O antropólogo Vivaldo da Costa Lima, Professor Emérito e docente aposentado da UFBA, um dos fundadores do Centro de Estudos Afro-Orientais (CEAO), um dos principais estudiosos da cultura africana na Bahia, ao lado do francês Pierre Verger, faleceu na madrugada de quarta-feira (22 de setembro), na Fundação Baiana de Cardiologia, onde estava internado. O sepultamento foi no Cemitério do Campo Santo.
Vivaldo foi também diretor do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), sendo um dos principais responsáveis pelas obras de recuperação do Pelourinho.
Nasceu em Feira de Santana, Bahia, no dia 10 de abril de 1925. Graduou-se em Odontologia, profissão que exerceu por pouco tempo, como resultado de sua paixão pelos estudos antropológicos.
Sofisticadamente erudito e conhecedor do pensamento antropológico de matriz europeia, compartilhou com George Agostinho da Silva a criação do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA em 1959.
Cedo seguiu para a África, onde tornou-se Leitor de Estudos Brasileiros, na Universidade de Ibadan, na Nigéria e na Universidade de Gana. Em 1966, substituiu o professor Thales de Azevedo, na cadeira de Antropologia, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.
Vivaldo não seria apenas o acadêmico, ele queria interferir na realidade e assim tornou-se fundador e Diretor da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, inicialmente voltada para a restauração e valorização do Pelourinho em Salvador.
Foi responsável por romper com a mentalidade de restauração do patrimônio urbano com exclusão social, criando no Pelourinho o que denominava uma “universidade do fazer”, aliando teoria e prática, envolvendo uma equipe multidisciplinar composta por arquitetos, educadores, restauradores, assim como antropólogos e médicos, entre outros profissionais.
Mais que um professor, Mestre de Gerações, pois, como repetia: ensinar, transmitir conhecimento era fundamental a sua vida. Suas aulas, palestras, conferências sempre foram conduzidas com rigorosa indisciplina.
Cada texto, cuidadosamente elaborado com se fosse para ser submetido a um periódico de primeira linha, tinha sua leitura intercalada por comentários e referências que aprofundavam cada frase, cada ideia, cada achado, impressionando a todos que o ouviam e prendendo a atenção de estudantes, colegas, leigos. Todos mimetizados por sua retórica e sempre perfeitamente colocados comentários, com pitadas de ironia e tempo perfeitamente calculado para aguçar a curiosidade intelectual dos que o ouviam.
Aulas memoráveis, em todos os sentidos, até no destempero das palavras e imprevisibilidade do curso que tomariam!…. Todas, contudo, críticas, instigantes, desafiadoras!…
Continuam a reverberar nos ouvidos e sentimentos dos que foram docemente desafiados e agredidos por suas ideias. Personalizava a relação com cada estudante, perguntava e comentava sobre suas genealogias, relações familiares, ascendentes e descendentes; ao encontrar seus amigos e ex-alunos a pergunta sobre a família, pais, irmãos, esposas, filhos era feita de maneira sempre esperada, mas, surpreendente.
Em 2005, quando completou 80 anos foi homenageado por seus discípulos com a realização de um evento que trouxe a Salvador vários de seus amigos e admiradores para falar sobre seu trabalho. Agradeceu a homenagem com a magistral e inesquecível conferência em que reconstruiu a história social da alimentação na Bahia com o Acarajé como parte da culinária afro-baiana.
Foi homenageado com título de Professor Emérito pela UFBA e recebeu a Medalha Roquette Pinto da ABA por sua destacada contribuição para o campo da Antropologia.
Avesso a finalizações, escreveu e re-escreveu muito, mas privou os que conheciam e desejavam ler seus trabalhos de fazê-lo publicando só esparsamente e, quase sempre, textos “tomados” de suas mãos por outros que, muitas vezes, contra sua vontade pois sempre considerava todos inacabados, os levaram a publicação.
Destaca-se de sua produção intelectual o clássico sobre a Família-de-santo no Candomblé Gêge Nagô que tem reconhecimento nacional e internacional.
