quarta-feira, 28 de julho de 2010

Salvador realiza VI Seminário Internacional de Cinema

André Setaro*
O Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, já na sua sexta edição, está acontecendo em Salvador até o dia 31 de julho.
Organizado por Walter Lima, Waltinho, desde 2005, é um evento importante e pleno de atividades desde mostras competitivas de filmes, mesas redondas e quadradas, cursos e oficinas, retrospectivas especiais e a presença de nomes consagrados da cinematografia brasileira e internacional. Lembro do primeiro seminário, em 2005, ainda não realizado no Teatro Castro Alves, mas na Reitoria da Universidade Federal da Bahia, quando da vinda do famoso cineasta Costa-Gravas, autor de obras consagradas como Z, Estado de Sítio, Desaparecido, A confissão etc, que participou ativamente como espectador atento e também palestrante de quase todas as atividades. No último dia, no telão imenso do TCA, houve a avant-première mundial de O corte (L'écouperer).
Em 2007, participei de uma mesa sobre cinema baiano e, lá pelas tantas, Edgard Navarro se aborreceu comigo e quase fomos às vias de fato. Mas a polêmica fez sucesso e virou o acontecimento do seminário daquele ano com uma repercussão na mídia nacional - saiu uma matéria sobre o imbroglio até no Estadão. Mas, hoje, me relaciono bem com Navarro. O que aconteceu foi um fogo de palha e pertence ao passado.
Neste mesmo ano, o talentoso Marcondes Dourado resolveu realizar um espetáculo de encerramento e chamou todos os participantes do seminário para, de mãos dadas, ascenderem do fundo do poço da orquestra para que aparecessem, de repente, na beirada do palco. Apesar da beleza da mise-en-scène douradiana, para mim, que tinha tomado um comprimido para hipertensão, foi um suplício, pois tive uma baixa de tensão quando cheguei ao topo, e, se caísse, porque de mãos dadas, levaria muitos comigo. Mas consegui conter e corrigir a baixa tensional, ainda que suando frio, e, ciente do que podia acontecer, em pânico.
Mas mudando de água para vinho, neste ano o seminário programou uma mostra completa do realizador Pier Paolo Pasolini, um dos mais importantes cineastas do século passado, que preconizou o cinema de poesia em oposição ao cinema de prosa. Para ele, este é um cinema de narrativa opaca, que esconde aquele que faz o filme por meio de uma narrativa invisível, segundo a lei de progressão dramática instaurada pelo americano David Wark Griffith. Já o cinema de poesia é um cinema de desmistificação, da transparência, onde as regras gramaticais não são seguidas, permitindo ao cineasta desenvolver suas idéias através de uma liberdade na construção de suas cenas e sequências. E fazendo ver ao espectador a presença de um autor que está a fazer o filme, dando a este a consciência de estar vendo uma obra cinematográfica na qual há um narrador.
Pasolini foi polêmico na sua época e, acredito que o seja ainda hoje. Saló, por exemplo, baseado em livro do Marquês de Sade, derradeiro opus do cineasta, que morreu logo em seguida esquartejado na periferia de Roma, com seu corpo desfigurado pela passagem de um automóvel em cima dele, Saló é um filme que não permite uma unanimidade: ou se gosta ou se detesta. Mas vamos ver toda a sua rica filmografia constituída de belos e significantes exemplares, a exemplo da fábula Gaviões e passarinhos, com o célebre Totó, O evangelho segundo São Mateus, que destrói toda a iconografia tradicional dos filmes sobre a vida de Cristo, Teorema, obra magistral, Decameron, entre muitos outros.
Salvador congrega anualmente pelo menos quatro eventos de expressão: o Seminário Internacional de Cinema (organizado por José Walter Pinto Lima), geralmente em julho, a Jornada Internacional de Cinema da Bahia (organizada por Guido Araújo e que acontece em setembro), o Panorama Internacional Coisa de Cinema (organizado por Cláudio Marques no Espaço Unibanco Glauber Rocha), o Festival Sala de Arte (organizado por André Trajano e Marcelo Sá no circuito do mesmo nome, e geralmente com data em outubro).Todos concentrando uma avalanche significativa de filmes. Destes festivais, o mais antigo é a Jornada, que existe desde 1972, e, fazendo as contas, 38 anos, quase quatro décadas, mas, a rigor, 36, porque houve dois anos (1989 e 1990) em que não foram realizadas. O seminário de Lima já está na sexta edição e parece que foi ontem que começou na Reitoria. O tempo passa e, quando se percebe, as coisas, os eventos e as pessoas já pertencem ao pretérito. Há também outros eventos cinematográficos alternativos. Em Cachoeira, por exemplo, já está consolidado o festival Bahia África (organizado por Lázaro Farias).Vários cursos e oficinas estão programados, entre eles um de direção com o famoso cineasta chileno Miguel Littin. Para maiores informações sobre a programação do seminário, acesse este site: http://www.seminariodecinema.com.br/2010/index.html
* Crítico de Cinema e Professor Universitário

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