceber que, segundo o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano, o índice de Desenvolvimento Humano de Bogotá passou de 0,768, em 1990, para 0,813, em 2000 e 0,880, em 2007.
Dos últimos prefeitos de Bogotá nestes vinte anos, dois merecem destaque. O economista Enrique Peñalosa (janeirode1998 a dezembro de 2000), em sua breve gestão, criou e inaugurou a primeira parte da maior referência de transporte público da cidade, o TransMilênio. Inspirado na Rede Integrada de Transportes de Curitiba trata-se de um sistema de veículos leves sobre pneus, no qual os ônibus transitam por duas faixas próprias em cada direção e sem cruzamento de nível. É composto por 514 veículos, que cobrem 84 km e 114 estações, circulando a uma velocidade média de 27 km/h e transportando no período de pico uma média de 170 mil passageiros por hora.
Em paralelo ao TranMilênio, Peñalosa investiu 300 km de ciclovias, uma rua pedonal de 17 km de extensão, rodízio para veículos e aumentou as taxas de estacionamento de veículos. Também investiu na infraestrutura de educação e cultura: construiu 52 novas escolas, reformou 150, dotou-as de computadores e elevou o percentual de matrículas em 34%. Do ponto de vista urbano, esse ex-prefeito pelo Partido Verde priorizou parques e áreas públicas, comprou terras na periferia (para evitar a especulação imobiliária) e plantou 100 mil árvores.
De todos os prefeitos de Bogotá nos últimos anos, o que se tornou mais conhecido por suas ações de transformação urbana foi Antana Mockus. Matemático, filósofo e ex-reitor da Universidade Nacional da Colômbia, sua maior bandeira foi a formação de uma “cultura cidadã”. Em suas palavras: “Por cultura cidadã entende-se o conjunto de atitudes, costumes, ações e regras mínimas compartilhadas por indivíduos de uma comunidade, que possibilitam a convivência e geram sentimento de pertencimento”.
Um dos grandes objetivos de Mockus, como porta de entrada ao desenvolvimento da cultura cidadã, foi levar as pessoas a observar a cidade, e a partir disso mudar sua conduta de modo consciente. Para tanto, recorreu a várias ações inusitadas, carregadas de conteúdo simbólico. Uma delas envolveu a contratação de mais de 300 grupos de mímicos e palhaços, espalhados por Bogotá, que buscavam romper com o moto-contínuo apático das pessoas, entre residência e trabalho e vice-versa, bem como promover a apropriação da cidade pelos transeuntes. Muitos desses mímicos tinham como atribuição zelar pelo respeito às faixas de pedestre e aos semáforos. A estratégia baseava-se “na vergonha como ação educativa, para que os cidadãos se convertessem em juízes dos infratores”.
A gestão da cultura cidadã promovida por Mockus lançou os alicerces para a construção de programa de iniciativas integradas e sintomáticas da transformação bogotana, a partir do mandato do próximo prefeito Luiz Eduardo Garzón (janeiro de 2004/dezembro de 2007).
“O grande sucesso político e cultural dos últimos prefeitos foi precisamente ter entendido a cultura como uma dimensão não ad latere, mas sim de centralidade na gestão da cidade de Bogotá. Foi precisamente na gestão pedagógica e simbólica da cultura cidadã que a cultura (mundo simbólico) se converteu em um elemento central da cidade. A cultura e a convivência tem a ver com normas, princípios e valores civis. Valores que não se aprendem simplesmente de maneira “institucional”, mas que devem ser interiorizado pelos cidadãos e, assim, influir sobre os comportamentos em termos de pagamentos de impostos, de convivência na cidade, de respeito ao tráfego etc. Trata-se de um grande avanço, se pensarmos que a cultura teve em geral pouca centralidade na agenda de nossos políticos e quando a teve foi por uma concepção de cultura como “cultura culta”, de levar cultura ao povo.” (German Rey)
Um dos aspectos que mais despertam a atenção no processo de transformação de Bogotá é a variedade de programas criativos que foram implementados ao longo de duas décadas, com firmeza de propósito, sem terem sofrido rupturas significativas entre as gestões municipais.
Porém, o aspecto mais inovador talvez resida no âmago dos próprios programas implementados, que souberam reconhecer e entender a cidade como sala de aula, restituindo ao espaço público o papel de cenário por excelência educativa e do desenvolvimento da cidadania, valendo-se de campanhas claras, carregadas de conteúdo simbólico, capazes de gerar a mobilização efetiva dos cidadãos.
*Economista com doutorado em Urbanismo pela USP. È autora do livro Cidades Criativas, baseado na sua tese de doutorado, de onde foi extraído este artigo.

Um comentário:

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