Ruben Siqueira*
Não muito distante no tempo, o baiano se questionava sobre o isolamento do condomínio Flamboyant, quase engolido pelo verde na pouco habitada Av. Paralela. Hoje essa “pré-ocupação” foi substituída por outras inquietações. A expansão indiscriminada das fronteiras de Salvador, impulsionada pelo aumento da industrialização e da urbanização dos últimos anos, tem estimulado a especulação imobiliária, provocando impactos sócio-ambientais, como mudanças no clima urbano e na qualidade de vida da população.
Em 2008, dados do IBGE já apontavam Salvador como a capital de maior densidade demográfica do país (9.087 pessoas por km²). O superpovoamento traz diversos problemas urbanísticos, sobretudo nas áreas mais carentes da cidade, onde o percentual de habitantes por quilômetro quadrado é ainda maior, gerando sérios obstáculos no acesso à infraestrutura e outros serviços.
Não muito distante no tempo, o baiano se questionava sobre o isolamento do condomínio Flamboyant, quase engolido pelo verde na pouco habitada Av. Paralela. Hoje essa “pré-ocupação” foi substituída por outras inquietações. A expansão indiscriminada das fronteiras de Salvador, impulsionada pelo aumento da industrialização e da urbanização dos últimos anos, tem estimulado a especulação imobiliária, provocando impactos sócio-ambientais, como mudanças no clima urbano e na qualidade de vida da população.
Em 2008, dados do IBGE já apontavam Salvador como a capital de maior densidade demográfica do país (9.087 pessoas por km²). O superpovoamento traz diversos problemas urbanísticos, sobretudo nas áreas mais carentes da cidade, onde o percentual de habitantes por quilômetro quadrado é ainda maior, gerando sérios obstáculos no acesso à infraestrutura e outros serviços.
“O descontrole da ocupação repercute em questões ambientais e sociais não só em Salvador, mas em toda a Região Metropolitana, que não é pensada. Este é um dos maiores desastres ambientais causados pela administração negligente do poder público”, disse Agostinho Muniz, jornalista, advogado e ex-integrante do Conselho de Desenvolvimento Urbano (Condurb). “E outros prejuízos vão se agravar em breve”, alertou em reportagem do jornal Bahia Norte.
O norte do desenvolvimento
“O Vetor Norte é o filé mingnon dessa expansão. As empreiteiras já chegaram a Lauro de Freitas invadindo zonas litorâneas como Vilas do Atlântico e Buraquinho, um dos pontos mais bonitos da Região Metropolitana. E a natureza já sente os impactos desse ‘êxodo capitalista’. Existem muitos empresários de olho nisso aqui. Planos para restaurantes, resorts e até um centro de convenções a beira-mar. Os projetos são muito caros e bonitos, mas na maioria das vezes licenciados de forma simplificada, o que os torna questionáveis pelo aspecto sustentável,” disse um funcionário da prefeitura de Lauro de Freitas que preferiu não se identificar.
Enquanto falava, o funcionário apontava para o condomínio Brisa Mar, erguido sobre uma área de mangue, que ainda o circunda, e às margens do rio Joanes. “A praia virou o quintal da casa deles”, disse Aroldo Silveira, barraqueiro em Buraquinho e ativista ambiental. Só entre os 2,7 km entre a Estrada do Coco e a praia, há pelo menos mais de cinco edificações em construção.
“O poder público não tem sido capaz de responder a essa demanda crescente, de atuar como mediador e regulador entre as pendências e as possibilidades de oferta, nem mesmo a que pode advir da iniciativa privada. Por isso falta saneamento, transporte, educação, assistência à saúde, etc.”, observa Floriano Amoedo, arquiteto, urbanista e conselheiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
O centro da bússola
A Paralela de hoje é vitrine de mega empreendimentos que chamam a atenção de quem passa. Alguns são arquipélagos residenciais: condomínios fechados que reúnem trabalho, diversão e moradia no mesmo lugar, como o Manhattan Square.
Segundo o site do Manhattan Wall Street Empresarial, um dos projetos do empreendimento, “A região da Paralela tem hoje mais de 300 mil moradores. Mais de 6 mil novas unidades residenciais. 30 mil estudantes universitários. Mais de 2 mil alunos de escolas particulares. São milhares de pessoas esperando para virar clientes”. (http://www.oasgafisa.com.br/manhattan/wall_street.php)
“O governo municipal só parece preocupado em facilitar as coisas para os empresários, seja qual for o custo resultante para a população e o efeito sobre a cidade como um todo”, pensa Ordep Serra, antropólogo, pesquisador, professor da UFBA e integrante de movimentos da sociedade civil organizada, como o fórum “A Cidade Também é Nossa”
Alguns condomínios sofreram consequências pela ocupação dos espaços de Mata Atlântica. O Alphaville, onde o prefeito João Henrique residia, foi assolado por barbeiros, escorpiões e outros animais endêmicos da mata destruída. O fato foi notícia nos principais jornais em outubro de 2008.
Mudança Climática
A orla é outro ponto visível de crescimento. Só no trecho entre Jardim de Alah e Aeroclube, mais de dez esqueletos de concreto vão tomando corpo.
Segundo alguns urbanistas, se não houver maiores cuidados e uma atenção sobre a altura e a distância entre os prédios, essa verticalização da cidade poderá criar barreiras para os corredores de ar que canalizam os ventos soprados do litoral para dentro da área urbana, e trazer efeitos climáticos, como a formação de “ilhas de calor”.
