domingo, 9 de maio de 2010

O nome da ponte Salvador - Itaparica

JOSÉ NOGUEIRA*
Acompanho, com cuidado, as propostas para a ponte que se pretende estender por sobre a Baía de Todos-os-Santos, para interligar os tramos Sul e Norte da BR 101, atualmente conhecida como Ponte Salvador-Itaparica.
É notório que uma ponte ligando os dois municípios Itaparica (e não Vera Cruz) e Salvador é e será por muito tempo inviável economicamente – tal ligação, na escala em que acontecer, não pagará os custos de construção e, com base e propostas já vistas, os de manutenção.
O que razoavelmente seria uma estrutura simples sobre a água, pesadeleia cada dia como se fora um monumento pretensioso e caro. Vãos enormes, muitos deles estaiados, pensados em navegação atípica, em nada contribuirão para o bom senso na Arquitetura e Engenharia baiana (ou nacional, ou internacional, como queiram).
O traçado mais coerente é ao fundo da Baia (N/NO), em cotas batimétricas da ordem máxima de 20m, sobre fundo de areia, com tabuleiro baixo, isto por que:
1.Luz (entrevão do subtabuleiro ao nível do mar) acima de 50m é desperdício – passar porta-aviões? Qual? o São Paulo (ex-Foch)? Para que? Não há como docar casco tão grande na Base Naval de Aratu. Bem, quem sabe um CVAN (porta-aviões de ataque, de propulsão nuclear) desses americanos um dia quebra uma peça aqui perto e… podem quere uma gambiarrazinha…
Quanto a outros navios, essa altura é suficiente, já que, na posição de fundo da baia só passarão sob a ponte os que usam o Terminal de Madre Deus.
1.A opção por águas menos profundas requer pilares submersos curtos que apresentam menor resistência às correntes marinhas (que no fundo da baia são mais fracas – menor volume d’água/tempo)
2.Vãos maiores que 240m não são necessários, a não ser como exercício estrutural ou para aumentar o custo de manutenção (que não será pequeno e implicará em pedágio caro); todavia, para gáudio de poucos, justificariam formas escultóricas e estais de aço, provavelmente inoxidável (o aço).
3.Ainda sobre estais – há velocidades de ventos nos rumo S e SSE e também NE que chegam a 26 kt (44kmn/h) que provocarão vibrações harmônicas de baixa frequência, o que, além de causar mal estar podem contribuir para colapso lento das estruturas e suas ligações; isso sem falar que tabuleiro de perfil reto, na altura e extensões propostas, por efeito do teorema de Bernoulli poderá fazer com que tais estais, em regime de vento forte, não funcionem – pode haver empuxo negativo do tabuleiro pela subpressão causada sobre sua face superior pelo fluxo eólico. (como uma asa de aeronave)
Há solução simples e prática para fazer uma ponte; entretanto, seo o que querem (quem) é um monumento que o projeto fique por conta de quem assim pensa.
Em 1984 foi publicado em A Tarde um estudo sobre A Ponte, com o seguinte traçado:
- saída FORA do perímetro urbano da Salvador a partir de um trevo a completar na BR 324 na altura do acesso À base Naval;
- duplicação da estrada da Base Naval, com correção do eixo passando por cima da “boca da Baia de Aratu” a 60m de altura, atingindo o sistema viário existente co CIA Norte;
- duplicação da via do CIA Norte até perto de Madre de Deus;
- ponte com 1600m da linha de costa de Madre de Deus até a Ilha dos Frades (posto de pedágio)
- ponte com 10.960m, sobre águas rasas, com vãos de 120m e um central de 200/240, atingindo a Ilha de Itaparica no município do mesmo nome, na Fazenda Mocambo (governo do Estado)
- daí, rodovia nova pela contra-costa da ilha até a ponte do Funil, duplicando-a e a rodovia seguinte até o entroncamento da BR 101.
Mas o assunto era o nome da ponte, ou, do monumento?
É assunto para plebiscito e não agora; definamos primeiro o que como fazer; daí o nome não será uma piada.
*José Nogueira – Arquiteto urbanista. Trabalhou com infraestrutura urbana na Conder entre 1980 a 1999. Professor do curso de Arquitetura da Universidade Salvador (Unifacs)

Um comentário:

  1. O articulista deveria ter mencionado em que dia e mes do ano de 1984 foi publicada a reportagem focando a Ponte, facilitando ao leitor comum o conhecimento do projeto antigo e sua comparação com o sujerido pelo mesmo, infelizmente pouo detalhado. Rubem

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