Pedro Tourinho*
Não estamos mais na década de 70, mas domingo, dia 09, tem show de Baby Consuelo na Concha Acústica do TCA. Não consigo escrever sobre outra coisa senão isto, porque o evento é, por diversos motivos, um grande acontecimento em nosso cenário cultural.
Falo com propriedade, pois já assisti a esse show há algumas semanas, no Rio, e ele nos oferece um espetáculo que vai muito além da qualidade musical, ou da emoção em ouvir grandes sucessos na voz de quem os consagrou. O novo show de Baby nos oferece uma metáfora e um exemplo de como podemos re-produzir e re-significar nossa identidade enquanto baianos e brasileiros.
Tudo começou com o desejo de Pedro Baby de dividir o palco com sua mãe e com a certeza de que, sem dúvida, existe palco e público para uma artista com a história de Baby Consuelo. Seu repertório, do tempo em que vivia a vida secular, muito além dos Novos Baianos, a coloca em pé de igualdade com qualquer diva da música brasileira. Gal, Rita, Marisa. Faltava apenas o show.
Baby conta que, ao receber o convite de Pedro para montar uma apresentação só com seus sucessos, teve de consultar Deus para ver se poderia ir em frente. E como Deus poderia ser contra uma ideia como essa? Sinal verde concedido e Baby se entregou totalmente à direção do seu filho, que concebeu e dirigiu um espetaculo que passa por todos os grandes momentos da sua carreira, que se confundem com grandes momentos da música brasileira nas décadas de 70 e 80.
E, com chancela divina, Baby está inteira no palco. Em estado puro. Em fé e festa. No repertório, o que fez de melhor. A Menina Dança, Tudo Azul, Telúrica, Todo Dia Era Dia de Índio, Masculino e Feminino, Tinindo Tricando, Acabou Chorare, Sorrir e Cantar como Bahia... Essa última muito especial. Também nesse show, Caetano Veloso faz uma participação fenomenal cantando Menino do Rio, música que compôs para Baby cantar.
Os Novos Baianos estão - separadamente - voltando pelas mãos de uma geração que ouviu, mas que não viveu os Novos Baianos nos palcos. É a geração de Pedro Baby, produzindo esse show junto com sua mãe, e de Davi Moraes, que também rodou o país com o show de 40 anos do Acabou Chorare junto com seu pai. É a geração de Henrique Dantas, que levou 11 anos para concluir o documentário Filhos de João. É uma geração bem-sucedida, criada em outros tempos, que hoje pode trazer esses elementos da nossa cultura para um novo contexto, resignificando nossa identidade.
E mais, não basta fazer, tem que ser bem feito. Com um time de produção de primeira linha, liderados por Paula Lavigne, o show de Baby foi produzido com o cuidado e a qualidade que grandes artistas merecem. Do figurino de Felipe Veloso a iluminação inteligente, do repertório aos arranjos originais, músicos jovens e hiperprofissionais, tudo foi feito para entregar ao público uma apresentação com a qualidade dos grandes espetáculos. Vale o exemplo para nossa Bahia. Temos que nos produzir, nos apresentar, tendo como ponto de partida nossa história, nossa relevância e nossa identidade. Não podemos nos acomodar na falta de recursos, no público aparentemente reduzido e na incredulidade dos incrédulos. Significamos - de verdade - muito mais.
Somos novos, mas somos baianos. Temos a obrigação de fazer um movimento semelhante ao do filho de Baby, e guiar nossa terra por um novo/velho caminho. Nós, filhos da Bahia que deu certo, mas que negligenciamos a negligência, temos o dever de atualizar nossas raízes e apresentar para um novo público, do jeito certo, bem feito, elementos fundamentais da nossa existência cultural enquanto baianos e brasileiros.
Só assim poderemos garantir não só o futuro da nossa terra, mas também a relevância da nossa identidade nas gerações que estão por vir. Viva os novos Novos Baianos.
Nos vemos na Concha.
* Pedro Tourinho é publicitário e especialista em mídia pela UCLA