terça-feira, 2 de agosto de 2011

Mario e oposição contra o resto?

Samuel Celestino*

O processo sucessório municipal de Salvador, já em fase avançada, ganha tintura que pressupõe muita emoção. Nota-se a aglutinação das forças oposicionistas do Estado para lançar um só candidato, o apresentador e ex-prefeito Mário Kertész, contra os situacionistas que orbitam, por ora, em torno de Nelson Pelegrino. O próprio petista, na sua quarta tentativa de chegar à prefeitura, está convencido de que o cenário parece sinalizar para um plebiscito que seria travado entre ele e Mário. Seria um fato inédito na recente política baiana.
O novo quadro partiu da movimentação do PMDB, essencialmente de Geddel Vieira Lima, que estruturou a idéia, mapeou todas as possibilidades e, a partir daí, deu início a uma série de reuniões com os partidos de oposição ao governo do Estado, basicamente o PSDB e o DEM, que parecem estar plenamente de acordo. Os encontros são constantes. Se, no início do processo Kertész negava a candidatura, agora não nega (nem afirma), mas aquiesce o seu acordo à estratégia apenas sorrindo. Evita falar sobre a questão até por não ser o momento adequado. Nem ele é tolo para se precipitar.
O movimento surpreendeu os governistas. O PMDB, leia-se Geddel Vieira Lima, tem certeza de que o governador Jaques Wagner não esperava pela manobra política. Pelo contrário, imaginava (e até poderá vir a acontecer) uma fragmentação de candidaturas o que favoreceria o PT e seus aliados. Seria, no entanto, necessário que a fragmentação ocorresse também entre os oposicionistas na medida em que num plebiscito a eleição terá apenas um turno.
Interessante é que a tese plebiscitária é vista por Nelson Pelegrino, mas não pela oposição que prefere se unir e observar seus adversários divididos, o que certamente acontecerá, na opinião de Geddel Vieira Lima. O seu raciocínio estriba-se na lógica segundo a qual alguns dos partidos hoje aliados ao governador Wagner (é um imenso arco) teriam que apresentar candidatos, sob pena de perder espaços políticos futuros em Salvador e no Estado. Essa perda daria um ganho para o PT, não para a oposição. Anota o peemedebista que se observa um esforço do PT para se transformar em legenda hegemônica na Bahia, transformando-se numa espécie de PFL à moda ACM, naturalmente com mudanças determinadas pelos novos tempos.
Portanto, de largada, há dois cenários vistos por um lado e pelo outro: Nelson Pelegrino observa um movimento na direção de um plebiscito, com dois candidatos em confronto. Os oposicionistas estão erigindo uma unidade de modo a apresentar Mário Kertész, nome que se consolida. Já os governistas tenderiam a se dividir.
Ainda acompanhando o raciocínio de Geddel, o político comprova a tese do divisionismo governista com a necessidade de o PCdoB lançar candidato (a deputada Alice Portugal), e o PP, que em sua opinião seguramente apresentará um nome pela necessidade de a legenda crescer na Bahia, onde cresce a olhos vistos. Não se deve esquecer o PSB. A senadora Lídice da Mata pensa na candidatura, assim como o presidente nacional da legenda, o governador pernambucano Eduardo Campos, pensa no Palácio do Planalto.
No final da semana, num acontecimento social muitíssimo concorrido, um bom observador notaria um fato político não explícito, mais visível: oposicionistas de diversos partidos se movimentavam praticamente juntos e se aglutinavam em conversas, aqui e ali. Claro que os assuntos estavam diversificados, até porque não cabia exclusividade à sucessão municipal, que, indiretamente, centralizava. Mário Kertész sequer conseguia permanecer sentado, conversava e ria.
Muito provavelmente, quando seu nome aflorou a partir de uma idéia do PMDB com Geddel à frente, o ex-prefeito e comunicador de início recusou a idéia. Mas, no decorrer de vários encontros, construiu-se a tese da aglutinação oposicionista tornando o panorama francamente favorável a ele. Já o PT terá dificuldades de fazer o mesmo.
E não pode fazer porque se, no momento, o governador Jaques Wagner controla e comando um extraordinário arco de apoio, o arco não é definitivo. Quem une (é sempre assim) é o poder, detentor do imã, da atração, da adesão interesseira. Isso é comum no sistema partidário brasileiro. O adesismo sobrevive porque, sem ele, os partidos pequenos que não têm princípios dogmáticos, muito menos ideologias (aliás, a ideologia da novíssima política brasileira é o poder, não as idéias. Todos são iguais perante a lei, o povo e, de resto, com aquilo que vocês, leitores, certamente estão pensando).
Para que se tenha uma exata noção dessa realidade, basta constatar que Wagner não fez esforço nenhum para atrair partidos, a não os que o acompanharam na campanha eleitoral. Os demais se aproximaram, após a vitória, como mariposas rodopiando em torno da lâmpada, apenas para lembrar de um verso do diferenciado sambista paulista (para mim o único), Adoniram Barbosa.
Enfim, para a oposição é mais indicado o processo aglutinador para que não seja dilacerada nas eleições de 2012 e a de 2014. Já o governo terá que convencer alguns partidos para que não lancem nomes à prefeitura de Salvador. É difícil. O futuro político, para me fixar no óbvio, será diferente do presente. Pelo menos essa é a lógica.
*Samuel Celestino é jornalista e articulista do jornal A TARDE, que originalmente publicou este artigo.

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