Cortejo ao 2 de Julho em Salvador - Foto: Osvaldo Campos
Claudio Carvalho*
Quando pequeno, era levado por meus pais para assistir ao desfile do 2 de Julho. Estrategicamente posicionados, esperávamos o cortejo despontar descendo o Carmo rumo ao Pelourinho. Na brincadeira do menino invocava a presença da procissão com um sonoro "apareça 2 de Julho", para mim, sintetizado nos caboclos.
Evoco essas reminiscências inspirado no artigo de Risério "A cidade e o seu Recôncavo" ( A Tarde, 26/06/2010) onde ele articula, com a habilidade de sempre, o nexo histórico-cultural entre Salvador e sua interlândia. Concordo com o autor e antevejo a possibilidade de outro resgate importante do ponto de vista da história da Bahia.
Volto ao 2 de Julho. Data emblemática da independência do Brasil consolidada aquí com a luta da gente negro-mestiça baiana ecoando os ideais de liberdade da Revolta dos Búzios de 1798 , quando foi formulada pela primeira vez a criação de uma república livre do exclusivismo colonial e da escravidão.
Acontecimentos relegados à condição de apêndice da emancipação política brasileira, omitindo o protagonismo da arraia miúda, silenciada pelos livros didáticos e pelas datas comemorativas oficiais a reverenciar heróis desterritorializados culturalmente, recalcando assim o passado.
A psicanálise nos ensina que a memória vale pelo esquece, sendo a insistência no lembrar o primeiro passo para esquecer - o que vale tanto para a história do sujeito quanto para o do coletivo. Mas a verdade pode ser resgatada se o que foi esquecido está escrito em outro lugar e retorna sob a forma de atos falhos, lapsos e sonhos.
E é justamente de um sonho parido como a realização de desejo que podemos imaginar uma ponte aterissando na Baía de Todos-os-Santos e reatando rizomaticamente a cidade e o seu Recôncavo através da ilha de Itaparica - territórios de batalhas pela liberdade em 1823. E assim como os caboclos eram a metomínia do cortejo cívico na minha fantasia infantil, daríamos a essa cosntução o nome de "Ponte 2 de Julho", simbolo metonímico da integração e do resgate histórico dos baianos.
* Psicanalista, professor de história e folosofia
Publicado no jornal A Tarde em 9/07/2010
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