Esse fenômeno climático que já acontece em outras cidades, como o Rio de Janeiro, é provocado pela grande quantidade de asfalto e concreto em detrimento de áreas verdes, que concentram o calor mais intensamente e por mais tempo, dissipando a umidade relativa do ar.
Para os especialistas, a alternativa é repensar a logística urbana a fim de integrar Salvador e Região Metropolitana como um todo. “Somente um processo que envolva a gestão democrática das cidades, com base num planejamento sistêmico, poderá garantir o retorno dos investimentos para a melhoria da qualidade de vida de todos”, ressalta Amoedo.
Desenvolvimento e meio ambiente deveriam jogar lado a lado. Porém, a atual política pública do município, que facilita a expansão do mercado imobiliário, parece promover exatamente o contrário. “A devastação ambiental é séria e se não for contida logo cobrará um terrível preço às gerações futuras”, completa Serra.
* Sociólogo do CPT-Ba. Artigo publicado no site EcoDebate, 30/11/2010
O norte do desenvolvimento
“O Vetor Norte é o filé mingnon dessa expansão. As empreiteiras já chegaram a Lauro de Freitas invadindo zonas litorâneas como Vilas do Atlântico e Buraquinho, um dos pontos mais bonitos da Região Metropolitana. E a natureza já sente os impactos desse ‘êxodo capitalista’. Existem muitos empresários de olho nisso aqui. Planos para restaurantes, resorts e até um centro de convenções a beira-mar. Os projetos são muito caros e bonitos, mas na maioria das vezes licenciados de forma simplificada, o que os torna questionáveis pelo aspecto sustentável,” disse um funcionário da prefeitura de Lauro de Freitas que preferiu não se identificar.
Enquanto falava, o funcionário apontava para o condomínio Brisa Mar, erguido sobre uma área de mangue, que ainda o circunda, e às margens do rio Joanes. “A praia virou o quintal da casa deles”, disse Aroldo Silveira, barraqueiro em Buraquinho e ativista ambiental. Só entre os 2,7 km entre a Estrada do Coco e a praia, há pelo menos mais de cinco edificações em construção.
“O poder público não tem sido capaz de responder a essa demanda crescente, de atuar como mediador e regulador entre as pendências e as possibilidades de oferta, nem mesmo a que pode advir da iniciativa privada. Por isso falta saneamento, transporte, educação, assistência à saúde, etc.”, observa Floriano Amoedo, arquiteto, urbanista e conselheiro do Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
O centro da bússola
A Paralela de hoje é vitrine de mega empreendimentos que chamam a atenção de quem passa. Alguns são arquipélagos residenciais: condomínios fechados que reúnem trabalho, diversão e moradia no mesmo lugar, como o Manhattan Square.
Segundo o site do Manhattan Wall Street Empresarial, um dos projetos do empreendimento, “A região da Paralela tem hoje mais de 300 mil moradores. Mais de 6 mil novas unidades residenciais. 30 mil estudantes universitários. Mais de 2 mil alunos de escolas particulares. São milhares de pessoas esperando para virar clientes”. (http://www.oasgafisa.com.br/manhattan/wall_street.php)
“O governo municipal só parece preocupado em facilitar as coisas para os empresários, seja qual for o custo resultante para a população e o efeito sobre a cidade como um todo”, pensa Ordep Serra, antropólogo, pesquisador, professor da UFBA e integrante de movimentos da sociedade civil organizada, como o fórum “A Cidade Também é Nossa”
Alguns condomínios sofreram consequências pela ocupação dos espaços de Mata Atlântica. O Alphaville, onde o prefeito João Henrique residia, foi assolado por barbeiros, escorpiões e outros animais endêmicos da mata destruída. O fato foi notícia nos principais jornais em outubro de 2008.
Mudança Climática
A orla é outro ponto visível de crescimento. Só no trecho entre Jardim de Alah e Aeroclube, mais de dez esqueletos de concreto vão tomando corpo.
Segundo alguns urbanistas, se não houver maiores cuidados e uma atenção sobre a altura e a distância entre os prédios, essa verticalização da cidade poderá criar barreiras para os corredores de ar que canalizam os ventos soprados do litoral para dentro da área urbana, e trazer efeitos climáticos, como a formação de “ilhas de calor”.
Esse fenômeno climático que já acontece em outras cidades, como o Rio de Janeiro, é provocado pela grande quantidade de asfalto e concreto em detrimento de áreas verdes, que concentram o calor mais intensamente e por mais tempo, dissipando a umidade relativa do ar.
Para os especialistas, a alternativa é repensar a logística urbana a fim de integrar Salvador e Região Metropolitana como um todo. “Somente um processo que envolva a gestão democrática das cidades, com base num planejamento sistêmico, poderá garantir o retorno dos investimentos para a melhoria da qualidade de vida de todos”, ressalta Amoedo.
Desenvolvimento e meio ambiente deveriam jogar lado a lado. Porém, a atual política pública do município, que facilita a expansão do mercado imobiliário, parece promover exatamente o contrário. “A devastação ambiental é séria e se não for contida logo cobrará um terrível preço às gerações futuras”, completa Serra.
* Sociólogo do CPT-Ba. Artigo publicado no site EcoDebate, 30/11/2010
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