Às vésperas da eleição, uma enorme vontade de falar sobre a pobreza política que nos assola me veio à mente. Mas o nível de ridículo a que se chegou a política, e a forma vulgar como o assunto passou a ser tratado desmereceram, pra mim, um espaço de discussão.
Enquanto pensava nisso, andava pela cidade de carro com uma reflexão que há tempos venho amadurecendo sobre um comparativo entre a relação do homem com o trânsito e com a cidade. Mais animado ainda fiquei quando soube de um novo livro do antropólogo Roberto DaMatta tratando sobre o tema.
Gentileza gera gentileza. E esse é um dos fundamentos do trânsito que são mais desrespeitados. O soteropolitano dificilmente desacelera o carro pra alguém sair da garagem ou pra que alguém passe em sua frente por necessidade de entrar numa rua ou retorno. Parece que fere a masculinidade (tanto do homem quanto da mulher, no sentido figurado do termo) de quem dirige. Ser ultrapassado, dar passagem é humilhante. Você pode não estar com pressa, pode até andar a 60km/h, mas ao ver a possibilidade de ser ultrapassado, a chance de dar passagem, a situação de alguém saindo da garagem, acelera-se a 80km/h sem piedade.
O descompromisso com o outro também é evidenciado ao não se ligar o pisca alerta para se mudar de pista, entrar nalguma rua ou estacionar. Esse aviso serve a quem vem atrás, ao pedestre que aguarda algum sinal pra saber se pode atravessar, e é comumente ignorado porque o soteropolitano é esperto, ágil e o outro que se dane; faço minha manobra a hora que eu quiser e quem bate no fundo perde a razão e quem morre atropelado é o outro.
Não existe coisa mais irritante, também, do que ver o motorista que, numa pista de 70km/h, anda a 50km/h na pista da esquerda; que é a de velocidade. As pessoas além de descumprirem uma regra, ainda se colocam na postura de “olha como esse irresponsável quer correr, enquanto eu estou correto em dirigir lentamente”. Ora, a pista da esquerda é para ultrapassagem e para a mais alta velocidade permitida pela placa do local. E para completar, diversos são os motoristas que só resolvem passar pra pista correta – a que ele vai precisar estar para entrar numa rua, pra fazer um desvio, pra estacionar – na última hora. Com isso, o trânsito é amarrado. São seguidos os engarrafamentos aparentemente inexplicáveis oriundos de maus e/ou irresponsáveis condutores.
Abrir a janela do carro pra jogar papel fora nem se fala. Parece que o sujeito se sente em seu mundo, dentro do veículo, e o exterior é um limbo abjeto e que não lhe pertence. Se começarmos a somar a isso tudo o excesso de buzinadas inúteis, o não parar na faixa de pedestre, os gestos obscenos dos machões que fazem irresponsabilidades no trânsito e se sentem mais machões ainda quando ofendem além de ser irresponsáveis, a lista começa a aumentar. O desrespeito aos semáforos, às faixas de pedestre e a esperteza daqueles que decoram onde ficam os radares pra poder andar noutros trechos acima da velocidade permitida são coisas tão graves e óbvias que nem preciso discorrer sobre elas. E aí pensamos no ouvir som alto em locais públicos, estacionar em qualquer canto obstruindo calçadas e desrespeitando placas, e soma-se a isso tudo a irresponsabilidade do pedestre.
Enquanto pensava nisso, andava pela cidade de carro com uma reflexão que há tempos venho amadurecendo sobre um comparativo entre a relação do homem com o trânsito e com a cidade. Mais animado ainda fiquei quando soube de um novo livro do antropólogo Roberto DaMatta tratando sobre o tema.
Gentileza gera gentileza. E esse é um dos fundamentos do trânsito que são mais desrespeitados. O soteropolitano dificilmente desacelera o carro pra alguém sair da garagem ou pra que alguém passe em sua frente por necessidade de entrar numa rua ou retorno. Parece que fere a masculinidade (tanto do homem quanto da mulher, no sentido figurado do termo) de quem dirige. Ser ultrapassado, dar passagem é humilhante. Você pode não estar com pressa, pode até andar a 60km/h, mas ao ver a possibilidade de ser ultrapassado, a chance de dar passagem, a situação de alguém saindo da garagem, acelera-se a 80km/h sem piedade.
O descompromisso com o outro também é evidenciado ao não se ligar o pisca alerta para se mudar de pista, entrar nalguma rua ou estacionar. Esse aviso serve a quem vem atrás, ao pedestre que aguarda algum sinal pra saber se pode atravessar, e é comumente ignorado porque o soteropolitano é esperto, ágil e o outro que se dane; faço minha manobra a hora que eu quiser e quem bate no fundo perde a razão e quem morre atropelado é o outro.
Não existe coisa mais irritante, também, do que ver o motorista que, numa pista de 70km/h, anda a 50km/h na pista da esquerda; que é a de velocidade. As pessoas além de descumprirem uma regra, ainda se colocam na postura de “olha como esse irresponsável quer correr, enquanto eu estou correto em dirigir lentamente”. Ora, a pista da esquerda é para ultrapassagem e para a mais alta velocidade permitida pela placa do local. E para completar, diversos são os motoristas que só resolvem passar pra pista correta – a que ele vai precisar estar para entrar numa rua, pra fazer um desvio, pra estacionar – na última hora. Com isso, o trânsito é amarrado. São seguidos os engarrafamentos aparentemente inexplicáveis oriundos de maus e/ou irresponsáveis condutores.
Abrir a janela do carro pra jogar papel fora nem se fala. Parece que o sujeito se sente em seu mundo, dentro do veículo, e o exterior é um limbo abjeto e que não lhe pertence. Se começarmos a somar a isso tudo o excesso de buzinadas inúteis, o não parar na faixa de pedestre, os gestos obscenos dos machões que fazem irresponsabilidades no trânsito e se sentem mais machões ainda quando ofendem além de ser irresponsáveis, a lista começa a aumentar. O desrespeito aos semáforos, às faixas de pedestre e a esperteza daqueles que decoram onde ficam os radares pra poder andar noutros trechos acima da velocidade permitida são coisas tão graves e óbvias que nem preciso discorrer sobre elas. E aí pensamos no ouvir som alto em locais públicos, estacionar em qualquer canto obstruindo calçadas e desrespeitando placas, e soma-se a isso tudo a irresponsabilidade do pedestre.
*Dramaturgo, poeta e ator
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