O prefeito da cidade de Roterdã, na Holanda, Ahmed Aboutaleb (foto), visitou São Paulo na semana passada. Roterdã é a segunda maior cidade holandesa e abriga o maior porto da Europa. Gilberto Kassab convidou Aboutaleb para o próximo encontro do C40 - cúpula que reúne administradores das principais cidades do mundo para discutir questões climáticas. O evento será realizado na capital paulista no próximo semestre. O prefeito holandês de origem marroquina falou ao Estado sobre o encontro em São Paulo e sobre a conferência de Cancún.
E: O que é o C40?
Ahmed: O C40 é uma importante iniciativa financiada pelo ex-presidente americano Bill Clinton. Para combater as mudanças climáticas, ele reúne várias cidades. Cerca de 50% das pessoas no mundo vivem na zona urbana e o número deve crescer em um futuro próximo. O C40 acelera o modo como as cidades fazem políticas sobre o clima. No ano passado, houve uma grande expectativa relacionada a um acordo mundial na conferência do clima em Copenhague. Ele não se concretizou. Mas muitas coisas estão acontecendo nas cidades. Elas sentem necessidade de atuar, não só por razões de saúde pública. Realmente acredito que as grandes cidades que não agarrarem as oportunidades de desenvolvimento tecnológico trazidas pelas mudanças climáticas vão perder o jogo econômico a longo prazo. Não estamos falando só de clima, saúde ou ar puro: também é uma questão de economia, renda e emprego.
E: Há resultados tangíveis das reuniões anteriores do C40 em Londres (2003), Nova Iorque (2005) e Seul (2009)?
A: Mais do que ações concretas, as reuniões geram comprometimento. Cito como exemplo a minha cidade. Temos o compromisso de atuar em várias frentes. Estamos desenvolvendo tecnologia para reunir as emissões de centrais de energia e fábricas químicas, transportá-las por tubulações para armazená-las em velhos campos de óleo no Mar do Norte. Contamos com financiamento da União Europeia e do governo central holandês. Além disso, geramos mais de 350 megawatts de eletricidade por moinhos de vento, o que corresponde a 50% do consumo da cidade. E estamos investindo o máximo dinheiro possível - com o apoio do governo central - para fazer com que toda a energia consumida venha de matriz eólica. Temos também fábricas que produzem mais calor do que precisam. Este excedente é usado para aquecer água que é transportada para a cidade e usada no aquecimento das residências, economizando gás e eletricidade. Também canalizamos o gás carbônico produzido nas fábricas para ser usado em lavouras dentro de estufas, onde é utilizado pelas plantas na fotossíntese. Trocamos a iluminação pública por leds que são mais eficientes. Enfim, há várias iniciativas. Clinton calculou que ao investir um bilhão de dólares construindo uma termoelétrica tradicional a carvão, 800 postos de trabalho são criados. Ao investir a mesma quantia reformando prédios para torná-los mais eficientes do ponto de vista do consumo de energia, você gera seis mil postos de trabalho. É uma diferença enorme.
E: Quais são as expectativas para o próximo encontro do C40 em São Paulo?
A: São grandes. Os desafios variam de país para país. Nós, por exemplo, não temos carros a etanol como alternativa para mitigar as emissões. Quero conhecer estratégias usadas em outros lugares do mundo. Entendo perfeitamente os problemas enfrentados por países como China, Índia e Brasil: necessitam crescer para alimentar suas populações e é impossível fazer isso sem aumentar as emissões. Mas convém investir parte dos ganhos com o crescimento econômico no combate ao aquecimento. Um cientista holandês nos anos 90 argumentava que deveríamos utilizar 10% do crescimento econômico nacional para aprimorar a tecnologia relacionada às questões climáticas. Devemos investir em fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a água... muitos esforços devem ser feitos.
E: Quais são suas expectativas para Cancún?
A: O mundo deve agir. Será muito frustrante se Cancún, depois de Copenhague, não trouxer resultados práticos. As grandes economias devem trabalhar juntas para chegar a um consenso. Se não, será uma vergonha para o mundo. É algo que tem a ver com liderança e responsabilidade. E liderança é responsabilidade. Mas sou realista o suficiente para saber que as prioridades são diferentes para cada um. Os interesses também. Não me considero um pessimista, mas já ficaria muito contente se chegassem a um acordo.
