João Carlos Teixeira Gomes*
Em meu último artigo, prometi que completaria minhas impressões da bela Turquia, mas fiz então nova viagem, dessa feita à Polônia, e, no retorno, demorei-me cerca de um mês em Salvador.
Confesso que não gostei do que vi.
Sem meios-termos, devo dizer que a cidade me pareceu tumultuada e, em alguns aspectos, em processo de degradação urbana.
Possuo meus próprios critérios de investigação e o mais óbvio é ouvir taxistas sobre a atuação dos governantes. Posso garantir que em Salvador Jaques Wagner (a reeleição já o havia provado) está em alta, mas o prefeito João Henrique recebeu condenação unânime. E não só entre os taxistas: o povo nas ruas o desaprova. Muitas pessoas me disseram que hoje ele não mais se elegeria. Não foi à-toa que foi escolhido o pior prefeito do Brasil.
Várias são as críticas ao prefeito, a maioria se concentrando no problema do metrô.
Não custa lembrar que esse foi um reiterado item de campanha eleitoral, sempre descumprido. Há um detalhe que não pode ser omitido: Salvador talvez seja a única cidade do mundo em que o metrô, em vez de ser subterrâneo ou de superfície, é aéreo! Refiro-me, obviamente, à inconcebível linha do Bonocô. Abro meus artigos para alguém que possa me explicar por que, com tantos espaços nos canteiros das avenidas de vale, Salvador teve que construir uma longa linha de metrô elevado, montado sobre pilares e estruturas custosas.
É claro que João Henrique não pode ser responsabilizado por essa parte das obras, anteriores à sua administração, mas a ineficiência com que vem se conduzindo em relação ao resto do percurso e ao início do funcionamento do modesto trem urbano da Bahia é espantosa. Vários cidadãos me disseram: ele exibiu os vagões nos trilhos para se reeleger e depois deu sumiço em todos! Mas não é só isto: a desordem das construções na capital baiana é evidente. A orla marítima, urbanizada pelo pai do atual prefeito, está tomada pelo mato alto e horrendas construções em decadência, com destaque para o constrangedor monstrengo visual em que se transformou o Aeroclube Plaza. Em qualquer outra cidade do mundo, a prefeitura zelaria para que fosse a mais bela e nobre das áreas urbanas, à beira-mar plantada. Na Bahia, virou o símbolo da desorientação e da ineficiência administrativa.
Zonas de densa vegetação são hoje devastadas com o consentimento da prefeitura, tal como ocorreu com o Horto Florestal (li protestos em A TARDE), para dar lugar a gigantescos espigões, que, aliás, marcam agora, na atual gestão municipal, todos os pontos da cidade, gerando um aspecto atordoante para o visitante e torturante para o morador. Que será do futuro da cidade diante desse caos anunciado? O que a Bahia tem hoje de melhor deve exclusivamente à iniciativa privada, a exemplo do magnífico Salvador Shopping e outras obras enriquecedoras do tecido urbano, responsáveis pela dinamização dos acessos viários, pois a prefeitura, no particular, já no segundo mandato de João Henrique, nada fez de significativo. Não foi capaz sequer de aperfeiçoar o escoamento do tráfego que sai do shopping na direção da Avenida Tancredo Neves, outra área prematuramente degradada, pois, longe de ser a grande avenida de convivência social da Bahia moderna, é apenas uma estrada de rodagem de segunda categoria, frequentemente tumultuada (como toda a cidade) por um tráfego desordenado e infernal.
João Ubaldo Ribeiro me confessou que não vai mais à Bahia porque não há mais ruas para andar. Acha que a cidade ficou intransitável.
Salvador não é mais uma cidade para pedestres.
Não espanta que o Tribunal de Contas tenha rejeitado, unanimemente, as contas de João Henrique. Em suma, o prefeito, do qual tanto se esperava como liderança política nova, paga hoje o preço de ter eliminado da sua convivência elementos que foram decisivos para a sua condução ao poder e seriam relevantes, sem dúvida, para o seu desempenho. Mal dirigida, a nau municipal afunda, com a cidade levada no torvelinho do caos urbano e da falta de planejamento.
