As metrópoles são o grande
desafio estratégico do planeta neste momento. Se elas adoecem, o planeta fica
insustentável. No entanto, a experiência internacional - de Barcelona a
Vancouver, de Nova York a Bogotá, para citar algumas das cidades mais verdes - mostra
que as metrópoles se reinventam. Se refazem. Já existem diversos indicadores
comparativos e rankings das cidades mais verdes do planeta. Fora dos países
ricos, Bogotá e Curitiba colocam-se na linha de frente como cases a serem
replicados. Quais são as cidades mais inovadoras atualmente, aquelas que já
estão sinalizando as mudanças para daqui a 25 anos? Por que as metrópoles
contemporâneas compactas - densas, vivas e diversificadas nas suas áreas
centrais - propiciam um maior desenvolvimento sustentável, concentrando
tecnologia, novas oportunidades de crescimento, gerando inovação e conhecimento
em seu território?
As metrópoles são o lócus da diversidade - da economia à ideologia,
passando pela religião e cultura. E diversidade gera inovação. As maiores
cidades do hemisfério norte descobriram isso há alguns anos e têm se
beneficiado enormemente desse diferencial, dessas externalidades espaciais -
inclusive com atração de investimentos. E têm promovido seus projetos de
regeneração por políticas de inovação. Centros urbanos diversificados, em
termos de população e usos, com empresas ligadas à nova economia, têm se
configurado nas novas oportunidades de inovação urbana em áreas anteriormente
abandonadas (caso do Barcelona 22@, San Francisco Mission Bay, além de diversas
áreas em Nova York, Boston ou Londres). As cidades inteligentes, as smart
cities, expressam a necessidade de uma reformulação radical das cidades na era
da economia global e da sociedade baseada no conhecimento.
A capacidade de inovação se traduz em competitividade e
prosperidade. Alguns parâmetros são fundamentais: presença da nova
economia, sistema de mobilidade inteligente, ambientes inovadores/criativos,
recursos humanos de talento, habitação acessível/diversificada e e-governance,
que deverá incorporar sistemas inteligentes e integrados de governo,
transporte, energia, saúde, segurança pública e educação. A democratização
das informações territoriais com os novos sistemas de tecnologia de informação
e comunicação, favorecendo a formação de comunidades participativas, além de
e-governance: serviços de governo inteligente mais ágeis, transparentes e
eficientes, por compartilhamento de informações.
Por fim, devemos ficar atentos às imensas perspectivas que as tecnologias
verdes aliadas à gestão inteligente estão abrindo no desenvolvimento urbano de
novos territórios, sejam novos bairros sustentáveis (por aqui, o pioneiro é o
Cidade Pedra Branca Urbanismo Sustentável em Santa Catarina), sejam cidades
inteiras verdes (Masdar, em Abu Dhabi, desenvolvida por Sir Norman Foster é o
maior exemplo). E as nossas cidades? Decisão política, boas ideias e
competência na gestão urbana sempre serão bem-vindas e algumas cidades atuais
demonstram isso claramente e jogam otimismo no futuro das nossas cidades.
Curitiba iniciou há 20 anos o processo e suas boas práticas devem ser
replicadas cada vez mais, pois a sociedade civil organizada exigirá - como o
sistema integrado de transportes coletivos, destacando-se os corredores de
ônibus expressos ligados a corredores planejados de adensamento, coleta
seletiva de lixo e rede polinucleada de parques.
Nossas duas megacidades, São Paulo e Rio de Janeiro, trazem parâmetros
oportunos importantes. O incrível boom imobiliário atual (terceiro maior do
planeta), aliado à pujança do setor da construção civil e à força econômica de
São Paulo e Rio, além da concentração, rara no Brasil, dos famosos 3T's -
Talento, Tecnologia e Tolerância - defendidos por Richard Florida como
essencial para a inovação urbana pode alavancar as desejáveis reinvenções
dessas cidades. Resta ao nosso mercado imobiliário incorporar melhor as lições
que as cidades campeãs em inovação no mundo estão promovendo ao aliar, à
pujança econômica, modelos urbanístico mais interessantes, com maior
sociodiversidade espacial, como menos condomínios fechados e distantes.
As cidades inteligentes estão chegando
As cidades do futuro serão inteligentes em diversos aspectos.
Uma gestão inteligente do território será capaz de propiciar maior agilidade na
gestão integrada online das diversas mobilidades urbanas. Essencialmente,
transporte público multimodal ágil e competente, como já há em diversas cidades
desenvolvidas, mas também sistemas inteligentes de uso compartilhado de
transporte individual, de bicicletas motorizadas aos smart city cars.
Na verdade, as cidades inteligentes atuarão como um sistema de redes inteligentes
conectadas. É natural que as contínuas inovações em tecnologia da informação e
comunicação propiciem inúmeras revoluções urbanas. Empresas como a IBM (Smarter
Cities), Cisco (Connected Urban Development), Siemens e outras já estão
desenvolvendo programas e os ofertando às cidades. Não há mistério. O século 21
mostra, cada vez mais, a substituição da economia fordista industrial pela nova
economia: de serviços. É óbvio que as cidades do futuro se pautarão assim
também, serão polos numa imensa rede global de conexões inteligentes.
As pessoas serão usuárias dos diversos sistemas e terão, cada vez mais, acesso
online a todos os serviços urbanos, do consumo de água à escolha do posto de
saúde. Do compartilhamento de smart cars à execução de trabalho em lugares
flexíveis, espaços sem dono fixo, compartilháveis.Resta saber como tudo isso
será acessível, democrático, inclusivo. Novamente, olhemos a história das
cidades e lembremos que elas sempre foram o espaço das contradições e conflitos
de suas sociedades. Seria inocente pensar que as inovações tecnológicas do
século 21 propiciarão maior inclusão social e cidades mais democráticas por si
só.
*Arquiteto, mestre e doutor (FAUUSP), pós-doutorado pela California Polytechnic University,
**Trecho do artigo, " Cidades dos Futuro", originalmente publicado na Revista do CAU
**Trecho do artigo, " Cidades dos Futuro", originalmente publicado na Revista do CAU
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