José de Freitas Mascarenhas*
Nada expressa melhor a qualidade da inteligência do homem do que sua capacidade de pensar e planejar para melhorar a sua condição terrena. Esse atributo que nos foi doado pela Natureza está sendo urgentemente solicitado para uso em Salvador. Estamos hoje condenando com veemência os nossos ascendentes porque não tiveram suficiente visão nem cuidaram adequadamente do planejamento de Salvador. No entanto, estamos incidindo no mesmo pecado, desleixando o cumprimento das nossas responsabilidades com o futuro dos nossos descendentes, que habitarão a nossa tão estimada cidade. Não fosse ainda o compromisso devido a nossa própria geração.
Complexa e caótica, a mobilidade urbana em Salvador e região metropolitana é um problema que se agrava exponencialmente pela falta de planejamento estratégico de longo prazo. Nos últimos anos, a população viu aumentar a restrição a sua capacidade de deslocamento dentro da cidade e no entorno. As pessoas passaram, involuntariamente, a produzir menos no mesmo espaço de tempo.
Todos conhecem os vários fatores que contribuem para esse cenário: infraestrutura viária saturada, expansão urbana desordenada, gestão ineficiente do sistema de transporte urbano. Mas, a ausência de um planejamento metropolitano é o fator preponderante por trás do conjunto das deficiências. Sem que houvesse um planejamento sólido no passado, a urbe sofre em agonia por um futuro incerto. E não adianta colocar esparadrapo nas feridas porque elas reabrirão adiante. Cuidar de uma ou duas pistas novas é bom para dar sobrevida à cidade, mas, em seguida, tudo voltará ao que era.
Proposições apressadas tentam compensar o atraso e prover soluções que aliviem o problema, até porque teremos eventos a agravar o quadro, como a Copa do Mundo de 2014 e a Copa das Confederações em 2013. BRTs, VLTs, metrôs, pontes, viadutos e pistas são soluções para o transporte, sim, mas quando partes de um sistema e não como simples ligação de um ponto A para outro B. Como se diz, é preciso cuidar do conjunto da floresta e não apenas de uma árvore.
Os terrenos infraestruturados a preços acessíveis se esgotam com rapidez, novamente empurrando a população de média e baixa renda para as moradias na periferia desassistida. A solução está na antecipação do futuro, planejando-o para a próxima geração, executando-o em partes. Há que se pensar em um planejamento integrado que, no mínimo, inclua Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho e Itaparica. Para tanto, é preciso buscar, por meio de uma concorrência, empresas internacionais com obrigação de associarem-se a consultorias nacionais, para executar esse planejamento, discutindo-o com a sociedade. Empresa internacional para que não venha impregnada da aceitação pacífica das nossas deficiências como se fossem atropelos naturais do nosso destino.
Esse plano vai custar muito? Certamente. Mas, quanto custarão as desapropriações para as pistas do sistema de transporte em áreas que não foram reservadas e são parte do mercado de preço livre? Este é exatamente um dos objetivos do plano: a marcação dos espaços non edificandi para uso futuro. Resultados dessa política podem ser vistos nas áreas industriais de Camaçari e do Centro Industrial de Aratu, que reservam terrenos para instalação de indústrias e outras atividades socialmente importantes. Foram planejadas.
O planejamento metropolitano que se tem em conta não é focado apenas no sistema físico dos transportes ainda que esta seja uma função básica, incluindo sua autoridade reguladora e seus mecanismos de controles eletrônicos de tráfego. Cuidará da seleção, especialização e reservas de áreas para as diversas funções urbanas especialmente a habitação buscando, no possível, o estabelecimento de zonas de sobrevivência autônomas para proporcionar melhor qualidade de vida aos futuros habitantes e menor pressão sobre o sistema de transporte.
Diz-se que as grandes decisões são sempre tomadas em momentos de crises. Entendo que este momento já começou a existir em Salvador.
* José de Freitas Mascarenhas é presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia - Artigo publicado no jornal A Tarde.
