segunda-feira, 2 de junho de 2014

Terra de todos os nós logísticos


Osvaldo Campos Magalhaes*
Possuindo vantagens competitivas naturais indiscutíveis no setor de logística, como se explica a defasagem da Bahia no que diz respeito à sua infraestrutura de transportes?
Possuindo a maior faixa litorânea do país, como mais de 1.100km, duas extensas baías, ideais para o desenvolvimento do transporte aquaviário e para a implantação de terminais portuários, um dos mais extensos trechos hidroviários, no rio São Francisco e, a segunda maior malha rodoviária federal, como explicar o atraso do Estado da Bahia neste segmento?
A explicação pode estar relacionada à omissão do Governo da Bahia em relação à infraestrutura de transportes do Estado.
Como justificar a não inclusão do aeroporto de Salvador na lista dos aeroportos concessionados ao setor privado? Relacionado entre os aeroportos de maior movimentação de passageiros do Brasil e essencial para o crescimento do setor do turismo, nosso aeroporto se encontra em estado lamentável, entregue à caótica administração da Infraero, empresa que no passado era exemplo de gestão eficiente e que nos últimos dez anos foi levada ao descrédito por sucessivas administrações marcadas pela forte influência político partidária. Enquanto os aeroportos de Brasília, Guarulhos e Viracopos entregam novos e modernos terminais, o de Salvador convive com a falta de ar-condicionado, esteiras quebradas e fétidos banheiros. Lembremos que o aeroporto de Salvador é o único do Nordeste que tem condições de implantar uma segunda pista e, caso tivesse sido concessionado, poderia ter se convertido no principal hub aeroportuário do Norte e Nordeste.
Como justificar o estado de quase abandono dos mais de 1.500 km de ferrovias, que estavam concessionadas à FCA e que foram devolvidas ao governo federal sem qualquer perspectivas de retomada das operações? A devolução do trecho só atendeu aos interesses da Companhia Vale do Rio Doce, controladora da FCA, que além de se desobrigar de realizar investimentos no trecho baiano, ainda foi indenizada e pôde se concentrar nos trechos mais lucrativos em Minas Gerais e Espírito Santo.
E a hidrovia do São Francisco? Outrora conhecido como rio da integração nacional, com grande volume de cargas e passageiros entre Pirapora e Juazeiro, a hidrovia do São Francisco movimentou em 2013 menos de 60 mil toneladas e pode ser totalmente desativada em 2015 caso não sejam realizados investimentos de dragagem e derrocamento no trecho atualmente em operação, entre Ibotirama e Juazeiro. Pela importância para a economia regional, o governo da Bahia deveria seguir o exemplo de São Paulo que obteve a delegação da gestão da hidrovia do rio Tietê, hoje importante corredor de cargas do Sudeste.
Outro exemplo da omissão do Governo da Bahia? A rodovia BR 324, entre Feira de Santana e Salvador.
A concessão foi direcionada para a busca da menor tarifa de pedágio. Uma decisão política e demagógica. Não foram estabelecidas exigências de investimentos à altura da importância da rodovia, como a imediata construção da terceira faixa. A modelagem do edital de privatização afastou as principais empresas do setor, como a baiana Odebrecht. Como resultado, transcorridos mais de cinco anos da privatização, o que se verifica é a ausência de grandes investimentos na rodovia, péssima gestão e enormes engarrafamentos que geram grandes prejuízos para a economia do Estado.
Enquanto em Pernambuco e Ceará, os modernos portos de Suape e Pecém, concebidos dentro do conceito de portos industriais, ou de terceira geração, representam hoje fatores estratégicos para a atração de novas indústrias e desenvolvimento do setor agroindustrial para suas regiões de influência, o governo do Estado da Bahia, transcorridos sete anos, ainda não conseguiu obter a licença ambiental para o Porto Sul em Ilhéus e permite que a CODEBA continue entregue à barganha política que dificulta uma eficiente gestão portuária e a realização de novos investimentos.
Bahia, terra de todos os nós logísticos? Até quando?

*Engenheiro Civil e Mestre em Administração. Membro do Conselho de Infraestrutura da Fieb

Nenhum comentário:

Postar um comentário