quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Um projeto ilegítimo

Armando Branco*
Acreditar, em pleno século XXI, que obras urbanísticas "mudam" as cidades sem discutir com a população um programa de necessidades, etapa que antecede estudos urbanísticos e quando deve incorporar estruturas de controle social é, antes de tudo, desrespeitar a cidadania e manter o "status quo" dos interesses econômicos junto aos governantes das cidades.
Como a correlação de forças em Salvador tem pesado mais para os proprietários fundiário e imobiliário, estes sim, que estão mudando e segregando a cidade para pior, com um PDDU que eleva a densidade construtiva não representando melhoria na qualidade de vida, não é à toa a relação de obras no artigo de domingo, "Uma utopia de lugar".
Diversas são as intervenções urbanísticas realizadas em Salvador sem se discutir com a população além de não utilizar o concurso público, muito mais democrático para melhor circulação de ideias. Perpetua-se a exclusãoõ social e segregação urbanística.
O discurso de "mudança para o futuro" na Cidade Baixa será o mesmo: maior destinação de recursos para áreas infraestruturadas que para as dos moradores pobres, maioria desta cidade, embora para a Copa da Fifa, obras escondendo as injustiças sociais e distantes de um processo pedagógico urbanístico que processe mudanças nas relações entre administração e o povo na construção do lugar.
Um processo urbanístico preliminar é um " modelo pronto" definido por processos que a sociedade desconhece e sem a legitimidade expressa no Estatuto da Cidade. Por que não discutir a orla do subúrbio onde se contribuiria com inclusão urbanística e melhores padrões de de vida? Repete-se a velha prática das áreas centrais receberem mais recursos em detrimento dos bairros mais distantes do centro de decisão. A participação exige esforços na imposição de um presente - não futuro - de cidade e uma prática permanente.
Isto requer mudanças de ideias de gestores públicos e projetistas. Há que se superar a descrença com a prática da administração de Salvador. Até agora a discussão democrática tem sido um simulacro.
* Armando Branco é arquiteto e professor de planejamento urbano.
Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde de 04/02/2010, pg. 3 - Opinião

Um comentário:

  1. Armando Branco conhece Salvador na palma da mão . É um professor competente e conceituado.Não é deses que alugam a alma para receber benefícios. Profissional competente como poucos.
    Por que esses urbanistas não são convidados , pelo poder público municipal , para darem suas abalizadas opiniões?

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