Nos últimos anos dedicou-se aos estudos de Antropologia da Alimentação, temática que dominava como poucos. Preparava vários livros para publicação através da Editora Corrupio.
*Peter Fry , é antropólogo e professor da Ufba
Vivaldo foi também diretor do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (IPAC), sendo um dos principais responsáveis pelas obras de recuperação do Pelourinho.
Nasceu em Feira de Santana, Bahia, no dia 10 de abril de 1925. Graduou-se em Odontologia, profissão que exerceu por pouco tempo, como resultado de sua paixão pelos estudos antropológicos.
Sofisticadamente erudito e conhecedor do pensamento antropológico de matriz europeia, compartilhou com George Agostinho da Silva a criação do Centro de Estudos Afro-Orientais da UFBA em 1959.
Cedo seguiu para a África, onde tornou-se Leitor de Estudos Brasileiros, na Universidade de Ibadan, na Nigéria e na Universidade de Gana. Em 1966, substituiu o professor Thales de Azevedo, na cadeira de Antropologia, na Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas da UFBA.
Vivaldo não seria apenas o acadêmico, ele queria interferir na realidade e assim tornou-se fundador e Diretor da Fundação do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia, inicialmente voltada para a restauração e valorização do Pelourinho em Salvador.
Foi responsável por romper com a mentalidade de restauração do patrimônio urbano com exclusão social, criando no Pelourinho o que denominava uma “universidade do fazer”, aliando teoria e prática, envolvendo uma equipe multidisciplinar composta por arquitetos, educadores, restauradores, assim como antropólogos e médicos, entre outros profissionais.
Mais que um professor, Mestre de Gerações, pois, como repetia: ensinar, transmitir conhecimento era fundamental a sua vida. Suas aulas, palestras, conferências sempre foram conduzidas com rigorosa indisciplina.
Cada texto, cuidadosamente elaborado com se fosse para ser submetido a um periódico de primeira linha, tinha sua leitura intercalada por comentários e referências que aprofundavam cada frase, cada ideia, cada achado, impressionando a todos que o ouviam e prendendo a atenção de estudantes, colegas, leigos. Todos mimetizados por sua retórica e sempre perfeitamente colocados comentários, com pitadas de ironia e tempo perfeitamente calculado para aguçar a curiosidade intelectual dos que o ouviam.
Aulas memoráveis, em todos os sentidos, até no destempero das palavras e imprevisibilidade do curso que tomariam!…. Todas, contudo, críticas, instigantes, desafiadoras!…
Continuam a reverberar nos ouvidos e sentimentos dos que foram docemente desafiados e agredidos por suas ideias. Personalizava a relação com cada estudante, perguntava e comentava sobre suas genealogias, relações familiares, ascendentes e descendentes; ao encontrar seus amigos e ex-alunos a pergunta sobre a família, pais, irmãos, esposas, filhos era feita de maneira sempre esperada, mas, surpreendente.
Em 2005, quando completou 80 anos foi homenageado por seus discípulos com a realização de um evento que trouxe a Salvador vários de seus amigos e admiradores para falar sobre seu trabalho. Agradeceu a homenagem com a magistral e inesquecível conferência em que reconstruiu a história social da alimentação na Bahia com o Acarajé como parte da culinária afro-baiana.
Foi homenageado com título de Professor Emérito pela UFBA e recebeu a Medalha Roquette Pinto da ABA por sua destacada contribuição para o campo da Antropologia.
Avesso a finalizações, escreveu e re-escreveu muito, mas privou os que conheciam e desejavam ler seus trabalhos de fazê-lo publicando só esparsamente e, quase sempre, textos “tomados” de suas mãos por outros que, muitas vezes, contra sua vontade pois sempre considerava todos inacabados, os levaram a publicação.
Destaca-se de sua produção intelectual o clássico sobre a Família-de-santo no Candomblé Gêge Nagô que tem reconhecimento nacional e internacional.
Nos últimos anos dedicou-se aos estudos de Antropologia da Alimentação, temática que dominava como poucos. Preparava vários livros para publicação através da Editora Corrupio.
*Peter Fry , é antropólogo e professor da Ufba
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