Lourenço Mueller*
A capoeiragem e o ciclismo caminham juntos. As duas práticas, jogar capoeira e montar bicicleta, são expressões do equilíbrio corporal como aptidão natural. O corpo aparece nestas duas modalidades como a síntese do movimento elegante e circular: as circularidades dos golpes da capoeira e da cinemática ciclista. O equilíbrio mental vem junto…
Não é apenas esta a razão que convida à reflexão para se aproximar, nas nossas cidades,o ciclismo e a capoeiragem, misto de dança, luta e visão de mundo.
Listemos outras. A capoeira é praticada por estratos sociais predominantemente de baixa renda: a ocorrência das academias de capoeira é maior nos bairros pobres. Identicamente a bicicleta como meio de transporte é usada entre os mais pobres. Ou seja, são praticas da maioria da população pobre, a camada que mais precisa de apoio governamental.
Por favor, poupem-me do discurso pseudo-sociológico de que os pobres ‘’também têm direito’’ ao automóvel, como se essa coisa assassina que nos mata a todos, ricos e pobres, fosse um grande privilégio. Já foi, mas hoje pecam por excesso deles e juntamente com as motos deviam ser simplesmente excluídos das centralidades urbanas mais densas, dos centros de cidades.
Vislumbro, e me deslumbro (assim que se escreve, Guto…) com uma possível aproximação capoeira-bicicleta e aqui vai um reforço sistêmico: a animação de circuitos cicloviários com pontos de capoeiragem, “rodas de capoeira’’, não apenas em bairros de grande densidade populacional, mas também ao longo da ciclovia da orla, com toda a exposição que a pratica da capoeira evidencia para o turista e para o habitante, que este merece mais do que aquele, numa projeção para a cidade da Copa.
A capoeira:
É um dos componentes culturais mais fortes da negritude e pode se constituir em mais um esporte olímpico, se o Rio não chegar primeiro e nos tomar, como fez com o samba, mais este trunfo. Sua agregação a um modelo de mobilidade urbana que se persegue cada vez mais nas grandes cidades do mundo desenvolvido emprestaria um grande diferencial à Bahia.
Seria também uma forma de compensação à contribuição dos afrodescendentes ao caldo de cultura que tanto engrandece a nossa terra e que por tanto tempo o preconceito e o conservadorismo das elites “branco-mestiças” (Risério com a palavra) ajudou a esconder, pois até do fantástico berimbau um médico equivocado falou mal.
Há muito mais tempo, meu pai quebrou o berimbau que Mestre Bimba fez para mim, quando eu tinha 14 anos e já era fascinado pela capoeira; ele também sofria deste preconceito surdo contra os negros e sua cultura. O berimbau merece loas…
A bicicleta:
Como modo de transporte tem argumentos irrespondíveis: recentemente fez-se em São Paulo uma experiência de medição de tempo de deslocamento com diferentes modos de transporte (trem, metrô, carro, moto, ônibus e até helicóptero) e a bicicleta ganhou para todos!
Quanto aos outros aspectos (custo baixíssimo do veículo e da infraestrutura para ele, poluição auditiva, ambiental e atmosférica zero, saúde preventiva, praticidade no deslocamento ponto a ponto, violência no trânsito zero…) as ‘’magrelas’’ ganham disparado para TODOS os meios de transporte.
Do ponto de vista urbanístico, elevar o status da bicicleta e o respeito ao ciclista é uma das condições de se promover o seu uso intensivo.
Igualmente, promover a capoeira, reconhecida no mundo e semiesquecida no seu segundo berço depois da África, deveria ser uma atitude constante do poder público.
Algumas faculdades já admitem a capoeira como disciplina mas alguns trabalhos teóricos (Prof. Edivaldo Boaventura prefaciou o livro [**] e orientou um destes doutores, recentemente) sugerem um curso de graduação, com direito a grade curricular prática e teórica. Seria mais uma vanguarda do nosso estado e seguramente fortaleceria a ideia de tê-la aqui nas Olimpíadas, como sede, além do futebol.
As duas práticas, tão elegantes e saudáveis, podem e devem caminhar juntas.
