Paulo Ormindo Azevedo*
Morávamos na Barra Avenida e poucas famílias tinham carro na época. A maioria dos seus moradores era de classe média, mas havia também alguns ricos e muitos modestos, que viviam em uma das “avenidas” da cidade. Nós, estudantes, nos encontrávamos no ponto de bonde e entabulávamos conversas que eram interrompidas abruptamente num ponto, com a famosa frase de Ibraim Sued: depois eu conto...
Éramos todos moleques, independente da origem, no bom sentido da palavra, que pongávamos e nos divertíamos no bonde. Havia filhos de comerciantes prósperos, funcionários públicos, mecânicos, operários e até de banqueiro. Não chegava a ser uma democracia socioracial, mas sem dúvida o bonde socializava. Os abrigos da Sé e do Campo Grande, que reuniam uma multidão de estudantes da rede pública e privada era uma festa ao meio-dia e no final da tarde, com muita conversa, olhares e namoricos.
No começo dos anos 60 os bondes foram abolidos a pretexto de atrapalhar o trânsito para dar passagem a milhares de carros produzidos no País. A popularidade do carro privado deveria resolver tudo. Desde então deixamos de ter políticas de transportes público. Foi preciso a FIFA dizer que sem transporte de massa não haveria Copa em Salvador.
Surge assim o Projeto Rede Integrada de Transporte (RIT), gentilmente presenteado à prefeitura pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador (SETEPS), que na primeira etapa deve ligar o aeroporto ao Shopping Iguatemi, correndo pelo canteiro central da Av. Paralela. As etapas seguintes, bem mais complicadas, não tem prazo nem orçamento. As construtoras e os donos de ônibus tem pressa de cobrar a fatura de R$ 570 milhões prometidos pelo BNDES.
Criou-se , porém uma polêmica sobre a motorização do sistema. O SETEPS defende um sistema conhecido pelo nome cifrado de BRT (Bus Rapid Transit). Por outro lado, o governo do Estado, que tem a chave do cofre federal advoga a adoção do VLT (Veículo Leve Sobre trilhos). A decisão, que deveria ser técnica, está dependendo da sucessão senatorial.
O BRT, como o nome indica, é um sistema de “busus” moderninhos trafegando em via segregada, como em Curitiba. O VLT é um bonde articulado muito comum na Europa trafegando no meio das ruas, nos trilhos do antigo bonde, que nunca desapareceram completamente. Tem a vantagem de não poluir e ter uma manutenção baixa. Mas o adjetivo “leve” expressa bem que não é um transporte de massa. È o bonde moderno. Ambos podem servir como redes alimentadoras, transversais , do sistema de metrô, como nas cidades do México, Londres e Nova York.
O vetor de expansão mais forte de Salvador é o norte. Já transbordou para Lauro e Freitas e está chegando a Abrantes em Camaçari. Nem BRT nem VLT darão conta da demanda de deslocamentos humanos na Região Metropolitana de salvador (RMS) nos próximos dez anos, quando a região terá seis milhões de habitantes. A RMS tem duplicado de população a cada 20 anos e terá 12 milhões em 2014. As duas alternativas são um paliativo caro e não uma solução.
Por que não se faz logo um metrô estruturante dessa expansão na Paralela, prevendo sua extensão até Camaçari? Um metrô de superfície, sem desapropriações, nem galerias subterrâneas, como o da Paralela, não custaria muito mais que um VLT ou BRT. Os vagões estão aí, parados enferrujando e pagando pedágio. O metrô-tobogã da Bonocô até chegar a Cajazeiras, para que seja viável, demorará mais dez anos.
Com essa solução dispensaríamos a abertura da Via Atlântica e Linha Viva, que provocarão grandes impactos sociais e ambientais e um montão de desapropriações. E o pior, não resolverá nada, pois induzem a população a comprar mais carros. Remos que deixar de pensar pequeno.
Lembro-me agora das propagandas nos bondes, como a do Rum Creosotado do elixir de Nogueira e uma que dizia: “Neste mundo todos são passageiros, menos o cobrador e o motorneiro”. Desconfio que esses também são passageiros do bonde da história. A conversa está muito boa , mas vocês me dêem licença, porque um bonde ou um ônibus está chegando...atrasado. depois eu conto...
* Arquiteto, professor titutar da UFBA
Morávamos na Barra Avenida e poucas famílias tinham carro na época. A maioria dos seus moradores era de classe média, mas havia também alguns ricos e muitos modestos, que viviam em uma das “avenidas” da cidade. Nós, estudantes, nos encontrávamos no ponto de bonde e entabulávamos conversas que eram interrompidas abruptamente num ponto, com a famosa frase de Ibraim Sued: depois eu conto...
