Lourenço
Mueller*
Pois
é, o ditado popular está errado, bom e mau gosto se discutem. Não se pode é
seguir a norma subliminarmente imposta pela Rede Globo que, para defender-se de
programas de extrema mediocridade e mau gosto como o BBB, fomenta este medo da
discordância, essa unanimidade burra – e conheço intelectual que está “embarcando”
nessa de não discordar para não parecer antipático – como se polemizar fosse
politicamente incorreto. “ah, o cara é
muito chato e discorda de tudo”, tenho ouvido isso, como se fosse rabugice do
sujeito que tem coragem de proferir e preferir o dissenso.
Discutir
a opinião do outro é até sinal de respeito, uma provocação intelectiva que dinamiza
sobretudo que pode superar a mesmice dominante.
Do
meu lado procuro ouvir os outros. Sugerem-me temas, discordam ou concordam, e
tenho constatado que estou sendo lido até por políticos e pessoas que decidem,
numa época em que não mais se lê.
Para
discutir opiniões quero lembrar a entrevista do novo diretor da Fundação
Gregório de Mattos, Fernando Guerreiro, na Radio Educadora no último dia 10,
onde ele expressa o Carnaval como questão cultural e afirma que sua “beleza
plástica se perdeu”. Também “bate” na cultura qualificando a municipal como “terra
devastada”.
Concordo
e discordo desse brilhante diretor de teatro que dirigiu Frank Menezes em O
indignado e aproveito para desejar-lhe uma bela gestão, já não era sem tempo, a
Fundação foi entregue por último a simpático puxa-saco, mas medíocre em todos
os sentidos e incapaz de dar àquela instituição a grandeza que merece.
Continuo
encontrando “beleza plástica” no carnaval dos blocos de trio, não é porque são burgueses
que ficam feios. O carnaval de Dodô e Osmar foi feito sem cordas, enfrentou
esta mesma “zelite” (com licença, mestre Ubaldo, pelo termo tão oportuno) no
vagalhão da fóbica contra o desfile de carros alegóricos dos clubes de então, o
Fantoches da Euterpe, o Cruz Vermelha e o Inocentes em Progresso com sua banda
tocando ária de ópera Verdi, enquanto cavaleiros fantasiados, arautos de uma
realeza ilegítima, cavalgavam animais imponentes na frente do carro alegórico,
com sua rainha e princesas jogando beijos, confetes e serpentinas para as
pessoas sentadas em cadeiras em plena Rua Chile. O “pau elétrico” e a guitarra
tocando um frevo e subindo a praça do poeta esmagaram o som da banda e este foi
o desastre simbólico de uma revolução social, o povo empurrando a “fóbica” e a
própria felicidade, as também derrubando a baiana do acarajé e foi gente
queimada por todo lado, me contou o próprio Osmar Macedo: a dupla elétrica
tinha chegado para ficar.
Alguém
me disse uma vez que não brincava Carnaval porque Carnaval é coisa séria e não
se brinca com coisa séria; tem razão se atentarmos para a quantidade de gente
que ganha um dinheiro informal com ele e outros que ganham um dinheirão nem
sempre formal, também com ele. É bem verdade que esse cara caía na “coisa séria”
no sábado e só tirava a “camisa listada” nas Cinzas. Mas isso é passado
saudosista...
Lourenço
Mueller é arquiteto, urbanista e articulista do jornal A Tarde.
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