*João Carlos Teixeira Gomes é Jornalista, membro da Academia de Letras da Bahia. Foi editor do Jornal da Bahia
Em meu último artigo, prometi que completaria minhas impressões da bela Turquia, mas fiz então nova viagem, dessa feita à Polônia, e, no retorno, demorei-me cerca de um mês em Salvador.
Confesso que não gostei do que vi.
Sem meios-termos, devo dizer que a cidade me pareceu tumultuada e, em alguns aspectos, em processo de degradação urbana.
Possuo meus próprios critérios de investigação e o mais óbvio é ouvir taxistas sobre a atuação dos governantes. Posso garantir que em Salvador Jaques Wagner (a reeleição já o havia provado) está em alta, mas o prefeito João Henrique recebeu condenação unânime. E não só entre os taxistas: o povo nas ruas o desaprova. Muitas pessoas me disseram que hoje ele não mais se elegeria. Não foi à-toa que foi escolhido o pior prefeito do Brasil.
Várias são as críticas ao prefeito, a maioria se concentrando no problema do metrô.
Não custa lembrar que esse foi um reiterado item de campanha eleitoral, sempre descumprido. Há um detalhe que não pode ser omitido: Salvador talvez seja a única cidade do mundo em que o metrô, em vez de ser subterrâneo ou de superfície, é aéreo! Refiro-me, obviamente, à inconcebível linha do Bonocô. Abro meus artigos para alguém que possa me explicar por que, com tantos espaços nos canteiros das avenidas de vale, Salvador teve que construir uma longa linha de metrô elevado, montado sobre pilares e estruturas custosas.
É claro que João Henrique não pode ser responsabilizado por essa parte das obras, anteriores à sua administração, mas a ineficiência com que vem se conduzindo em relação ao resto do percurso e ao início do funcionamento do modesto trem urbano da Bahia é espantosa. Vários cidadãos me disseram: ele exibiu os vagões nos trilhos para se reeleger e depois deu sumiço em todos! Mas não é só isto: a desordem das construções na capital baiana é evidente. A orla marítima, urbanizada pelo pai do atual prefeito, está tomada pelo mato alto e horrendas construções em decadência, com destaque para o constrangedor monstrengo visual em que se transformou o Aeroclube Plaza. Em qualquer outra cidade do mundo, a prefeitura zelaria para que fosse a mais bela e nobre das áreas urbanas, à beira-mar plantada. Na Bahia, virou o símbolo da desorientação e da ineficiência administrativa.
Zonas de densa vegetação são hoje devastadas com o consentimento da prefeitura, tal como ocorreu com o Horto Florestal (li protestos em A TARDE), para dar lugar a gigantescos espigões, que, aliás, marcam agora, na atual gestão municipal, todos os pontos da cidade, gerando um aspecto atordoante para o visitante e torturante para o morador. Que será do futuro da cidade diante desse caos anunciado? O que a Bahia tem hoje de melhor deve exclusivamente à iniciativa privada, a exemplo do magnífico Salvador Shopping e outras obras enriquecedoras do tecido urbano, responsáveis pela dinamização dos acessos viários, pois a prefeitura, no particular, já no segundo mandato de João Henrique, nada fez de significativo. Não foi capaz sequer de aperfeiçoar o escoamento do tráfego que sai do shopping na direção da Avenida Tancredo Neves, outra área prematuramente degradada, pois, longe de ser a grande avenida de convivência social da Bahia moderna, é apenas uma estrada de rodagem de segunda categoria, frequentemente tumultuada (como toda a cidade) por um tráfego desordenado e infernal.
João Ubaldo Ribeiro me confessou que não vai mais à Bahia porque não há mais ruas para andar. Acha que a cidade ficou intransitável.
Salvador não é mais uma cidade para pedestres.
Não espanta que o Tribunal de Contas tenha rejeitado, unanimemente, as contas de João Henrique. Em suma, o prefeito, do qual tanto se esperava como liderança política nova, paga hoje o preço de ter eliminado da sua convivência elementos que foram decisivos para a sua condução ao poder e seriam relevantes, sem dúvida, para o seu desempenho. Mal dirigida, a nau municipal afunda, com a cidade levada no torvelinho do caos urbano e da falta de planejamento.
*João Carlos Teixeira Gomes é Jornalista, membro da Academia de Letras da Bahia. Foi editor do Jornal da Bahia
**Artigo publicado originalmente no jornal A Tarde
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