Nada expressa melhor a qualidade da inteligência do homem do que sua capacidade de pensar e planejar para melhorar a sua condição terrena. Esse atributo que nos foi doado pela Natureza está sendo urgentemente solicitado para uso em Salvador. Estamos hoje condenando com veemência os nossos ascendentes porque não tiveram suficiente visão nem cuidaram adequadamente do planejamento de Salvador. No entanto, estamos incidindo no mesmo pecado, desleixando o cumprimento das nossas responsabilidades com o futuro dos nossos descendentes, que habitarão a nossa tão estimada cidade. Não fosse ainda o compromisso devido a nossa própria geração.
Complexa e caótica, a mobilidade urbana em Salvador e região metropolitana é um problema que se agrava exponencialmente pela falta de planejamento estratégico de longo prazo. Nos últimos anos, a população viu aumentar a restrição a sua capacidade de deslocamento dentro da cidade e no entorno. As pessoas passaram, involuntariamente, a produzir menos no mesmo espaço de tempo.
Todos conhecem os vários fatores que contribuem para esse cenário: infraestrutura viária saturada, expansão urbana desordenada, gestão ineficiente do sistema de transporte urbano. Mas, a ausência de um planejamento metropolitano é o fator preponderante por trás do conjunto das deficiências. Sem que houvesse um planejamento sólido no passado, a urbe sofre em agonia por um futuro incerto. E não adianta colocar esparadrapo nas feridas porque elas reabrirão adiante. Cuidar de uma ou duas pistas novas é bom para dar sobrevida à cidade, mas, em seguida, tudo voltará ao que era.
Proposições apressadas tentam compensar o atraso e prover soluções que aliviem o problema, até porque teremos eventos a agravar o quadro, como a Copa do Mundo de 2014 e a Copa das Confederações em 2013. BRTs, VLTs, metrôs, pontes, viadutos e pistas são soluções para o transporte, sim, mas quando partes de um sistema e não como simples ligação de um ponto A para outro B. Como se diz, é preciso cuidar do conjunto da floresta e não apenas de uma árvore.
Os terrenos infraestruturados a preços acessíveis se esgotam com rapidez, novamente empurrando a população de média e baixa renda para as moradias na periferia desassistida. A solução está na antecipação do futuro, planejando-o para a próxima geração, executando-o em partes. Há que se pensar em um planejamento integrado que, no mínimo, inclua Salvador, Lauro de Freitas, Camaçari, Simões Filho e Itaparica. Para tanto, é preciso buscar, por meio de uma concorrência, empresas internacionais com obrigação de associarem-se a consultorias nacionais, para executar esse planejamento, discutindo-o com a sociedade. Empresa internacional para que não venha impregnada da aceitação pacífica das nossas deficiências como se fossem atropelos naturais do nosso destino.
Esse plano vai custar muito? Certamente. Mas, quanto custarão as desapropriações para as pistas do sistema de transporte em áreas que não foram reservadas e são parte do mercado de preço livre? Este é exatamente um dos objetivos do plano: a marcação dos espaços non edificandi para uso futuro. Resultados dessa política podem ser vistos nas áreas industriais de Camaçari e do Centro Industrial de Aratu, que reservam terrenos para instalação de indústrias e outras atividades socialmente importantes. Foram planejadas.
O planejamento metropolitano que se tem em conta não é focado apenas no sistema físico dos transportes ainda que esta seja uma função básica, incluindo sua autoridade reguladora e seus mecanismos de controles eletrônicos de tráfego. Cuidará da seleção, especialização e reservas de áreas para as diversas funções urbanas especialmente a habitação buscando, no possível, o estabelecimento de zonas de sobrevivência autônomas para proporcionar melhor qualidade de vida aos futuros habitantes e menor pressão sobre o sistema de transporte.
Diz-se que as grandes decisões são sempre tomadas em momentos de crises. Entendo que este momento já começou a existir em Salvador.
* José de Freitas Mascarenhas é presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia - Artigo publicado no jornal A Tarde.
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