Éramos todos moleques, independente da origem, no bom sentido da palavra, que pongávamos e nos divertíamos no bonde. Havia filhos de comerciantes prósperos, funcionários públicos, mecânicos, operários e até de banqueiro. Não chegava a ser uma democracia socioracial, mas sem dúvida o bonde socializava. Os abrigos da Sé e do Campo Grande, que reuniam uma multidão de estudantes da rede pública e privada era uma festa ao meio-dia e no final da tarde, com muita conversa, olhares e namoricos.
No começo dos anos 60 os bondes foram abolidos a pretexto de atrapalhar o trânsito para dar passagem a milhares de carros produzidos no País. A popularidade do carro privado deveria resolver tudo. Desde então deixamos de ter políticas de transportes público. Foi preciso a FIFA dizer que sem transporte de massa não haveria Copa em Salvador.
Surge assim o Projeto Rede Integrada de Transporte (RIT), gentilmente presenteado à prefeitura pelo Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Salvador (SETEPS), que na primeira etapa deve ligar o aeroporto ao Shopping Iguatemi, correndo pelo canteiro central da Av. Paralela. As etapas seguintes, bem mais complicadas, não tem prazo nem orçamento. As construtoras e os donos de ônibus tem pressa de cobrar a fatura de R$ 570 milhões prometidos pelo BNDES.
Criou-se , porém uma polêmica sobre a motorização do sistema. O SETEPS defende um sistema conhecido pelo nome cifrado de BRT (Bus Rapid Transit). Por outro lado, o governo do Estado, que tem a chave do cofre federal advoga a adoção do VLT (Veículo Leve Sobre trilhos). A decisão, que deveria ser técnica, está dependendo da sucessão senatorial.
O BRT, como o nome indica, é um sistema de “busus” moderninhos trafegando em via segregada, como em Curitiba. O VLT é um bonde articulado muito comum na Europa trafegando no meio das ruas, nos trilhos do antigo bonde, que nunca desapareceram completamente. Tem a vantagem de não poluir e ter uma manutenção baixa. Mas o adjetivo “leve” expressa bem que não é um transporte de massa. È o bonde moderno. Ambos podem servir como redes alimentadoras, transversais , do sistema de metrô, como nas cidades do México, Londres e Nova York.
O vetor de expansão mais forte de Salvador é o norte. Já transbordou para Lauro e Freitas e está chegando a Abrantes em Camaçari. Nem BRT nem VLT darão conta da demanda de deslocamentos humanos na Região Metropolitana de salvador (RMS) nos próximos dez anos, quando a região terá seis milhões de habitantes. A RMS tem duplicado de população a cada 20 anos e terá 12 milhões em 2014. As duas alternativas são um paliativo caro e não uma solução.
Por que não se faz logo um metrô estruturante dessa expansão na Paralela, prevendo sua extensão até Camaçari? Um metrô de superfície, sem desapropriações, nem galerias subterrâneas, como o da Paralela, não custaria muito mais que um VLT ou BRT. Os vagões estão aí, parados enferrujando e pagando pedágio. O metrô-tobogã da Bonocô até chegar a Cajazeiras, para que seja viável, demorará mais dez anos.
Com essa solução dispensaríamos a abertura da Via Atlântica e Linha Viva, que provocarão grandes impactos sociais e ambientais e um montão de desapropriações. E o pior, não resolverá nada, pois induzem a população a comprar mais carros. Remos que deixar de pensar pequeno.
Lembro-me agora das propagandas nos bondes, como a do Rum Creosotado do elixir de Nogueira e uma que dizia: “Neste mundo todos são passageiros, menos o cobrador e o motorneiro”. Desconfio que esses também são passageiros do bonde da história. A conversa está muito boa , mas vocês me dêem licença, porque um bonde ou um ônibus está chegando...atrasado. depois eu conto...
* Arquiteto, professor titutar da UFBA
Olá pessoal! Desejo aber o que eu, mero cidadão, que trabalha oito horas por dia em horário comercial, poderia fazer para precionar as autoridades como a nossa camara de deputados... Todo mundo fala que a população deve se mobilizar, mas não acho que fazer passeata vá resolver... pelo menos não passeata pra parar o transito! O transito de salvador precisa fluir e a cidade carece de muito planejamento, mão na massa e menos embargos! Sugestões?
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