* Lourenço Mueller é arquiteto e urbanista
A capoeiragem e o ciclismo caminham juntos. As duas práticas, jogar capoeira e montar bicicleta, são expressões do equilíbrio corporal como aptidão natural. O corpo aparece nestas duas modalidades como a síntese do movimento elegante e circular: as circularidades dos golpes da capoeira e da cinemática ciclista. O equilíbrio mental vem junto…
Não é apenas esta a razão que convida à reflexão para se aproximar, nas nossas cidades,o ciclismo e a capoeiragem, misto de dança, luta e visão de mundo.
Listemos outras. A capoeira é praticada por estratos sociais predominantemente de baixa renda: a ocorrência das academias de capoeira é maior nos bairros pobres. Identicamente a bicicleta como meio de transporte é usada entre os mais pobres. Ou seja, são praticas da maioria da população pobre, a camada que mais precisa de apoio governamental.
Por favor, poupem-me do discurso pseudo-sociológico de que os pobres ‘’também têm direito’’ ao automóvel, como se essa coisa assassina que nos mata a todos, ricos e pobres, fosse um grande privilégio. Já foi, mas hoje pecam por excesso deles e juntamente com as motos deviam ser simplesmente excluídos das centralidades urbanas mais densas, dos centros de cidades.
Vislumbro, e me deslumbro (assim que se escreve, Guto…) com uma possível aproximação capoeira-bicicleta e aqui vai um reforço sistêmico: a animação de circuitos cicloviários com pontos de capoeiragem, “rodas de capoeira’’, não apenas em bairros de grande densidade populacional, mas também ao longo da ciclovia da orla, com toda a exposição que a pratica da capoeira evidencia para o turista e para o habitante, que este merece mais do que aquele, numa projeção para a cidade da Copa.
A capoeira:
É um dos componentes culturais mais fortes da negritude e pode se constituir em mais um esporte olímpico, se o Rio não chegar primeiro e nos tomar, como fez com o samba, mais este trunfo. Sua agregação a um modelo de mobilidade urbana que se persegue cada vez mais nas grandes cidades do mundo desenvolvido emprestaria um grande diferencial à Bahia.
Seria também uma forma de compensação à contribuição dos afrodescendentes ao caldo de cultura que tanto engrandece a nossa terra e que por tanto tempo o preconceito e o conservadorismo das elites “branco-mestiças” (Risério com a palavra) ajudou a esconder, pois até do fantástico berimbau um médico equivocado falou mal.
Há muito mais tempo, meu pai quebrou o berimbau que Mestre Bimba fez para mim, quando eu tinha 14 anos e já era fascinado pela capoeira; ele também sofria deste preconceito surdo contra os negros e sua cultura. O berimbau merece loas…
A bicicleta:
Como modo de transporte tem argumentos irrespondíveis: recentemente fez-se em São Paulo uma experiência de medição de tempo de deslocamento com diferentes modos de transporte (trem, metrô, carro, moto, ônibus e até helicóptero) e a bicicleta ganhou para todos!
Quanto aos outros aspectos (custo baixíssimo do veículo e da infraestrutura para ele, poluição auditiva, ambiental e atmosférica zero, saúde preventiva, praticidade no deslocamento ponto a ponto, violência no trânsito zero…) as ‘’magrelas’’ ganham disparado para TODOS os meios de transporte.
Do ponto de vista urbanístico, elevar o status da bicicleta e o respeito ao ciclista é uma das condições de se promover o seu uso intensivo.
Igualmente, promover a capoeira, reconhecida no mundo e semiesquecida no seu segundo berço depois da África, deveria ser uma atitude constante do poder público.
Algumas faculdades já admitem a capoeira como disciplina mas alguns trabalhos teóricos (Prof. Edivaldo Boaventura prefaciou o livro [**] e orientou um destes doutores, recentemente) sugerem um curso de graduação, com direito a grade curricular prática e teórica. Seria mais uma vanguarda do nosso estado e seguramente fortaleceria a ideia de tê-la aqui nas Olimpíadas, como sede, além do futebol.
As duas práticas, tão elegantes e saudáveis, podem e devem caminhar juntas.
* Lourenço Mueller é arquiteto e urbanista
Nenhum comentário:
Postar um comentário