Paulo Ormindo Azevedo*
Depois de 50
anos de abandono e algumas intervenções equivocadas, o Centro Antigo precisa de
investimentos. E é assim que se entende a reação de alguns intelectuais a novos
projetos. Mas investimentos dentro de um planejamento urbano para reintegra-lo
à dinâmica da cidade. Não é verdade que a única possibilidade de recuperação de
áreas degradadas seja a verticalização.
Pelo contrario, a verticalização expulsa e
transfere a miséria para a periferia e encostas periclitantes, com a morte da
esperança e dos controles sociais.
Nesses bolsões a melhoria da mobilidade e da
cultura é fundamental. A inclusão de favelas em Medelín e Bogotá se fez com a
instalação do BRT Transmilenio integrado a teleféricos, recuperação de espaços
públicos e construção de enormes bibliotecas. Pouquíssimos moradores foram
deslocados, mas se expropriou o território das máfias, se ocupou os jovens com
a internet e os esportes e se valorizou o patrimônio e
a auto-estima daquelas populações marginalizadas.
A violência urbana foi reduzida para um quinto
da anterior.No Rio de Janeiro se está começando a reproduzir estas experiências
com resultados já palpáveis.
Recuperar o Centro Antigo de Salvador passa
pela reabilitação dos ascensores, pela construção de passarelas ligando o
Pelourinho ao Desterro, o Carmo à Saúde e galerias e elevadores subterrâneos
conectando a estação de metrô do Campo da Pólvora ao Terreiro de Jesus e ao
Comercio.
Passa também pela instalação de escadas
rolantes ligando a Preguiça e a Contorno ao mirante da Praça Castro Alves.
Obras que devem ser complementadas pela criação de um centro cultural dinâmico
no Pelourinho,aproveitando construções abandonadas, como os cines Jandaia,
Excelsior e Pax, este com um estacionamento vizinho subutilizado e dar um uso
cultural ao Solar do Saldanha e não apenas burocrático. A Caixa Econômica e o
Banco do Brasil bancariam esses projetos prazerosamente.
Construir uma arena-de-bolso a um custo
equivalente a 500 casas populares num dos maiores gargalos da cidade, ameaçando
ensurdecer e quebrar as vidraças dos vizinhos,quando temos três arenas
subutilizadas e um Parque de Exposições, que é o único espaço capaz de receber
os festivais carnavalescos baianos é um desperdício.
No mesmo Centro Antigo há projetos mais
interessantes e menos custosos esperando financiamento, como a remodelação de
três largos e um palco retrátil no Pelourinho capaz de eliminar o mafuá que se
arma todo fim de ano e carnaval naquela praça.
Fica a pergunta chave, quem irá bancar e
administrar a nova arena? A Secretaria de Turismo, que não tem nenhuma tradição
neste campo?
Nos últimos 40 anos a cidade foi governada
pela “politica do concreto”, ditada pelas empreiteiras e indústria imobiliária.
Nenhuma obra urbana importante foi realizada, apenas viadutos que ligam um
congestionamento a outro.
São obras de baixíssimo nível técnico.
Não há um só viaduto alinhado com a pista de
acesso ou com concordâncias verticais e super-elevações corretas. Há inclusive
um túnel que não coincide com o viaduto de acesso. A julgar pelas maquetes
exibidas pela Setur, a nova arena descoberta supera tudo em termos de
impropriedade urbanística, arquitetônica, paisagística
e teatral.
Quem conseguirá sentar naquela placa de
concreto voltada para o poente e calcinada durante todo o dia? Qual a companhia
lírica ou sinfônica de respeito irá programar espetáculo sem uma arena
descoberta numa cidade que não tem estações fixas. Não estamos em Roma ou em
Atenas.
Este é mais um elefante branco que se pretende
criar na cidade na onda da Copa, zombando da inteligência de seus cidadãos.
Apesar deter levado a cidade ao fundo do poço,
João Henrique provocou uma reação positiva. A cidadania não aceita mais engolir
sapos. Nunca se discutiu tanto a cidade nas associações profissionais e de
bairros, nos movimentos urbanos, na mídia escrita e falada e em especial nas
redes sociais.
A Arena Castro Alves é a bola da vez. Queremos
investimentos como os sugeridos, mas sem impactos negativos e integrados ao
planejamento urbano.
*Arquiteto, Urbanista e Professor - Artigo publicado no jornal A Tarde -03/02/03
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