domingo, 27 de junho de 2010

BRT-M: Brasil transportando o mundo


Horácio Brasil*
Se existe uma certeza na comunidade técnica é a de que uma rede de metrô, integrada com outras modalidades de transporte urbano, é o que se pode ter de melhor numa cidade com mais de um milhão de habitantes – a nossa Salvador e sua região metropolitana já ultrapassam três milhões... As grandes metrópoles mundiais construíram suas redes, há mais de um século a exemplo de Londres, Paris, Buenos Aires, Moscou, e Nova York. Londres chegou a ter trens subterrâneos movidos a carvão, para desespero dos lordes e ladies que usavam vestimentas mais claras. Com o advento dos motores a eletricidade, no início do século passado, trens subterrâneos (metrôs) e bondes passaram a circular no subsolo e nas superfícies das vias, aí ocupando o lugar de charretes e carruagens.
Surge então o motor de combustão interna, movido os derivados de petróleo, viabilizando assim automóveis e ônibus que nos acompanham até hoje. No caso dos veículos de transporte coletivo, os ônibus chegaram trazendo baixos custos de operação e flexibilidade nos roteiros pré-estabelecidos, já que podiam compartilhar o sistema viário de superfície com os veículos individuais. Isso facilitou, sobremaneira, o atendimento das novas demandas das cidades que cresciam e se espalhavam Com muita velocidade, gerando uma demanda por transportes, difícil de ser atendida pelos sistemas ferroviários urbanos, de implantação lenta e custos elevadíssimos.
Essa dificuldade de se implantar sistemas ferroviários urbanos fica bem patente, na segunda metade do século XX, quando constatamos iniciativas bem mais tímidas que aquelas que tiveram início na primeira metade, em função dos altos custos de construção e das necessidades de uma operação subsidiada, objetivando manter as tarifas a preços praticáveis. Com raras exceções, notadamente em áreas ricas, as iniciativas ferroviárias têm sido tímidas e insuficientes para o atendimento das reais necessidades das populações urbanas. No Brasil, São Paulo e Rio são exemplos de frustrações de metas planejadas a mais de 40 anos.
Enquanto isso, os veículos privados, notadamente os automóveis, caíram no gosto popular pela comodidade operacional, status social e preços acessíveis, a ponto de, nos dias atuais estarem se transformando numa verdadeira praga urbana em termos de congestionamentos, poluição ambiental, uso privado de espaços públicos para estacionamento e, acima de tudo, inviabilizando a cada dia a operação dos transportes coletivos que compartilham o sistema viário.
Diante do impasse que já vinha se caracterizando desde os anos 1970, a criatividade brasileira reinventou uma forma de extrair do prosaico ônibus um desempenho operacional bastante superior a todas as tecnologias disponíveis para o transporte urbano, com exceção, obviamente, do metrô que reina sozinho nas faixas de demanda superiores a 50 mil passageiros por hora e por sentido. Trata-se do BRT, sigla inglesa do Bus Rapid Transit, ou seja, transporte rápido de alta capacidade por ônibus.
De Curitiba, cidade em que a idéia foi concebida e implantada até Bogotá, onde brasileiros e colombianos, ingleses e franceses aperfeiçoaram o sistema, consolidando inclusive a sigla BRT para esta tecnologia, resultou nos dias atuais cerca de 160 projetos em todo o mundo. Alguns em funcionamento, outros em construção e outros, inclusive aqui em salvador, em fase de projeto básico. O mais interessante é que, na virada do milênio, o Brasil já pode se orgulhar de deter uma tecnologia de transporte urbano de alta capacidade, que pode ser implantada a custos praticáveis e em tempo recorde.
O Brasil já dispõe de consultorias experientes de planejamento e projetos de BRT´s, empreiteiras preparadas para grandes obras, veículos especiais de grande capacidade sobre pneus,
tecnologia de bilhetagem eletrônica e controle operacional via GPS e GPRS, além de operadores da logística urbana competentes, todos forjados na realidade brasileira, com resultados testados e consagrados em diversos países.
Não é por acaso que Londres prepara-se para as olimpíadas de 2016 incluindo o BRT como fator de mobilidade e de expansão da rede de transportes, seguindo exemplo de Xangai, Los Angeles, Nova York, Bogotá, Santiago, Cidade do México, dentre outras. Também não é por acaso que, além do presidente Lula, apenas o arquiteto brasileiro Jaime Lerner foi escolhido para figurar na lista da revista Time como uma das personalidades que exercem influência no mundo atual, “pelo seu maravilhoso legado para a sustentabilidade urbana”, segundo o prefeito de Vancouver-Canadá, em declaração àquela revista.
* Horácio Brasil é engenheiro e Superintendente do SETEPS – Sindicato das empresas de transporte de passageiros de Salvador.

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