Dimitri Ganzelevitch*
E nossa cultura popular? Alguém pode informar qual órgão se dedica especificamente a ela? Apostamos que não. Não existe, em todo o Estado da Bahia, um único espaço reservado à documentação, memória e resgate das expressões culturais do povo baiano. Em exposição encontrar-se-ão, talvez, umas poucas peças de caráter comercial no Instituto Mauá, muitas vezes sem especial relevância e com total deficiência de pesquisa.
A italiana arquiteta Lina Bo Bardi bem que tentou constituir, no início dos anos 60, um acervo de qualidade. A ditadura militar e o evidente desinteresse dos governantes locais por qualquer coisa que não tivesse o glamour europeu ou norte-americano relegaram o acervo aos porões do Solar do Unhão, e não se falou mais nisso.
Temos algo comparável à pernambucana Fundação Joaquim Nabuco, ao carioca Museu do Folclore Edson Carneiro, ao mineiro Museu de Artes e Ofícios? Nada! A coleção Pardal de carrancas hoje pertence a um colecionador português.
A maioria dos centros de olaria do Recôncavo e do Interior, fossilizada, está sobrevivendo no ostracismo. As rendeiras de Saubara só podem contar com uma Márcia Ganem, dentro de seu potencial de mercado. E os outros? Os que fabricam brinquedos, apetrechos de couro, cestas, mocós e balaios, montarias para jegues e cavalos, ferramentas? E as expressões e iniciativas privadas, que podemos rotular de artes espontâneas: gravadores, escultores e pintores que, sem o mínimo apoio, acabam massificando a produção para o predador mercado de turismo?
Precisamos documentar, sem mais demora, as danças, as procissões, as rezadeiras, as festas de largo, os curandeiros, os fazedores de máscaras, as lendas e crenças, o cancioneiro dos morros, das praias e da caatinga, os carnavais, as receitas tradicionais – passando por conventos, mosteiros, ocas e terreiros – as pinturas dos caminhões e carroças, o delicado e forte emaranhado dos vendedores ambulantes, tanto urbano como interiorano, os garimpeiros, pastores e boiadeiros.
Temos um material tão rico e tão ignorado! Respeitar um povo é também respeitar suas expressões. Sua essência.
* Marchant
E nossa cultura popular? Alguém pode informar qual órgão se dedica especificamente a ela? Apostamos que não. Não existe, em todo o Estado da Bahia, um único espaço reservado à documentação, memória e resgate das expressões culturais do povo baiano. Em exposição encontrar-se-ão, talvez, umas poucas peças de caráter comercial no Instituto Mauá, muitas vezes sem especial relevância e com total deficiência de pesquisa.
A italiana arquiteta Lina Bo Bardi bem que tentou constituir, no início dos anos 60, um acervo de qualidade. A ditadura militar e o evidente desinteresse dos governantes locais por qualquer coisa que não tivesse o glamour europeu ou norte-americano relegaram o acervo aos porões do Solar do Unhão, e não se falou mais nisso.
Temos algo comparável à pernambucana Fundação Joaquim Nabuco, ao carioca Museu do Folclore Edson Carneiro, ao mineiro Museu de Artes e Ofícios? Nada! A coleção Pardal de carrancas hoje pertence a um colecionador português.
A maioria dos centros de olaria do Recôncavo e do Interior, fossilizada, está sobrevivendo no ostracismo. As rendeiras de Saubara só podem contar com uma Márcia Ganem, dentro de seu potencial de mercado. E os outros? Os que fabricam brinquedos, apetrechos de couro, cestas, mocós e balaios, montarias para jegues e cavalos, ferramentas? E as expressões e iniciativas privadas, que podemos rotular de artes espontâneas: gravadores, escultores e pintores que, sem o mínimo apoio, acabam massificando a produção para o predador mercado de turismo?
Precisamos documentar, sem mais demora, as danças, as procissões, as rezadeiras, as festas de largo, os curandeiros, os fazedores de máscaras, as lendas e crenças, o cancioneiro dos morros, das praias e da caatinga, os carnavais, as receitas tradicionais – passando por conventos, mosteiros, ocas e terreiros – as pinturas dos caminhões e carroças, o delicado e forte emaranhado dos vendedores ambulantes, tanto urbano como interiorano, os garimpeiros, pastores e boiadeiros.
Temos um material tão rico e tão ignorado! Respeitar um povo é também respeitar suas expressões. Sua essência.
* Marchant
Só informando que a coleção de arte popular de Lina Bo Bardi ganhou espaço no Solar Ferrão. Trancadas nos porões desde 1965, as peças estão em exposição: terça a sexta, das 10 às 18h. Fim de semana e feriado, das 13 às 17h, no Centro Cultural Solar Ferrão. Leia mais clicando nos links abaixo:
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