* Jornalista - O Estado de S. PauloE: O que é o C40?
Ahmed: O C40 é uma importante iniciativa financiada pelo ex-presidente americano Bill Clinton. Para combater as mudanças climáticas, ele reúne várias cidades. Cerca de 50% das pessoas no mundo vivem na zona urbana e o número deve crescer em um futuro próximo. O C40 acelera o modo como as cidades fazem políticas sobre o clima. No ano passado, houve uma grande expectativa relacionada a um acordo mundial na conferência do clima em Copenhague. Ele não se concretizou. Mas muitas coisas estão acontecendo nas cidades. Elas sentem necessidade de atuar, não só por razões de saúde pública. Realmente acredito que as grandes cidades que não agarrarem as oportunidades de desenvolvimento tecnológico trazidas pelas mudanças climáticas vão perder o jogo econômico a longo prazo. Não estamos falando só de clima, saúde ou ar puro: também é uma questão de economia, renda e emprego.
E: Há resultados tangíveis das reuniões anteriores do C40 em Londres (2003), Nova Iorque (2005) e Seul (2009)?
A: Mais do que ações concretas, as reuniões geram comprometimento. Cito como exemplo a minha cidade. Temos o compromisso de atuar em várias frentes. Estamos desenvolvendo tecnologia para reunir as emissões de centrais de energia e fábricas químicas, transportá-las por tubulações para armazená-las em velhos campos de óleo no Mar do Norte. Contamos com financiamento da União Europeia e do governo central holandês. Além disso, geramos mais de 350 megawatts de eletricidade por moinhos de vento, o que corresponde a 50% do consumo da cidade. E estamos investindo o máximo dinheiro possível - com o apoio do governo central - para fazer com que toda a energia consumida venha de matriz eólica. Temos também fábricas que produzem mais calor do que precisam. Este excedente é usado para aquecer água que é transportada para a cidade e usada no aquecimento das residências, economizando gás e eletricidade. Também canalizamos o gás carbônico produzido nas fábricas para ser usado em lavouras dentro de estufas, onde é utilizado pelas plantas na fotossíntese. Trocamos a iluminação pública por leds que são mais eficientes. Enfim, há várias iniciativas. Clinton calculou que ao investir um bilhão de dólares construindo uma termoelétrica tradicional a carvão, 800 postos de trabalho são criados. Ao investir a mesma quantia reformando prédios para torná-los mais eficientes do ponto de vista do consumo de energia, você gera seis mil postos de trabalho. É uma diferença enorme.
E: Quais são as expectativas para o próximo encontro do C40 em São Paulo?
A: São grandes. Os desafios variam de país para país. Nós, por exemplo, não temos carros a etanol como alternativa para mitigar as emissões. Quero conhecer estratégias usadas em outros lugares do mundo. Entendo perfeitamente os problemas enfrentados por países como China, Índia e Brasil: necessitam crescer para alimentar suas populações e é impossível fazer isso sem aumentar as emissões. Mas convém investir parte dos ganhos com o crescimento econômico no combate ao aquecimento. Um cientista holandês nos anos 90 argumentava que deveríamos utilizar 10% do crescimento econômico nacional para aprimorar a tecnologia relacionada às questões climáticas. Devemos investir em fontes alternativas de energia, como a solar, a eólica e a água... muitos esforços devem ser feitos.
E: Quais são suas expectativas para Cancún?
A: O mundo deve agir. Será muito frustrante se Cancún, depois de Copenhague, não trouxer resultados práticos. As grandes economias devem trabalhar juntas para chegar a um consenso. Se não, será uma vergonha para o mundo. É algo que tem a ver com liderança e responsabilidade. E liderança é responsabilidade. Mas sou realista o suficiente para saber que as prioridades são diferentes para cada um. Os interesses também. Não me considero um pessimista, mas já ficaria muito contente se chegassem a um acordo.
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